quinta-feira, 12 de julho de 2012

Roteiro mistura história e degustação de cachaça pelo interior da Paraíba



Eduardo Vessoni
Do UOL, na Paraíba*

Os efeitos colaterais são visíveis. Os olhos quase não piscam diante de cada um dos detalhes sobre engenhos e escravidão; o sorriso parece não caber na boca com as deliciosas histórias contadas sobre tempos passados; e o corpo começa a ficar mais relaxado logo após a segunda degustação de cachaça. Esses são alguns dos (agradáveis) sintomas para quem realiza a rota 'Caminhos dos Engenhos', no interior da Paraíba.
Pode parecer história de fazendeiro exagerado, mas bem longe da cobiçada costa litorânea paraibana o viajante encontra um inesperado roteiro turístico que inclui visita a antigos engenhos produtores de cachaça, casario histórico bem preservado e um clima de interior com direito até a friozinho serrano.

Localizada no Brejo paraibano, uma microrregião daquele estado formada por serras e vales, Areia é uma das principais portas de entrada. Esse pequeno município de 23 mil habitantes, que no século 17 servira de parada de tropeiros que seguiam para o sertão nordestino, abriga um belo conjunto arquitetônico declarado Patrimônio Histórico Nacional, em 2005.

É lá que estão o Teatro Minerva, obra de 1859 considerado o primeiro teatro da Paraíba, a casa onde nasceu Pedro Américo, o artista que pintou o famoso 'Grito do Ipiranga', e dezenas de casarões do período em que a região era formada por engenhos de açúcar.

Areia abriga os primeiros engenhos da Paraíba a contarem com máquinas a vapor.
Outro dado curioso é que essa cidade de tendências abolicionistas antecipou-se à Lei Áurea e, dias antes, libertou os últimos escravos que trabalhavam na região. O que não deve faltar são altas doses de boas histórias contadas nos engenhos locais visitados. Moderação só no nível de álcool ingerido.

Estabelecimentos como o Engenho Triunfo, estabelecimento que produz 250 mil garrafas por mês e que ficou conhecido pela produção natural que não utiliza nenhum produto químico, e o Engenho Vaca Brava, um engenho histórico de 1860 administrado pelo divertido e falante Aurélio Leal Freire.

Se depender do 'Seu' Aurélio, o engenho deve continuar como nos velhos tempos das máquinas francesas compradas na década de 50. “Enquanto eu estiver vivo, ninguém tira essas ferragens daqui. É um maquinário histórico”, ameaça com tom de voz mais elevado o simpático senhor de mais de 80 anos.
Eduardo Vessoni/UOL
A cachaça Rainha é fabricada no Engenho Goiamunduba desde 1877 e é um clássico da Paraíba

Sem dúvida, esse é um dos pontos máximos da viagem pela zona rural da região. O proprietário, cujo estabelecimento recebe os visitantes de forma improvisada (mas não menos acolhedora) pois ainda não possui estrutura voltada para o turista, é capaz de dar um show na hora de contar histórias da época de José Rufino, personagem local que morou em uma casa equipada com uma senzala, e ao descrever, detalhadamente, o processo caseiro de preparação da sua cachaça.

A vizinha Bananeiras, a quase 30 km dali e a 552 metros sobre o nível do mar, é outro destino que merece uma visita. Esse município de passado colonial, recortado por ladeiras e sobrados do século 19, foi o maior produtor de café de toda a Paraíba e abriga um casario com 80 construções catalogadas pelo IPHAEP.

A região abriga também o histórico engenho Goiamunduba que, desde 1877, fabrica a cachaça 'Raínha', um clássico da Paraíba. A cidade ainda conta com outras construções históricas como um túnel de trem de 1922 e um cruzeiro do final do século 19 localizado a 507 metros de altura, além da Cachoeira do Roncador, uma queda d'água de 45 metros.

Entre julho e agosto, quando a região chega a registrar temperaturas de até 12°, o Brejo paraibano serve também de cenário para o evento 'Caminhos do Frio'. Areia, Bananeiras e Alagoa Grande são algumas das cidades que recebem os visitantes com atividades como exposições de artesanato, apresentações de dança e de grupos folclóricos, shows de forró pé-de-serra, oficinas culturais e passeios como trilhas e visita aos engenhos locais.

