quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Consumo de drogas por pilotos é ligado a acidentes aéreos

O resultado positivo em testes de uso de drogas em pilotos mortos em acidentes de avião foi quatro vezes maior do que há duas décadas.

Alan Levin

Assentos de avião: uso de anti-histamínicos, analgésicos e maconha foram apontados.

O resultado positivo em testes de uso de drogas em pilotos mortos em acidentes de avião foi quatro vezes maior do que há duas décadas, acompanhando uma tendência social mais abrangente do uso de anti-histamínicos, analgésicos e maconha.

Embora a maioria das substâncias não afete a capacidade de pilotar um avião, algumas drogas, incluindo medicamentos para a dor e indutores do sono, poderiam prejudicar o desempenho, de acordo com um relatório publicado ontem pelo National Transportation Safety Board (NTSB) dos EUA.

Os fármacos mais prevalentes são os anti-histamínicos, como o Benadryl, que pode provocar sonolência e redução da capacidade mental.

Os pilotos não estão sendo devidamente advertidos sobre os perigos que essas substâncias apresentam, disseram investigadores de acidentes do NTSB.

Quatro de cada dez pilotos que morreram em acidentes aéreos durante 2011 tinham usado remédios de venda livre, fármacos receitados ou drogas ilegais.

O valor representa um número quatro vezes maior desde 1990, de acordo com o relatório.

“O NTSB está preocupado com as possíveis implicações para a segurança do aumento do uso de drogas em todos os meios de transporte”, disse o vice-presidente do conselho Christopher Hart. “A pesquisa que apresentamos é um primeiro passo importante para compreender essas implicações”.

Cerca de 23 por cento dos pilotos cujo teste de drogas deu positivo de 2008 a 2012 tinham usado substâncias que prejudicam o desempenho, de acordo com o NTSB. Essa porcentagem mais do que dobrou em comparação com os 11 por cento registrados no período de 1990 a 1997.

“Algumas substâncias podem prejudicar significativamente o nível de atenção, a capacidade de julgamento, o tempo de reação ou o comportamento e provocar acidentes de transporte”, disse o NTSB no relatório.

Teste de vítimas

A Federal Aviation Administration (FAA) dos EUA, entidade de regulação dos pilotos, analisará os resultados da pesquisa para reduzir os riscos de problemas de segurança relativos ao uso de drogas, disse o órgão em comunicado enviado por e-mail. O órgão proíbe o uso de substâncias que reduzam a capacidade dos pilotos.

“Essa pesquisa contém demasiados valores desconhecidos e lacunas para que possamos tirar qualquer conclusão significativa sobre a segurança da aviação”, disse Mark Baker, presidente da Aircraft Owners and Pilots Association, com sede em Frederick, Maryland, em comunicado enviado por e-mail.

Drogas ilegais

O uso de drogas ilegais representava uma pequena parte dos pilotos cujos testes identificavam alguma substância. O valor aumentou de 2,3 por cento no período de 1990 a 1997 para 3,8 por cento de 2008 a 2012.

A maior categoria de substâncias detectadas nos pilotos foram os anti-histamínicos sedativos de venda livre, de acordo com o NTSB. Esses fármacos incluem a difenidramina, conhecida pelo nome comercial de Benadryl, que é utilizada no tratamento de alergias ou como indutor do sono.

A pesquisa descobriu que 7,5 por cento dos pilotos cujo teste de drogas deu positivo tinham tomado anti-histamínicos de venda livre. A taxa aumentou de 5,6 por cento no período de 1990 a 1997 para 9,9 por cento de 2008 a 2012.
Recomendações do NTSB.

A FAA não divulga uma lista de medicamentos proibidos para os pilotos. O órgão diz que, embora ofereça orientações aos médicos sobre as categorias de drogas não autorizadas, é difícil que os profissionais de áreas não médicas as entendam.

O NTSB recomendou à FAA que redobre o empenho em conscientizar os aviadores e disse que o órgão regulador deveria estipular uma política clara sobre o uso da maconha. Também recomendou que a FAA investigue o uso de substâncias entre pilotos que não estiveram envolvidos em acidentes para avaliar os riscos.

Mais pesquisas


O álcool não foi incluído na pesquisa porque ele pode se formar no tecido orgânico após a morte, mesmo se a pessoa não tiver consumido nenhuma gota, de acordo com o NTSB. A agência identificou um vínculo entre embriaguez e os acidentes em menos de 2 por cento dos casos fatais.

Apesar do maior uso de substâncias, o NTSB não observou uma quantidade maior de acidentes atribuídos à incapacidade relacionada ao uso de drogas. Cerca de 3 por cento dos acidentes fatais estavam ligados ao fato de o piloto ter usado alguma substância, disse a dra. Mary Pat McKay, médica chefe do conselho de segurança.

Pode ser difícil atribuir um acidente às drogas porque os pesquisadores teriam que provar que o desempenho do piloto foi alterado pela substância.

Embora a relação entre o álcool e os acidentes seja muito conhecida, são necessárias mais pesquisas sobre o modo em que distintas substâncias afetam o desempenho, disse McKay.

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