Por: Por Marla Cardoso / Jornalista da Revista Proteção
05/05/2022
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A
menos de 15 dias do início das discussões e deliberações da CTPP (Comissão
Tripartite Paritária Permanente) sobre o novo texto da NR 4 (Serviços
Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho), o ponto
que trata sobre a possibilidade de terceirização do SESMT ainda é motivo de
divergências entre as bancadas. Na última reunião do GTT (Grupo de Trabalho
Tripartite), realizada nos dias 25 e 26 de abril, representantes do governo,
dos empregadores e trabalhadores não chegaram a um consenso. Todos os itens
deste, que é considerado o tema mais polêmico da revisão, ainda estão em
avaliação ou com pedido de exclusão.
De
um lado, a bancada de governo defende o alinhamento da NR com as Leis, a CLT, a
Lei 6.019 e a jurisprudência sobre o tema, justificando que a norma como
regulamento, não pode dispor contrariamente ao permitido pela Lei. Com isso, o
governo entende que não se pode proibir a prestação dos serviços de Segurança e
Medicina do Trabalho, referentes ao SESMT, por empresas especializadas. E adota
como exemplo a NR 31, que em seu novo texto (item 31.4), já permitiu essa forma
de prestação de serviços no SESTR (Serviço Especializado em Segurança e Saúde
no Trabalho Rural), equivalente ao SESMT.
Representante
da bancada dos empregadores como assessora técnica da CNSaúde (Confederação
Nacional de Saúde) e advogada, Lucineia A. Nucci, comentou que das principais
controvérsias entre as bancadas em relação ao tema está a discussão da
terceirização integral ou parcial, sobre a prestação de serviços somente de
Medicina ou somente de Segurança do Trabalho, com a contratação de empresas
distintas para prestarem os serviços de SESMT.
REGISTROS
O
grupo também debate sobre a necessidade das empresas terceirizadas passarem a
precisar de autorização do Ministério do Trabalho para funcionar ou se apenas o
registro das prestadoras de serviço junto ao governo bastaria. “Também foi
discutida a forma como o governo disponibilizará a relação das empresas
especializadas em serviços de SST autorizadas e os respectivos registros de
SESMT das empresas contratantes. Já para o cálculo do dimensionamento, a
discussão conflita sobre considerar o número de empregados ou de trabalhadores
na organização, devido à abrangência da palavra trabalhadores, que se estende
além dos que são contratados na forma da CLT”, detalhou Lucineia.
Também
favorável à terceirização, a bancada dos empregadores defende que o modelo
poderá ampliar a assistência em Medicina e em Segurança do Trabalho. “Estamos
vivenciando a fusão de empresas que possuem empregados em vários estados da
Federação, e com a terceirização do SESMT o atendimento se estenderá para os
estabelecimentos com menor grau de risco e número de empregados que não são
atendidos pela forma atual de SESMT vinculado ao CNPJ da empresa. Será a forma
do SESMT estar onde o empregado prestar o serviço, independentemente do número
de CNPJ”, justificou Lucinéia.
TRABALHADORES CONTRÁRIOS
Por
outro lado, todos os representantes que compõem a bancada dos trabalhadores têm
posição fechada contra a terceirização. “Não aceitamos por entender o prejuízo
para profissionais do SESMT e trabalhadores usuários dos serviços. Meu
posicionamento pessoal é de que possamos discutir a norma pensando na ampliação
de cobertura do SESMT. Hoje, menos de 2% possui cobertura, 98% estão
desobrigados de constituir o serviço. Aliás, a bancada propôs que o Quadro II
se inicie com a presença de um técnico de segurança a partir de 251 a 500 no
grau de risco 1 e 2”, destacou o presidente do Sindicato dos Técnicos de Segurança
do Trabalho no Estado de São Paulo (Sintesp) e membro do GTT da NR 4, Valdizar
Albuquerque.
