Se
o trânsito revela quem somos, que sejamos mais gentis, conscientes e humanos ao
volante — e fora dele. Porque educar o trânsito é, também, educar para a vida.
03/08/2025
Por:
Nailson Júnior
Fonte:
Por Abimadabe Vieira Psicopedagoga e Educadora de Trânsito.
Você já perdeu a paciência no trânsito hoje?
Buzinou,
acelerou sem necessidade ou xingou mentalmente alguém que “atrapalhou” o seu
caminho?
Pois
é… talvez você esteja vivendo uma das chamadas síndromes do trânsito — e nem
tenha percebido.
O
que vemos nas ruas vai muito além de carros e sinais. O trânsito é uma vitrine
do comportamento humano: revela quem somos sob pressão, como lidamos com
frustração, e o quanto conseguimos — ou não — conviver com o outro.
O que são as síndromes do trânsito?
Essas
“síndromes” não são doenças clínicas, mas sim padrões repetitivos de
comportamento nocivo que se manifestam em atitudes impacientes, autoritárias ou
perigosas no dia a dia do tráfego. Elas denunciam uma falta de educação
emocional e social, e têm impacto direto na segurança de todos.
Segundo
o Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), mais de 90% dos acidentes
de trânsito no Brasil têm origem em falhas humanas. Isso mostra que não é só
sobre leis e regras, mas sobre pessoas — e suas atitudes.
A
psicopedagogia como lente de análise
Na
psicopedagogia, aprendemos que os comportamentos são reflexos de vivências,
emoções e aprendizagens mal elaboradas. O trânsito é um espelho disso: ele
escancara o quanto ainda precisamos amadurecer como sociedade.
A
forma como um indivíduo dirige, reage a um congestionamento ou trata outro
condutor diz muito sobre sua relação com o mundo. Por isso, educar para o
trânsito é, também, um processo de desenvolvimento humano.
As
principais síndromes do trânsito
1.
Síndrome do carro poderoso
Acredita
que o veículo, especialmente se for grande ou caro, dá mais direito à via. Age
como se fosse superior aos demais.
Exemplo:
Costura entre os carros, ignora pedestres e trata motos e ciclistas como
obstáculos.
2.
Síndrome do dono da rua
Tem
comportamento egoísta, como se as vias públicas fossem extensão de sua casa.
Não respeita o espaço coletivo.
Exemplo:
Estaciona em frente à garagem alheia ou em fila dupla, com a justificativa de
“é só um minutinho”.
3.
Síndrome do nervosinho
É
o motorista de pavio curto. Qualquer imprevisto o faz buzinar, gritar ou se
exaltar.
Exemplo:
Xingamentos no trânsito, discussões por pequenas falhas e gestos agressivos.
4.
Síndrome do fiscal do trânsito
Julga
os erros alheios, mas ignora os próprios. Exige o cumprimento das regras, mas
não se aplica a elas.
Exemplo:
Critica quem fura sinal, mas não usa cinto ou ultrapassa pela direita quando
tem pressa.
5.
Síndrome do piloto de fuga
Trata
o trânsito como corrida. Vive com pressa, ultrapassa em locais perigosos e
arrisca a própria vida e a dos outros.
Exemplo:
Avançar sinal, acelerar para “ganhar tempo” e ignorar limites de velocidade.
Por
que precisamos falar sobre isso?
Porque
essas atitudes não são apenas comportamentos isolados — elas representam uma
cultura de impaciência, individualismo e desrespeito. E cultura, como sabemos,
se aprende — e pode (e deve) ser transformada.
Quando
o comportamento no trânsito é desajustado, os impactos vão muito além de multas
ou colisões. Agridem a saúde emocional, alimentam o estresse urbano e, muitas
vezes, têm consequências fatais.
E
o que podemos fazer?
Autoconhecimento
– Reconhecer que você pode estar reproduzindo esses comportamentos. O primeiro
passo é se observar com sinceridade.
Educação
contínua – Participar de ações educativas, campanhas e formações que promovem a
cultura da paz no trânsito.
Dar
o exemplo – Não subestime o poder do seu comportamento. Ele influencia mais do
que você imagina.
Empatia
ativa – Lembre-se: todos no trânsito estão lidando com seus próprios desafios.
Gentileza é mais que uma atitude — é uma proteção.
Conclusão
Se
o trânsito revela quem somos, que sejamos mais gentis, conscientes e humanos ao
volante — e fora dele. Porque educar o trânsito é, também, educar para a vida.
Como
diria Sócrates:
“Conhece-te a ti mesmo” — talvez esse seja o primeiro passo para um trânsito mais seguro. E mais justo.
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