Há
quase 96 anos, em uma manhã fria e chuvosa de domingo, dia 5 de junho de 1927,
o time de futebol do Esporte Clube São José, de Porto Alegre, embarcava no
hidroavião Dornier Do J Wal "Atlantico", da Varig, para uma viagem
histórica e pioneira. Era a primeira vez, no mundo todo, que a delegação de um
time de futebol viajava de avião para disputar uma partida. O feito foi
reconhecido pela FIFA em 1992 e está registrado nos arquivos da entidade.
O
voo, com duração de duas horas e meia, foi entre Porto Alegre e o município de
Pelotas, onde o São José jogou uma partida amistosa contra o time local, o
Esporte Clube Pelotas. Como de costume, o embarque dos passageiros ocorreu na
Ilha Grande dos Marinheiros, às margens do Rio Guaíba, na capital gaúcha.
Antes
da decolagem, porém, houve preocupação por parte do comandante Rudolf Cramer
von Clausbruch, em relação às condições meteorológicas e também ao peso de
decolagem da aeronave. A Varig havia solicitado, antecipadamente, que o clube
informasse o peso exato dos passageiros. Porém, no dia do voo, todos carregavam
pesados casacos de lã, devido ao clima frio, o que causou excesso de peso. Além
disso, a aeronave possuía capacidade para apenas nove passageiros. Por esse
motivo, o goleiro Alberto Moreira Haanzel, conhecido como "Bagre", e
Antônio Pedro Netto tiveram que viajar no compartimento de bagagens. Algo
impensável nos dias de hoje.
Na
cabine de passageiros, sentados em "confortáveis" poltronas feitas de
vime, e com os ouvidos devidamente protegidos do barulho ensurdecedor produzido
pelos motores, por pedaços de algodão que eram distribuídos antes de cada voo,
viajaram os jogadores Álvaro Kessler, Dirceu Silva, Alfredo Cezaro (Pinho),
César Cezaro, João Nicanor Leite (Nona), Clóvis Carneiro Cunha e Walter Raabe,
além de Carlos Albino Müller Pires, chefe da delegação, e Moisés Antunes da
Cunha, secretário do clube.
Antes
do embarque, o então presidente do Esporte Clube São José, Waldemar Zapp, pediu
para que fosse feita uma foto do grupo, junto à aeronave, para guardar como
recordação, caso ocorresse uma tragédia. Na foto, mais uma curiosidade. Antônio
Pedro Netto, aparece com um fardo entre as pernas. Eram 30 exemplares do Jornal
Correio do Povo, que ele estava levando para vender no local do jogo. A explicação
é que, naquela época, os jornais de sábado da capital chegavam à Pelotas apenas
na quarta-feira seguinte. Mas levando-os de avião, o esperto Antônio pôde
vendê-los já no domingo, ganhando dinheiro suficiente para o pagamento do
jantar após a partida.
João
Leal da Silva, tesoureiro do clube, viajou dois dias antes, de vapor (navio),
para acertar os detalhes da partida e da estada em Pelotas, acompanhado pelos
jogadores Odorico Monteiro, Benedito e Walter Kennemann (Berlina). Os quatro
voltaram para Porto Alegre a bordo do hidroavião da Varig, ocupando os lugares
de outros quatro passageiros que retornaram de vapor.
O
placar do jogo? Um empate em 2 a 2. Mas nesta história, isso é o que menos
importa.
Outro
Fato Liga o Esporte Clube São José à Varig
O
terreno da Avenida Assis Brasil, número 1200, no bairro Passo D'Areia, em Porto
Alegre, onde está localizado o estádio do Esporte Clube São José, pertencia a
Rubem Berta. Ele tinha a intensão de construir uma pista de pouso no local. No
entanto, como já havia uma considerável expansão imobiliária na região, por
motivo de segurança, seu projeto não teve continuidade. Berta então colocou o
terreno à venda e, em 1939, os dirigentes do "Zequinha", como é
conhecido o clube porto-alegrense, compraram a área por um preço abaixo do
valor de mercado. No ano seguinte, em 24 de maio de 1940, era inaugurado
oficialmente o Estádio Passo D'Areia, assim chamado até hoje.
MUSEU
AEROESPACIAL
INSTITUTO
HISTÓRICO DA AERONÁUTICA
TEXTO DE LUCIANO RIEDI
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