quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Exposição à queima de canaviais afeta superfície ocular


Uma tese de doutorado da Faculdade de Medicina da USP revelou que a queima de plantações de cana-de-açúcar prejudica a superfície dos olhos de cortadores. Os primeiros sintomas são de irritação ocular, ocasionando maior propensão a infecções. O estudo avaliou 22 cortadores de cana de Tatuí/SP que trabalhavam em um canavial do noroeste paulista e 19 moradores da cidade.
Avaliação
O trabalho foi realizado durante o período de entressafra e safra (de maio a novembro, quando ocorrem as queimadas), baseando-se em questionários, exames clínicos e avaliação histológica (dos tecidos biológicos). Durante o período de queima, observou-se a diminuição do muco ocular dos cortadores. A complicação interfere na estabilidade do filme lacrimal, importante por promover a nutrição, oxigenação, proteção e lubrificação dos olhos. "As células produtoras de muco são importantes porque promovem a limpeza e participam da lubrificação ocular, por reter a água para que o olho não fique ressecado", comenta a pesquisadora Monique Matsuda, em entrevista à Agência USP. Com menos muco e o filme lacrimal instável, os olhos dos trabalhadores ficam mais expostos a agentes externos, como poluentes atmosféricos por exemplo.
Riscos ampliados
Além dos efeitos a curto prazo, existe a possibilidade de que a exposição prolongada contribua para o surgimento de doenças oculares. Estudos realizados em outros países já associam a exposição à queima da biomassa ao aumento na prevalência de cataratas e tumores oculares, de acordo com Monique. Além disso, o material particulado proveniente da queima continua por meses no local e pode ser transportado por quilômetros, afetando a população que reside nas proximidades dos canaviais. "Durante as queimadas, registros apontam um aumento no número de pessoas que moram perto das plantações que procuram atendimento ambulatorial por causa de complicações respiratórias", afirma a pesquisadora.
Pesquisa
A pesquisa foi realizada em conjunto com o Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental do Departamento de Patologia da FMUSP, sob a orientação do professor Paulo Hilário Nascimento Saldiva, e foi parte de um projeto central coordenado pelo professor Ubiratan de Paula Santos, do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP. O próximo passo do grupo de pesquisa agora é analisar as alterações encontradas nos mecanismos oculares dos cortadores de cana, possibilitando a sugestão de medidas de proteção aos trabalhadores.
Fonte: Redação Revista Proteção
Foto: Arquivo SESMT

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