segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Prevenir é melhor do que indenizar

Investimento com prevenção de acidente do trabalho pode custar R$ 200 por funcionário e ainda ser um gasto mínimo comparado aos transtornos das indenizações.

Na última quinta-feira, 3, acidente que causou a morte do operário de construção civil Flávio Soares da Costa, 37 anos, gerou polêmica em Goiás. 

Por falhas na segurança, Flávio morreu após cair do 13º andar do edifício onde trabalhava. Custo médio do pacote básico com equipamentos de proteção individual pode variar entre R$ 200,00 e R$ 300,00 por funcionário. Já valor das indenizações por acidentes de trabalho variam pelo tipo dos casos, pelas condições adversas ou de acordo com decisão judicial. No entanto, podem passar de R$ 15 mil reais além de outros gastos administrativos para as empresas.

Influente na área, o professor de engenharia e segurança do trabalho pela PUC Goiás, Cristiano Leão se surpreende com o acidente ocorrido, recentemente. “É atípico para a atualidade ocorrer um acidente assim, pois, empresas de grande porte geralmente estão preocupadas com a imagem pública e sabem o impacto que um fato assim pode causar nos negócios”, comenta.

Professor nota que empresas de pequeno porte se preocupam menos com a segurança de seus funcionários. Ele afirma que de um lado, as grandes empresas investem em segurança para evitar polêmicas e cobram de seus funcionários para se precaverem. Do outro lado, os trabalhadores também reconhecem seus direitos e buscam zelar pela vida.

“O número de acidentes no trabalho é proporcional ao nível de informação que as pessoas demonstram em relação à segurança. Ações das empresas precisam estar voltadas para uma gestão ativa, com prevenções, e não reativa, depois dos acidentes. Não é falta de investigação, porque a lei brasileira é relativamente rígida. Se isso acontece, pode ter sido em função de falta de conhecimento por uma das partes”, argumenta Cristiano.

Sem acidentes

Há 12 anos, a construtora Pontal Engenharia não registra nenhum acidente envolvendo funcionários, batendo seu próprio recorde de segurança e saúde do trabalho. O engenheiro civil da incorporadora, Wesley de Andrade Galvão, explica que a meta da empresa é manter um sistema de gestão preventiva adotando medidas de inovação para a qualidade do serviço.

O engenheiro não dispõe de dados específicos para investimentos em segurança. 

Disse: "mensalmente, a empresa aplica mais de R$ 1 milhão para aquisições de equipamentos para evitar danos aos operários. Construtora tem uma parceria com o Sesi para a realização do programa ergonômico De olho na postura, com micro pausas no qual os trabalhadores são instruídos a agirem de forma mais adequada na execução dos serviços".

“Nossa preocupação é atingir um estado de boa saúde dos funcionários. Além disso, diariamente, eles são acompanhados por consultores, fisioterapeutas, massagistas entre outros profissionais de saúde para prevenção de lesões, doenças e acidentes”, comenta Wesley, que também é concluinte do curso de Engenharia em Saúde e Segurança do Trabalho.

Operador de betoneira da Pontal, Jailson Rodrigues da Silva, 30 anos, lembra que a cada dois meses, todos os funcionários passam por cursos de “reciclagem de serviço”, ou seja, recebem aulas para renovarem as técnicas das funções que realizam, e ainda fazem exames médicos periódicos. Ele menciona ainda que, há poucos dias, recebeu uma cinta lombar readaptada, utilizada para manter a postura ereta enquanto realiza os trabalhos.

“A cinta lombar é um dos melhores equipamentos que temos, porque permite fazer o serviço sem ficar incomodado com dores na coluna. E não é só isso, porque todo dia, antes de usarmos os equipamentos de proteção individual (EPIs), tudo é conferido pela avaliação dos técnicos e dos engenheiros de segurança e só depois, liberado. Se vemos alguma coisa estragada, logo em seguida, repassamos para que os responsáveis as troquem por melhores”, conta o operário.

Estatísticas

De acordo com o mais recente Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho, realizado pelo Ministério da Previdência Social (MPS), em 2011, foram registrados 15.915 acidentes, de simples lesões aos mais graves, no Estado de Goiás. Em 2008, o número de danos causados durante expediente chegava a 18.307. Acidentes diminuíram, porém o número de mortes aumentou de 102 óbitos, confirmados há cinco atrás, para 124 óbitos registrados no último levantamento do Ministério.

Por ano, aproximadamente, 60 auditores de fiscalização da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE GO) realizam uma média de oito mil ações fiscais no Estado, com o intuito de orientar empresas e funcionários a se preocuparem com a segurança no trabalho. Em 2012, foram realizadas 1.625 autuações, em Goiás, dos quais 53,89% de todas as autuações até novembro estavam concentradas no ramo de construções, que liderava o ranking de acidentes por atividade econômica, até 2010, quando foi superada pela indústria de álcool.

Segundo Renato Cunha, chefe do setor de Segurança e Saúde do Trabalhador, da SRTE, o número de acidentes vem diminuindo gradativamente, nos últimos anos, devido à preocupação das empresas em aperfeiçoar as técnicas de segurança para os funcionários. Ele percebe que grande parte dos danos à saúde do trabalhador também acontece no trajeto.

“Se considerar os últimos três anos, notamos que as empresas passaram a adotar medidas mais rígidas e eficientes para proteção do trabalhador. Em Goiás, no geral, os acidentes típicos diminuíram, mas os acidentes de trajeto aumentaram principalmente após o serviço. Também é necessário haver esse cuidado por parte dos empregados, antes, durante e depois do trabalho”, comenta Cunha.

Chefe de segurança do trabalho da SRTE também afirma que todos os funcionários, em qualquer tipo de empresa ou para qualquer tipo de serviço, precisa passar por treinamento para conhecer os procedimentos e riscos eminentes pelo trabalho que será realizado. Pelo menos um trabalhador deve receber instruções e ficar designado à função de coordenar e fiscalizar a segurança dos outros. Esse cargo fica por conta dos “cipeiros”, membros da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa).

“É necessário que toda pessoa tenha conhecimento sobre a ordem de serviço e como manusear os equipamentos, principalmente os novos. Em alguns casos, a falta de prevenção pode causar prejuízos até mesmo para o funcionário. Se não usar adequadamente e conforme as normas de segurança, o trabalhador pode ser advertido, penalizado e até demitido”, orienta Renato Cunha.

Prevenção

Auditor e médico do trabalho pela D'Médica, Luciano Leão Bernadino Costa, menciona que os acidentes podem ser classificados em magnitudes diferentes, desde lesões simples até os óbitos. Ele percebe que há uma preocupação das empresas em proporcionar garantias de saúde aos seus empregados.

“É fundamental que haja contenções de riscos no ambiente de trabalho. Todas as funções e cada perfil de profissional precisam ser devidamente examinados para não agravar danos à saúde e posteriormente prejuízos para ambos os lados. O principal é amenizar os riscos, não apenas em campanhas nacionais por uma única semana, mas diariamente. Todo dia é dia de prevenção de acidente. Tem que haver boa vontade entre as partes”, adiciona o médico Luciano.

DIÁRIO DA MANHÃ
CÉSAR MORAES

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