Se depender do alto número de histórias contadas sem moderação, o visitante deve deixar a região viciado por uma das mais agradáveis opções turísticas e históricas de toda a Paraíba.

'Caminhos dos Engenhos' é roteiro turístico embriagante pelo interior da Paraíba

O centro histórico de Areia, município de 23 mil habitantes do interior da Paraíba, abriga um belo conjunto arquitetônico declarado Patrimônio Histórico Nacional, em 2005. A cidade, um dos destinos históricos da rota 'Caminhos dos Engenhos' servia de parada de tropeiros que seguiam para o sertão nordestino e, anos mais tarde, abrigou diversos engenhos produtores de produtos derivados da cana-de-açúcar

O centro histórico de Areia, município de 23 mil habitantes do interior da Paraíba, abriga um belo conjunto arquitetônico declarado Patrimônio Histórico Nacional, em 2005. A cidade, um dos destinos históricos da rota 'Caminhos dos Engenhos' servia de parada de tropeiros que seguiam para o sertão nordestino e, anos mais tarde, abrigou diversos engenhos produtores de produtos derivados da cana-de-açúcar

O centro histórico de Areia, município de 23 mil habitantes do interior da Paraíba, abriga um belo conjunto arquitetônico declarado Patrimônio Histórico Nacional, em 2005. A cidade, um dos destinos históricos da rota 'Caminhos dos Engenhos' servia de parada de tropeiros que seguiam para o sertão nordestino e, anos mais tarde, abrigou diversos engenhos produtores de produtos derivados da cana-de-açúcar

Fachada de uma das construções do interior do Engenho Vaca Brava, na área rural de Areia, a 53 km de Campina Grande, no Brejo paraibano. Inaugurado em 1860, o local é considerado o engenho mais antigo da região e possui 525 hectares

Detalhe de uma das portas do Engenho Vaca Brava, considerado um dos estabelecimentos do tipo mais antigos da região. O atrativo está localizado na área rural de Areia, a 53 km de Campina Grande

Compradas em 1952 em Alagoas pelo atual proprietário do engenho Vaca Brava, essas máquinas de origem francesa funcionam até hoje na fabricação de cachaça, na área rural de Areia, no interior da Paraíba

Compradas em 1952 em Alagoas pelo atual proprietário do engenho Vaca Brava, essas máquinas de origem francesa funcionam até hoje na fabricação de cachaça, na área rural de Areia, no interior da Paraíba

Funcionários descarregam bangue, uma espécie de padiola usada para o transporte de bagaços de cana-de-açúcar, no Engenho Vaca Brava, em Areia. Essa cidade histórica, a 53 km de Campina Grande, é famosa por seus casarões centenários da época dos engenhos produtores de cachaça, no interior da Paraíba

Funcionário descarrega bangue, uma espécie de padiola usada para o transporte de bagaços de cana-de-açúcar, no Engenho Vaca Brava, em Areia. Essa cidade histórica, a 53 km de Campina Grande, é famosa por seus casarões centenários da época dos engenhos produtores de cachaça, no interior da Paraíba

A cachaça produzida no Engenho Vaca Brava, um estabelecimento de 1860, é armazenada em barris de umburana com capacidade de 25 mil litros (à esquerda) ou de de jequitibá (à direita), cujo armazenamento é de 30 mil litros. Essas e outras etapas da produção de cachaça podem ser vistas no roteiro 'Caminhos dos Engenhos', em Areia, no interior da Paraíba

Em Areia, no interior da Paraíba, o açúcar mascavo é preparado nessas formas conhecidas como Pão de Açúcar, em que o mel de cana repousa por duas horas até cristalizar e se transformar em mel de ferro (nome dado ao líquido que sobra). O processo completo dura oito dias e pode ser visto por turistas na área rural de Areia, a 53 km de Campina Grande, no Brejo paraibano

