terça-feira, 29 de março de 2011

Educação tijolo a tijolo


Há 20 anos, o projeto Escola Zé Peão alfabetiza trabalhadores da construção civil em João Pessoa.

Com certa dificuldade, a ponta do lápis desenha as primeiras letras no caderno apoiado no canto da mesa. Aos poucos, o projeto Escola Zé Peão reescreve o futuro dos trabalhadores da construção civil em João Pessoa. Somam-se mais de oito mil alunos que adquiriram os instrumentos da escrita e da leitura. Este ano, são 14 salas de aula, 14 professores e cerca de 240 alunos. Uma oportunidade para eles, uma lição de cidadania para todos.

O Zé Peão é uma iniciativa do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil e do Mobiliário de João Pessoa (Sintricom/JP) em parceria com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Iniciado em 1991, configura-se como uma estratégia de alfabetização do trabalhador. Desde 2003, o projeto faz parte do programa do Governo Federal “Brasil Alfabetizado” através da Prefeitura Municipal de João Pessoa.

De março a novembro, os trabalhadores da construção recebem aulas das 19h às 21h no próprio canteiro de obras, em salas construídas pelas construtoras cadastradas no projeto. “As aulas são de segunda a quinta-feira, pois vários operários voltam para o interior nas sextas”, explica Zezinha Moura, coordenadora pedagógica do Zé Peão. Há regularidade das aulas desde o início do programa que, neste ano, começou no último dia 15.

As empresas cadastradas se responsabilizam pelo ambiente de sala de aula, devidamente iluminado e mobiliado. Em contrapartida, o Sintricom oferece a estrutura de material escolar, quadros e professores. Os docentes são alunos de licenciatura da UFPB, na maioria dos casos, graduandos em Pedagogia. “Após se candidatarem ao Edital, eles passam por um curso preparatório de 45 horas e os que têm mais compromisso, são selecionados”, comenta.

Para Marilene Dácio, professora cadastrada no programa, o retorno vai além do aprendizado. “Como futura docente, me sinto privilegiada em contribuir para que essas pessoas possam exercer a cidadania com plenitude”, assegura.

Aprendizado para a vida.

Em janeiro, uma avaliação diagnóstica selecionou os operários que se candidataram para participarem do Zé Peão. As matrículas limitam, no máximo, 20 e, no mínimo, 15 alunos por turma. Em todas as sedes, há uma sala de aula dividida entre trabalhadores da obra-sede e da região. Segundo Zezinha Moura, a matrícula fica aberta o ano inteiro, havendo vagas, os alunos poderão começar a aprender na hora que desejarem. “Hoje, o mercado quer um operário com escolaridade. A educação deles representa também o surgimento de uma preocupação com a escolaridade dos filhos”, afirma.

Questões de auto-estima, saúde, segurança no trabalho e respeito às diferenças também são assuntos discutidos em sala de aula. O operário José Cândido está em seus primeiros dias no curso. Ele jamais estudou e assegura que esta é uma oportunidade para crescer, inclusive, no mercado de trabalho. “Tentar ler e não conseguir é muito difícil. Estou tentando aprender agora, por que é importante para meu trabalho, mas também para tudo na vida”, diz.

De acordo com o estagiário de Engenharia de uma obra-sede, Felipe Cordeiro, para os cursos profissionalizantes de pedreiro e carpinteiro, por exemplo, o domínio da leitura é essencial. “Eles precisam saber ler os projetos, do contrário, não podem fazer os cursos e ascender na profissão”, finaliza.

Sintricom
Tel.: (83) 3513-9283
Maria Livia Cunha
marialiviacunha.pb@dabr.com.br

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