Colega
de bancada, o representante da UGT (União Geral dos Trabalhadores) e
coordenador da bancada dos trabalhadores na CTPP, Washington Santos, ou
Maradona (como é mais conhecido), defende que toda a proposta que compõe o
item 4.7 – Prestação de serviço por
empresa especializada – deve ser retirada da discussão. “O governo está
ignorando o impacto que a terceirização do SESMT causará à categoria dos
profissionais de SST, refletindo na empregabilidade e redução imediata de
salários. Não aceitamos em nenhuma hipótese que isso aconteça com os
trabalhadores”, apontou. Maradona também afirma que as entidades que
representam os trabalhadores apoiam o que prevê a nota técnica sobre a proposta
de alteração da NR 4, elaborada pelo Ministério Público do Trabalho, que
destaca que o texto em discussão fere o Artigo 162 da CLT. O artigo diz que “as
empresas, de acordo com normas a serem expedidas pelo Ministério do Trabalho,
estarão obrigadas a manter Serviços Especializados em Segurança e em Medicina
do Trabalho”.
Mesmo
diante de todas as divergências, depois do debate realizado no final de abril
entre as bancadas sobre os pontos pendentes da NR, o próximo passo será a discussão
e deliberação sobre a revisão da NR 4 na próxima reunião da CTPP, nos dias 17 a
19 de maio, em Brasília, em formato híbrido. Após, terão seguimento os trâmites
administrativos para publicação do novo texto da NR 4. Em relação à
terceirização, como as bancadas não chegaram a um consenso, a tendência é que,
depois de ser analisado pela CTPP, esse ponto seja arbitrado pelo governo.
“Existe uma tendência natural de que, não sendo possível construir uma norma de
forma consensual, que o governo possa arbitrar, porém, o texto está tão
bagunçado que fica difícil”, salientou Albuquerque.
OUTROS PONTOS
A
terceirização não foi o único ponto discutido na última reunião do GTT. O
presidente do Sintesp, Valdizar Albuquerque, afirmou que embora a reunião tenha
iniciado com cerca de 40 itens em consenso, resultado do último encontro do
GTT, os pontos foram discutidos novamente, levando em conta o relatório de AIR
(Análise de Impacto Regulatório).
Outra
proposta da bancada do governo que foi polêmica determinava que a organização
contratasse especialistas em nível de pós-graduação nas áreas de ergonomia,
higiene ocupacional ou psicologia do Trabalho quando o quantitativo de cada
categoria profissional exigisse mais de um profissional de cada categoria do
Quadro II da NR, sendo que deveria ser mantido o mínimo de 50% de cada
categoria profissional.
Segundo
a representante da bancada dos empregadores como assessora técnica da CNSaúde
(Confederação Nacional de Saúde) e advogada, Lucineia A. Nucci, após as
ponderações das bancadas de trabalhadores e empregadores, foi alterada a
redação adequando a proposta para que, se for necessária a contratação de mais
de dois profissionais de Segurança do Trabalho, o empregador poderá optar por
contratar além de um técnico, engenheiro ou médico, por exemplo, o profissional
de Ergonomia ou de Higiene Ocupacional ou de Psicologia para compor o quadro do
SESMT.
“Diante
de itens polêmicos como esse e, em busca de solução, ambas as bancadas foram
construindo propostas ao longo da norma, o que acabou por gerar emendas
inclusive em itens já consensuados”, completou Albuquerque. Outra discussão
intensa, de acordo com Lucineia, foi sobre a proposta do governo para a criação
do SESMT Especial que, mediante um gatilho medido por taxa de acidentalidade
que seja superada, a empresa seja obrigada a constituir SESMT que poderá ser
encerrado quando reduzida a acidentalidade. Embora o trecho tenha sido
discutido na última reunião, ainda não está definido se será incluído no texto
final da NR 4.
“Sobre a jornada de trabalho dos Técnicos de Enfermagem e de Segurança do Trabalho, foi consenso a redução de horas de dedicação ao SESMT do Técnico de Segurança do Trabalho, de 8 horas diárias para 36 horas semanais. Em contrapartida, quando o dimensionamento da empresa exigir mais de um TST, deve ser organizada escala de trabalho onde cada turno conte com pelo menos um técnico para garantir o atendimento do SESMT”, finalizou Lucineia. A jornada, porém, não poderá ser inferior a 4h por dia.
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