Revisão
da norma foi submetida à consulta pública em novembro.
Auditores
fiscais, especialistas em Saúde e Segurança no Trabalho (SST), representantes
sindicais e governamentais se reuniram na Fundacentro, em São Paulo/SP, em
debate público sobre a Norma Regulamentadora 1 (NR-1). O evento está disponível
no canal da instituição no YouTube.
“A NR-1 é estruturante, uma norma que
estabelece um desenho global sobre o funcionamento da normatização acerca da
segurança e saúde no ambiente de trabalho. Eu vejo esse debate como um momento
importante, estratégico para a consolidação dos saberes e o fortalecimento de
toda uma agenda que busca rever e pensar a NR-1. Principalmente, em relação a
sua importância estratégica, neste momento em que vivemos um processo de
reconstrução mais amplo das políticas de SST”, disse o presidente da
Fundacentro, Pedro Tourinho.
Com
o tema “A NR-1 necessária no atual momento para superar a acidentalidade no
Brasil”, a plenária do debate público contou com a mediação de Remígio
Todeschini, diretor de Ciência e Tecnologia da instituição.
Revisão da NR-1
A
procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT), Tatiana Campelo, abriu o
debate falando sobre a proposta de revisão do texto técnico do capítulo 1.5, da
NR-1, que trata do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO). O material foi
submetido à consulta pública, em novembro.
“Um
dos avanços que a gente considerou na proposta é que as organizações devem
adotar mecanismos para a participação ativa dos trabalhadores no processo de
gerenciamento de riscos ocupacionais. Essa foi uma discussão, em relação à
norma passada, porque entendíamos que faltava um pouco dessa participação, que
ela estava muito indireta”, explica Campelo.
A
procurada também faz uma reflexão a respeito dos riscos psicossociais.
Resultantes da deficiência da organização e gestão do trabalho, bem como de um
contexto social problemático, esses riscos podem gerar efeitos negativos aos
trabalhadores, em nível psicológico, físico e social.
“O
GRO deve englobar todos os perigos e consequentes riscos ocupacionais na
organização. Então, entendemos que nesse momento de alteração da norma, é
importante considerar a inclusão dos riscos psicossociais na NR-1”, conclui a
procuradora.
Desmonte da SST
Gerson
Medeiros Cardoso, do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Petroquímica do
Rio Grande do Sul (SindPolo/RS), relembra o período de atualização das Normas
Regulamentadoras (NRs) durante a plenária.
“Desde
o início das discussões sobre a modernização das NRs, em 2019, os registros de
acidentes, contaminação e morte no ambiente de trabalho só aumentaram. A NR-1
na forma como está, não atende, não traz a protetividade que os trabalhadores
necessitam”, declara Cardoso.
O
sindicalista também fala do desmantelamento das entidades ligadas à proteção do
trabalhador. “Durante o governo anterior, houve o fim do Ministério do Trabalho
e o enfraquecimento programático da Fundacentro, que agora se tenta
reconstituir.”
E
alerta sobre a escassez de recursos na Fundacentro. “Quando a gente fala nisso,
falamos da retirada de recursos de um órgão de pesquisa tão importante para
proteção dos trabalhadores e das trabalhadoras. Além disso, é notória a falta
de recursos humano que a Fundacentro vem sofrendo de 2016 para cá. Há a
necessidade, urgente, de ter um concurso público para recolocar profissionais
nessa instituição. Para fazer com que a Fundacentro volte a ter a atuação que
já teve”.
Diálogo social
“Não
dá para falar em gerenciamento de risco se não há uma consulta mínima com quem
está trabalhando”, reflete o diretor de Conhecimento e Tecnologia da
Fundacentro, Remígio Todeschini, no início de sua apresentação.
O
diretor coloca que a questão principal na revisão da NR-1, para garantir os
direitos de proteção de SST, é manter o diálogo social permanente. Com a
cooperação dos trabalhadores em todo o processo e a utilização da Cipa
(Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e de Assédio) no gerenciamento de
riscos.
“O
inventário tem de ser participativo, acompanhado pelos trabalhadores e
trabalhadoras de forma direta, ativa e igualitária. Já os técnicos devem atuar
de forma altiva, para que o conhecimento relacionado às disciplinas de SST,
seja colocado junto aos trabalhadores no ambiente de trabalho”, enfatiza Todeschini.
Ele
também reforça que é papel da Cipa instituir medidas de prevenção e combate ao
assédio sexual, moral, entre outras formas de violência no ambiente de
trabalho.
GRO sob a responsabilidade patronal
Luiz
Alfredo Scienza, auditor-fiscal do trabalho, menciona que “a NR-1 e as mudanças
efetuadas nas demais NRs não nasceram de uma necessidade de atualização,
nasceram de um projeto de governo. Um projeto que tinha o objetivo claro de
tirar o Estado do ‘cangote’ dos empregadores”.
Para
o auditor, a atualização da norma foi pensada para colocar a gestão de risco e
suas definições sob a responsabilidade patronal, retirando do poder público as
regulamentações do trabalho.
“Se
o PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos) não caracterizar um nível de risco
significativo, o Estado não poderá determinar a adoção de ações de medidas
corretivas. E se o nível de risco é considerado irrelevante, nenhuma medida
protetiva será justificada. Portanto, a revisão da NR-1 precisa ser realizada
urgentemente, pois da forma que está, não atende a população trabalhadora”,
aponta o auditor.
Capacitação
O
auditor-fiscal do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Rogério
Silva Araújo, encerra as atividades da plenária reforçando os aspectos
problemáticos encontrados na NR-1 e já exposto pelos demais debatedores.
Além
disso, lança um olhar sobre a importância da capacitação dos profissionais
ligados à SST. “Há um ponto muito importante que a gente tem que frisar aqui, a
capacitação dos técnicos, engenheiros, médicos e de todos os profissionais
relacionados à higiene ocupacional e a segurança e saúde do trabalho, dentro do
ambiente empresarial. Porque, sem essa capacitação, muitas vezes, os riscos vão
ser subavaliados ou não identificados”, explica Araújo.
Capacitar
os profissionais, para que eles possam entender as ferramentas que estão
disponíveis para realizarem as avaliações, colabora com a eficiência das
intervenções governamentais.
“Nosso
papel, enquanto Estado, ao realizar uma fiscalização no ambiente trabalho é
entender se há riscos, se eles estão ali identificados e quais as medidas a serem
tomadas. Por isso, é tão importante que o capítulo 1.5 da NR-1 tenha um
balizamento melhor de como deve ser feito, quais ferramentas utilizar e como a
gente vai cobrar que esse programa retrate a real situação do ambiente
laboral”, esclarece o auditor-fiscal do MTE.
Todas
as discussões realizadas durante o debate público “A NR-1 necessária no atual
momento para superar a acidentalidade no Brasil” estão disponíveis no canal da
Fundacentro no YouTube. Acesse: Parte 1 e Parte 2
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