'Seu' Aurélio é um dos proprietários do Engenho Vaca Brava, um estabelecimento histórico de 1860, localizado na área rural de Areia, no interior da Paraíba. A região possui um roteiro chamado 'Caminhos dos Engenhos', cujos destaques são os engenhos históricos e o casario preservado da época

A igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, erguida em 1902, é um dos edifícios históricos de Areia, município do interior da Paraíba que possui um conjunto arquitetônico declarado Patrimônio Histórico Nacional

A Igreja do Rosário dos Pretos, construída por escravos na segunda metade do século 19, é considerada a mais antiga de Areia, município do interior da Paraíba que possui um conjunto arquitetônico declarado Patrimônio Histórico Nacional

Interior do Teatro Minerva, um dos destaques do centro histórico de Areia, no Brejo Paraibano. Construído em 1859, o atrativo já se chamou 'Recreio Dramático' e é considerado o primeiro teatro da Paraíba

Interior do Teatro Minerva, um dos destaques do centro histórico de Areia, no Brejo Paraibano. Construído em 1859, o atrativo já se chamou 'Recreio Dramático' e é considerado o primeiro teatro da Paraíba

Vista geral de Areia, cidade do Brejo paraibano, a 53 km de Campina Grande, que no século 17 serviu de parada de tropeiros que seguiam para o sertão nordestino. Atualmente, o município abriga um belo conjunto arquitetônico declarado Patrimônio Histórico Nacional

Dona Vitorinha, como é conhecida Maria das Vitórias Silva, é filha de uma escrava fugitiva de Areia, uma das cidades que fazem parte do roteiro 'Caminhos dos Engenhos', no Brejo paraibano, no interior da Paraíba

Interior de um sobrado de Areia, na Paraíba, construído no final do século 19 com portas e pisos trazidos de Portugal. O local, que atualmente funciona como uma loja de armarinhos, abriga um belo conjunto arquitetônico declarado Patrimônio Histórico Nacional, no Brejo paraibano, a 53 km de Campina Grande

Detalhe de um dos alambiques do Engenho Triunfo, uma das paradas de quem percorre o roteiro 'Caminhos dos Engenhos', no interior da Paraíba. A cachaça, resultado da evaporação a 78 graus do vinho da cana-de-açúcar, é o produto principal da região e seus fabricantes abrem as portas de seus estabelecimentos para visitas com fins turísticos, em Areia, a 53 km de Campina Grande

Detalhe de uma das etapas de preparação da cachaça em engenho de Areia, cidade histórica a 53 km de Campina Grande, no interior da Paraíba

Bananeiras, a 71 km de Campina Grande, no interior da Paraíba abriga um casario com 80 construções históricas, como a Igreja Nossa Senhora do Livramento, cuja obra foi concluída em 1861

Bananeiras, a 71 km de Campina Grande, está a 552 metros sobre o nível do mar e é outro destino que faz parte de roteiros históricos do interior da Paraíba. Esse município de passado colonial, recortado por ladeiras e sobrados do século 19, foi o maior produtor de café de toda a Paraíba e abriga um casario com 80 construções catalogadas pelo IPHAEP

Fachada da antiga estação de trens de Bananeiras, cidade serrana e histórica do interior da Paraíba. O local, que passou a receber trens a partir de 1922, foi transformado em um hotel

Túnel de 202 metros escavado em Bananeiras, em 1922, para que os trens chegassem a essa cidade do interior paraibano, na primeira metade do século passado. Nas festas juninas, o local é transformado em um salão de forró, a 71 km de Campina Grande

O Cruzeiro de Roma é um dos pontos turísticos de Bananeiras, no interior da Paraíba. Erguido em 1899, o monumento é uma homenagem que um proprietário rural fez à Sagrada Família pela concretização de um pedido feito por ele. Localizado a 507 metros de altura, o local ainda conta com uma capela

O nome de pessoas que tem seus pedidos realizados são escritos nas folhas das plantas localizadas aos pés do Cruzeiro de Roma, em Bananeiras, a 71 km de Campina Grande

