Por
Ana Carolina Amaral
Conselhos,
comitês e grupos de trabalho que permitem a participação da sociedade civil na
formulação e gestão de políticas públicas podem estar com os dias contados. Um
ofício encaminhado pela Casa Civil ao ministro Ricardo Salles, do Meio
Ambiente, solicita a “análise, extinção, adequação ou fusão” de uma lista de 23
colegiados e dá até a próxima quinta-feira (28) como prazo para apresentação de
resultados.
Questionado
pelo blog se a medida se aplica a outras pastas, o Ministério da Casa Civil
respondeu por meio de nota que a decisão se estende para todo o governo
federal. O mesmo pedido foi enviado a 19 pastas (ficando de fora apenas a
Advocacia Geral da União e o Banco Central).
O
blog teve acesso ao ofício assinado por Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil,
e encaminhado ao Ministério do Meio Ambiente. Ele pede “como regra geral” a
extinção de todos os órgãos colegiados que não tenham se reunido nos últimos 30
dias e a avaliação para possível extinção de outros que, mesmo ativos, não
sejam necessários para a condução de sua temática.
Segundo
o anexo do ofício, 21 dos 23 órgãos ambientais listados estão ativos e apenas
dois estão paralisados – o Planafe e o grupo de trabalho de responsabilização
ambiental.
Caso
o ministério decida pela manutenção de algum dos conselhos, o ofício pede uma
justificativa que explique a necessidade do órgão; sua efetividade, com
relatório de reuniões e resultados apresentados desde julho de 2016; as
expectativas de resultados, com cronograma de reuniões, produtos e responsáveis
e, ainda, uma avaliação sobre a adequação à Medida Provisória 870, que
reorganizou os ministérios no primeiro dia do governo Bolsonaro.
O
ofício justifica que a medida deve diminuir a burocracia da administração
pública. A nota da Casa Civil explica que o pedido aos ministérios é para
revisão do “alto volume de comissões, comitês e assemelhados” e para que “façam
gestão para melhoria de eficiência das atividades desempenhadas pelo Governo
Federal”.
Especialistas
ouvidos pelo blog sob condição de anonimato alertam que a medida não garantiria
processos mais ágeis, pois o governo precisaria absorver as competências dos
conselhos extintos, criando processos internos de tomada de decisão.
Eles
também alertam que essa alternativa perderia a diversidade de pontos de vista
dos vários setores da sociedade que compõem os órgãos colegiados.
A
lista dos 23 órgãos ambientais ameaçados de extinção inclui o Conama, Conselho
Nacional do Meio Ambiente, que na semana passada teve reunião hostil na estreia
da relação com o novo ministro.
Pelo
menos dois órgãos na mira do governo ajudam a estabelecer diretrizes e
fiscalizar a destinação de verbas usadas nas políticas públicas, como a
Conaredd+, comissão que gere o Fundo Amazônia, e o Comitê Gestor do Fundo
Nacional sobre Mudança do Clima (FNMC).
O
FNMC, o Conama e o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético foram criados por
lei e, portanto, teriam que ter sua extinção aprovada pelo Congresso.
Também
entram na lista de conselhos ameaçados de extinção o PPCDAm e PPCerrado,
comissões que apóiam o planejamento para prevenção e controle do desmatamento
na Amazônia e no Cerrado; a Conaveg, criada em 2017 para apoiar a restauração
de 12 milhões de hectares de floresta nativa; o Comitê Interministerial da
Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Fórum Brasileiro de Mudança do Clima,
órgão misto que no ano passado elaborou estratégias para o cumprimento do
Acordo de Paris.
Desde
o final do ano passado, entidades que compõem o Fórum Brasileiro de Mudança do
Clima já vinham preparando alternativas para continuar seus trabalhos caso não
contassem com o engajamento do governo Bolsonaro.
Para
o próximo mês, elas preparam um evento com governadores de sete estados –
Amazonas, Pará, Espírito Santo, São Paulo, Paraná, Distrito Federal e Rio
Grande do Sul – em uma estratégia parecida à adotada pelos governos locais nos
Estados Unidos diante da animosidade de Trump com as políticas climáticas.
Os
outros órgãos ambientais na lista de Onyx são: Comitê Gestor do Programa Bolsa
Verde, Comitê Gestor do Fundo Nacional de Repartição de Benefícios, o CIF
(Comitê Interfederativo resultado do Termo e Ajuste e Conduta, firmado entre a
União, o Estado do Espírito Santo e a Samarco Mineral, em decorrência do
rompimento da barragem de Fundão, em Mariana/MG), o Comitê Interministerial
para Inclusão Social e Econômica dos Catadores de Materiais Reutilizáveis e
Recicláveis, a Comissão interministerial de Mudança Global do Clima, o Comitê
de Integração de Políticas Ambientais, o Comitê Orientador do Fundo Amazônia, a
Câmara Técnica de Assuntos Jurídicos do Conselho Nacional do Meio Ambiente, o
Grupo Executivo sobre Mudança do Clima, o Grupo de Trabalho Temático de
Monitoramento do Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima, o Grupo Gestor
das Ações de Apoio à Comercialização de Produtos Extrativos e o Comitê de
Gestão e Avaliação de Respostas à Contaminação Ambiental no Município de
Barcarena.
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