segunda-feira, 4 de março de 2013

Caminhoneiros são as maiores vítimas de acidentes de trabalho fatais

De acordo com pesquisa, 11% dos que morrem no estado de São Paulo em razão do trabalho são motoristas de caminhão; no estado de Minas Gerais chega a 15%

Aline Scarso
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Os caminhoneiros são os trabalhadores que mais morrem nos estados de Minas Gerais e São Paulo. Foi o que mostrou uma pesquisa inédita divulgada neste mês sobre acidentes de trabalho fatais nos dois estados, relativa aos anos de 2006 a 2008.

De acordo com o estudo, 15% dos 823 trabalhadores que morreram em decorrência da atividade laboral em Minas Gerais nesse período eram motoristas de caminhão; outros 5,7% eram serventes de obras e 3,7%, trabalhadores da agropecuária em geral. No estado São Paulo, a pesquisa revelou números semelhantes. Os caminhoneiros foram maiores vítimas entre os 2.252 mortos equivalendo a 11%, seguidos pelos serventes de obras (3,7%) e trabalhadores de linha de produção (3,1%).

O estudo relaciona os dados de declarações de óbitos com as Comunicações de Acidentes do Trabalho (CAT) e foram divulgados em uma pesquisa do órgão governamental Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), em parceria com a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) de São Paulo.

De acordo com a pesquisadora Monica La Porte Teixeira, do Seade, o trabalho em ambiente completamente externo contribui para o maior índice de acidentes entre os caminhoneiros. “Eles estão expostos a acidentes no exercício da sua profissão e no trajeto, quando vem e voltam do trabalho. Correm o risco de violência e precisam trabalhar até 15 horas diárias. Tudo isso leva eles a sofrerem a tendência de ter um acidente”, explica.

A pesquisa também mostrou que a média de idade dos trabalhadores vítimas de acidentes fatais é de 37 anos e que cerca de 80% das mortes são de pessoas sem o ensino médio completo. “O que a gente percebeu é que os acidentes de trabalho atingem as camadas mais populares, os trabalhadores que estão na rua, expostos, e [em empregos] que tem pouca necessidade de alfabetização mais qualificada”, afirma a pesquisadora Rosa Maria Vieira de Freitas, também do Seade, que contribuiu no corpo técnico da pesquisa.

Bases de dados diferentes

As pesquisadoras explicam que o estudo veicula informações de três fontes diferentes para análise de dados: o CAT do Ministério da Previdência Social, o Sistema de Declaração de Óbitos (DO) da Fundação Seade para o Estado de São Paulo, e o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde para o Estado de Minas Gerais.

Os dados, segundo elas, nem sempre batem com as informações geradas pela Previdência Social. Há casos em que declarações de óbito de acidentes de trabalho não geraram a CAT, por exemplo. Em outras situações, a CAT que indica acidente de trabalho não tem declaração de óbito correspondente.

De acordo com as pesquisadoras, o estudo trabalhou com as informações de forma conjunta, identificando casos comuns e elaborando uma base de dados mais completa. “A gente tentou nessa veiculação ter o número [de mortes em acidentes de trabalho] mais perto do real. Existem diversas fontes de informação sobre acidentes de trabalho e nenhuma abarca toda a população trabalhadora. Queremos proporcionar uma melhora da informação para a criação de políticas públicas mais coerentes com a realidade”, destaca Rosa.

Para a Monica La Porte Teixeira, a pesquisa mostra a necessidade de unificar as bases de informação para facilitar a elaboração de diretrizes para políticas públicas. “Se cada base cobrisse a população trabalhadora [total], talvez a gente encontrasse um número maior de acidente do trabalho”, defende.

Atualmente o Brasil conta com seis bases diferentes de informação que tratam de acidentes de trabalho fatais: o Dataprev, gerenciado pelo Ministério da Previdência Social, com registros das Comunicações de Acidentes do Trabalho (CAT); o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), gerenciado pelo Ministério da Saúde, com registros das Declarações de Óbito (DO); o Sistema de Informações Hospitalares (SIH), também gerenciado pelo Ministério da Saúde; a Relação Anual das Informações Sociais (Rais), gerenciado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, com dados sobre movimentação dos empregados com contrato formal de trabalho; e o Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN), do Ministério da Saúde.

http://www.brasildefato.com.br/node/12140

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