quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Os Einsteins do chão de fábrica


O desemprego entre os jovens é o dobro do índice geral, no brasil. Mas isso não se aplica a boa parte dos que apostaram no ensino técnico. Hoje, muitos deles são disputados pelas empresas. 

Por Rosenildo Gomes FERREIRA

Entre os dias 12 e 18 de novembro, um grupo formado por 638 estudantes de todo o País se reunirá em São Paulo para disputar a edição 2012 da Olimpíada do Conhecimento. Mais que um torneio que avalia a habilidade e o desempenho em 54 profissões, a competição, promovida pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), funciona como uma vitrine do que o País tem de melhor no chamado ensino profissionalizante. Para os jovens, é a chance de “carimbar o passaporte” para a disputa mundial, a WorldSkills, na qual o Brasil vem fazendo bonito nos últimos anos. 

Na edição 2011, realizada em Londres, os representantes brasileiros ficaram na segunda posição, atrás apenas dos colegas da Coreia do Sul.
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Medalha de ouro: vida profissional do campinense Freitas decolou
após ele vencer um torneio profissional, em Londres.

Quem passa por esses funis, tanto na etapa nacional como na internacional, transforma-se numa espécie de “Einstein do chão de fábrica”, por aliar conhecimento teórico e técnico de alto nível

Tão importante quanto esse reconhecimento é que os estudantes que se dão bem na competição passam a ser disputados pelas empresas. É o caso de Mateus Benedetti Freitas, de Campinas, no interior de São Paulo, ganhador da medalha de ouro em eletrônica em 2009. “O curso técnico me ajudou a entender a rotina de uma empresa”, diz Freitas, que trabalha como técnico de processos na coreana Samsung. “Isso é importante diferencial para quem pretende ingressar no mercado de trabalho.”
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Óleo e tecnologia: o paulista Luiz (abaixo) se mudou para o Rio de Janeiro, onde atua no setor de petróleo. Já o catarinense Barbosa transformou o hobby em informática em profissão.

Aluno do terceiro ano de engenharia da Pontifícia Universidade Católica (PUC), Freitas faz parte de um seleto grupo que enxergou na formação técnica um atalho para o primeiro emprego. Apesar das evidências – cerca de 90% dos egressos de instituições como o Senai conseguem emprego na área desejada –, apenas 6,6% dos jovens brasileiros, entre 15 e 19 anos, optam pela formação técnica no nível secundário. Nos Estados Unidos e na Europa essa taxa chega a 50%. Para o diretor-geral do Senai, Rafael Lucchesi, esse fenômeno é fruto do modelo educacional brasileiro, que tem uma forte vertente academicista. “Não havia um incentivo à graduação técnica, pois se partia do princípio de que todos os jovens irão para a faculdade”, afirma Lucchesi.

A prática mostra, no entanto, que somente 14% dos que concluem o segundo grau seguem estudando. O resultado disso se traduziu, nos últimos anos, no fenômeno batizado pelos especialistas como “apagão de mão de obra”. É fácil encontrar alguém que já penou para conseguir contratar um eletricista, um marceneiro ou um pedreiro para fazer um conserto ou uma reforma em sua casa. Mais: um dos motivos apontados para a desaceleração do ritmo da construção civil foi a falta de pedreiros, mestres de obras e operadores de máquinas. “O Brasil vive uma situação duplamente ruim”, diz o economista John Schulz, sócio-fundador da BBS Business School, de São Paulo. “Faltam tanto técnicos de nível médio quanto de nível superior.”
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Se nada for feito, a situação só tende a piorar. O Mapa do Trabalho Industrial 2012, elaborado para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), indica que, no período 2012-2015, serão necessários 7,2 milhões de técnicos em 177 áreas distintas. 

Em muitas delas, o salário inicial é de R$ 2,1 mil, de acordo com Lucchesi. O lado bom dessa história é que essas profissões (veja as mais cobiçadas no quadro abaixo) podem se constituir em uma porta de entrada segura para quem deseja ingressar no mercado. Principalmente no caso dos jovens entre 16 e 24 anos, faixa etária na qual o nível de desemprego é de 13%, o dobro da registrada no País. Uma das explicações para essa distorção é a falta de qualificação. Problema que nunca afetou o paulista Fernando José Mangili Luiz.
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Lucchesi, diretor do Senai: segundo ele, 90% dos jovens que passam pelos cursos da instituição conseguem emprego nas áreas desejadas. Em muitos casos, o salário inicial chega a R$ 2,1 mil.

Nascido em Bauru, ele vive hoje no Rio de Janeiro, onde atua como projetista de tubulações para prospecção de petróleo na Subsea 7. “Desde o início dos cursos tenho sido contratado para fazer projetos”, afirma. Assim como o campineiro Freitas, ele se sagrou campeão da WorldSkill, na edição realizada no Canadá, em 2009, na categoria desenho mecânico em CAD. Para dar vazão à crescente demanda do País por técnicos, a direção do Senai está expandindo sua rede de escolas. A meta é ampliar o número anual de matrículas de 2,5 milhões para quatro milhões, até o final de 2014. Hoje, os cursos são realizados em 900 unidades e 300 escolas-móveis, além das cerca de 100 indústrias conveniadas. 

“Cobrimos 2,6 mil municípios”, afirma Lucchesi. O alvo são os jovens como o catarinense Natã Miccael Barbosa.

Desde a infância ele era apaixonado por informática. O desejo de montar e desmontar computadores o levou a se matricular em um curso técnico no Senai, quando completou 17 anos. Três anos depois, em 2011, foi para Londres, onde bateu 28 colegas da Coreia, da China e dos Estados Unidos, entre outros países, no WorldSkill de Londres. Hoje, ele atua no desenvolvimento de softwares para a cadeia de suprimentos da Neogrid, em Joinville, no norte de Santa Catarina. À noite, frequenta o curso de sistemas de informação na Universidade Católica de Santa Catarina. Assim como acontece com seus colegas, as despesas com a faculdade são pagas pelo Senai. “A opção pelo curso técnico me garantiu uma carreira sólida na área que sempre pensei em atuar”, diz Barbosa.
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