Tatiana Melim,
Site da CUT
Auditores-fiscais da
Superintendência Regional do Trabalho no Rio Grande do Sul (SRTb/RS)
interditaram diversas máquinas e setores da unidade da Seara de Três Passos, no
Rio Grande do Sul, devido aos riscos graves à saúde e à integridade física dos
trabalhadores e trabalhadoras encontrados na fábrica. A empresa, que pertence
ao grupo JBS, não tem respeitado as normas de segurança, o que está colocando
em risco a saúde de mais de 800 trabalhadores, responsáveis por abater 2.450
suínos por dia.
Para o auditor fiscal do
trabalho Mauro Muller, um dos responsáveis pela operação, essas auditorias
detalhadas são fundamentais para garantir a segurança dos trabalhadores da
indústria. “Essas operações são importantes, pois cumprem duas finalidades
primordiais: a de cessar imediatamente o risco de lesão grave para os
trabalhadores e a de servir de exemplo para as demais indústrias do mesmo ramo
de atividade econômica para que façam adequações e garantam a segurança no
trabalho”, explica.
Na Seara, além da falta de
proteção em diversos equipamentos, os auditores fiscais encontraram muitos
trabalhadores submetidos a condições inadequadas de trabalho que ultrapassavam
até mesmo os limites físicos de uma pessoa e poderiam causar graves distensões
e lesões musculares, como fraturas, e inflamações nas articulações do corpo.
Os auditores fiscais
encontraram muitos trabalhadores submetidos a condições inadequadas de trabalho.
Foto: Reprodução/ CUT
Na área de movimentação de
cargas, por exemplo, os trabalhadores estavam movimentando de 20.000 kg a
36.000 kg por dia, sendo que o limite máximo permitido a uma jornada de oito
horas é de 10.000 kg com as duas mãos e 6.000 kg com apenas uma mão.
“Era quase o dobro do peso
máximo permitido, um perigo à segurança do trabalhador, podendo causar graves
problemas à saúde”, critica a secretária de Saúde do Trabalhador da CUT,
Madalena Margarida da Silva.
Segundo ela, os
trabalhadores dessas indústrias são os que mais apresentam inflamações dos
tendões e punhos e dor na coluna devido às Lesões por Esforço Repetitivo (LER),
que evoluem depois para o Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho
(DORT).
“Essas lesões impossibilitam
o trabalhador de fazer movimentos e, com isso, ele fica incapacitado para vida
e para o trabalho, já que essas doenças causam muitas dores”, diz a secretária.
E quando adoecidos,
lesionados e mutilados, explica Madalena, os trabalhadores e trabalhadoras
penam para acessar seus direitos previdenciários e, muitas vezes, têm o pedido
indeferido por causa da dificuldade de comprovar essas doenças.
Trabalho que leva à exaustão
De acordo com o relatório
dos auditores fiscais que resultou na interdição, o intenso ritmo de trabalho
imposto durante a jornada estava levando os trabalhadores à fadiga e à
exaustão. “Percebe-se isso pelos depoimentos dos empregados, que reclamam do
ritmo de trabalho (imposto pela organização do trabalho), de dor nos braços e
nas costas”, diz trecho do relatório.
Para voltar a operar todos
os setores interditados, a Seara deverá realizar as adequações e detalhar todas
as medidas adotadas à área de Segurança e Saúde da SRTb.
Trabalhadores precisam
fazer, repetidas vezes ao dia, flexões extremas e movimentos que causam torções
na coluna cervical
Na última sexta-feira (24),
após comprovar que alguns problemas foram resolvidos, parte das atividades foi
retomada, como movimentação de cargas na expedição, presuntaria, embalagem
secundária e quatro máquinas do setor de desossa. No entanto, há ainda muitos
setores interditados até que todos os ajustes sejam feitos e comprovados.
Patrões não cumprem as
normas de segurança
O auditor fiscal do
trabalho, Mauro Muller, alerta que o caso da Seara não é o único no setor.
Segundo ele, há ainda muitos outros encontrados entre as grandes indústrias do
ramo frigorífico, “que tem recursos para investir e garantir a segurança dos
trabalhadores, mas não fazem em sua integralidade”. “Estamos intensificando a
fiscalização justamente para reverter esse quadro”, diz.
A secretaria de Saúde do
Trabalhador da CUT, Madalena Margarida da Silva, concorda com a análise do
auditor. Segundo ela, as empresas não têm compromisso com a saúde dos
trabalhadores e resistem em implementar os mecanismos de proteção coletiva e
individual que promovam a melhoria da segurança e condições de trabalho.
“Nós participamos da
Comissão Tripartite Paritária Permanente, onde se discute, propõe e elabora as
Normas Regulamentadoras (NRs), e percebemos o quanto os empregadores resistem
em implementar as normas”, conta a dirigente, se referindo, sobretudo, às NR’s
12, 17 e 37, que tratam da implementação de dispositivos de proteção nas
máquinas para garantir a saúde e a integridade física dos trabalhadores, além
de exigências sobre a ergonomia nos frigoríficos.
“A indústria brasileira
ainda tem um pátio industrial compostos por máquinas antigas e obsoletas que
não dispõem de travas de seguranças, sendo responsáveis pelos altos índices de
mutilações e mortes de trabalhadores”, lamenta a secretária.
Confira os setores em que
está mantida a interdição:
– Serviços/atividades de
movimentação de cargas nos setores de embalagem secundária, desossa, mezanino
da desossa, abate e sala de lavagem de carretilhas.
– Movimentação de cargas com
paleteiras manuais ou com carrinhos nos setores da desossa;
– Atividade de empurrar
carcaças nos setores de abate e desossa
– Atividades de virar caixa
nos setores de: schrink, desossa e embalagem secundária
– 5 máquinas
descoureadeiras, localizadas no setor de mezanino da desossa, utilizadas para
descourear o pernil e o carré, 1 máquina descoureadeira da sala de cabeças e 1
Descoureadeira Automática no setor da Desossa (Máquina Maja Descoureadeira da
Barriga)
– Máquina Desbobinadora de
Tripa
– Escadas tipo marinheiro em
diversos setores e trabalhos com diferença de nível, no setor de Abate
Confira os setores que
retornaram na última sexta (24), após adequar as condições de trabalho:
– Serviços/atividades de
movimentação de cargas nos setores de expedição, presuntaria, embalagem
secundária da presuntaria;
– Movimentação de cargas com
paleteiras manuais ou com carrinhos nos setores de expedição, presuntaria e
embalagem secundária da preseuntaria;
– 4 máquinas descoureadeiras
no setor de desossa;
– Sistema de Refrigeração
por Amônia e suas tubulações;
– Transportadores Contínuos
de Materiais (esteiras) dos setores de presuntaria, embalagem secundária da
presuntaria, mesas do pernil e paleta do setor de desossa;
– Serviços de entrada e de
permanência em Espaços Confinados (EC) sobre o forro;
– Serviços de entrada e de
permanência em Espaço Confinado nº 111;
– Escadas tipo marinheiro
nos setores de casa de máquinas e caldeira.
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