Fachada do Engenho Goiamunduba que, desde 1877, fabrica a cachaça 'Raínha', um clássico da Paraíba. Essa é uma das paradas obrigatórias para quem visita essa região histórica do interior desse estado nordestino, como Bananeiras e Areia

A cachaça Rainha é fabricada no Engenho Goiamunduba desde 1877 e é um clássico da Paraíba. O local é uma das paradas obrigatórias para quem visita essa região histórica do interior desse estado nordestino

Bananeiras, município histórico a 71 km de Campina Grande, possui o primeiro campo de golfe da Paraíba, localizado no interior do hotel Serra Golfe

Bananeiras, município histórico a 71 km de Campina Grande, é um dos destinos históricos que merecem uma visita no interior da Paraíba. Esse município de passado colonial, recortado por ladeiras e sobrados do século 19, foi o maior produtor de café de todo a Paraíba e abriga um casario com 80 construções


Serviço


As principais cidades que formam o roteiro, localizadas no norte da Paraíba, estão próximas a Campina Grande, a 120 km da capital João Pessoa, e podem ser visitadas de forma independente, de carro, ou com o acompanhamento de guias contratados nas agências de João Pessoa ou Campina Grande.


Em Areia
Pousada Aconcheg'art
Rua Prof. Xavier Júnior, s/n.
Tel: (83) 8713-1265 / 9987-4265
 
Pousada Luiz Soares
Rua Farmacêutico Cícero Barros, 55
 
 
Em Bananeiras
Eco Spazzio Tropical
Av. Aluízio Barbosa s/n (Campus Universitário)

Tel: (83) 9602 – 6185
 
Serra Golfe Apart Hotel
Rua Coronel Antônio Pessoa, 414 (Centro)
Tel: (83) 3367-1103 / 3367-1441


Caminhos do Frio

Entre julho e agosto, quando a região chega a registrar temperaturas de até 12°, o Brejo paraibano serve também de cenário para esse evento de inverno com um extensa programação. Areia, Bananeiras e Alagoa Grande recebem os visitantes com atividades como exposições de artesanato, apresentações de dança e de grupos folclóricos, shows de forró pé-de-serra, oficinas culturais e passeios como trilhas e visita aos engenhos locais.

Bananeiras

O patrimônio arquitetônico desse município a 71 km de Campina Grande é formado por 80 construções históricas catalogadas como o edifício de 1835 que abriga os Correios, a Igreja Nossa Senhora do Livramento (1861), um túnel de 1922 que abrigou a estrada de ferro local e o Cruzeiro de Roma, uma construção erguida em 1899 por um proprietário rural que pagava uma promessa.

Centro Histórico de Areia

O local é compacto e pode ser visitado, a pé, em um passeio de meio dia.

Essa cidade a 53 km de Campina Grande abriga construções interessantes que valem a visita como o Teatro Minerva, de 1859; o Casarão José Rufino, casa colonial de 1818 que abriga 12 senzalas e serve, atualmente, como centro cultural com peças de artistas locais e objetos históricos.

Engenho Vaca Brava

Localizado na área rural de Areia, esse é considerado o engenho mais antigo da região e possui 525 hectares. Foi inaugurado em 1860, mas não possui estrutura para receber, formalmente, os turistas. Os proprietários recomendam a contratação de alguma agência turística de Campina Grande para a visitação.

Engenho Triunfo

O local, que funciona com fins turísticos desde 1994, oferece um tour de 1h30 que inclui visita a diversas etapas de produção da cachaça e degustação de alimentos como sorvete e trufa recheada com aguardente.

Zona Rural de Areia (acesso pela estrada PB 079.

Tel: (83) 3362-2390 / (83) 9931-9861

Entrada paga


* O jornalista Eduardo Vessoni viajou a Paraíba a convite da TAM (www.tam.com.br) e do Parayba Convention Bureau Campina Grande e Região (www.parahybaconvention.com.br)
http://viagem.uol.com.br/ultnot/2012/07/11/roteiro-caminhos-dos-engenhos-mistura-historia-e-degustacao-de-cachaca-pelo-interior-da-paraiba.jhtm


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