sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Associação quer implementar medidas para aumentar segurança de jornalistas

Presidente da Abert diz que crescente hostilidade contra profissionais da imprensa tem preocupado as empresas jornalísticas.
BRASÍLIA (Agência Brasil) – O presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Daniel Slaviero, disse na terça-feira (11) que a crescente hostilidade contra profissionais da imprensa tem preocupado as empresas jornalísticas, que estão discutindo e implementando medidas para aumentar a segurança de seus empregados.
“As empresas de comunicação têm feito mais que a legislação determina, ou seja, elas têm fornecido coletes, capacetes, máscaras de gás lacrimogêneo e outros equipamentos [de proteção]“, disse Slaviero após participar, em Brasília, da reunião de representantes das três principais entidades representantivas das empresas de comunicação (Abert, Associação Nacional de Jornais e Associação Nacional de Editores de Revista) com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Durante o encontro, as entidades cobraram do governo federal medidas para garantir a segurança dos jornalistas durante os protestos que, desde junho de 2013, vêm ocorrendo em diversas cidades do país.
O fornecimento dos equipamentos de proteção aos jornalistas também pode ser discutido em acordos coletivos de trabalho assinado entre as empresas e os sindicatos da categoria.
Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), não existe uma Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde do Trabalho que obrigue as companhias do setor a fornecer equipamentos de proteção individual (EPIs) aos seus empregados.
“É impossível termos uma especificação genérica dos EPIs para cada tipo de atividade ou empresa, uma vez que a indicação de equipamento é uma questão complexa devido à necessidade específica não só da atividade em si, como também do espaço físico onde essa atividade é feita. Além desses fatores, é necessário fazer uma prévia análise dos riscos aos quais o trabalhador estará exposto para avaliar quais são os equipamentos adequados”, informou o ministério à Agência Brasil.
GERENCIAMENTO DOS RISCOS DA ATIVIDADE

Normas Regulamentadoras de Segurança e Saúde do Trabalho como as que se aplicam, por exemplo, à construção civil, têm que ser cumpridas por todas as empresas do setor. Elas estabelecem as obrigações dos empregadores em relação à adoção de medidas que garantam trabalho seguro e sadio, prevenindo a ocorrência de doenças e acidentes de trabalho.
O Ministério do Trabalho e Emprego, no entanto, destaca que os EPIs não eliminam totalmente o risco de ferimentos ou mortes decorrentes de acidentes de trabalho e que, por isso mesmo, seu uso não impede a adoção de outras medidas de proteção, a observância de procedimentos seguros e o gerenciamento dos riscos da atividade.
Sem saber das informações fornecidas pelo Ministério do Trabalho à Agência Brasil, Slaviero garantiu que, além de fornecer equipamentos de proteção, as empresas jornalísticas adotam outras medidas de segurança, como cursos de capacitação. De acordo com Slaviero, o próprio cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Ilídio Andrade, passou por um curso ministrado pelo Exército. Atingido por um rojão enquanto filmava um protesto contra o aumento das passagens de ônibus no Rio de Janeiro, no último dia 6 de fevereiro, Santiago morreu na segunda-feira (10).
“Ele tinha feito o curso de como cobrir e se comportar em manifestações e áreas de risco. Além disso, havia recebido uma orientação adicional do grupo em que trabalha para que se mantivesse, no mínimo, a 50 metros dos acontecimentos para garantir sua segurança”, disse Slaviero.
CINEGRAFISTA TINHA RECEBIDO TODOS OS TREINAMENTOS E EQUIPAMENTOS.
 Momento exato em que o repórter cinematográfico foi atingido pelo artefato.
Questionado se sabia responder se Santiago recebeu os equipamentos e porque ele estava atuando sem um auxiliar que o ajudasse a se orientar enquanto filmava em meio à confusão, Slaviero garantiu que o cinegrafista tinha recebido todos os treinamentos e equipamentos que a TV Bandeirantes dispõe.

As imagens registradas por vários veículos de comunicação no dia do protesto mostram Santiago de pé, sozinho, sem qualquer equipamento de proteção, em meio a pedras, bombas caseiras, pedaços de paus e outros objetos lançados por manifestantes e bombas de gás disparadas por policiais.
O coordenador de comunicação da organização não governamental (ONG) Conectas e responsável pelo curso sobre jornalismo em situações de conflito armado que o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e a empresa de comunicação Oboré promovem desde 2001, João Paulo Charleaux, destacou que os jornalistas que se expõe a situações perigosas devem receber equipamentos de proteção individual e treinamento sobre como manejá-los.
“Infelizmente, no Brasil, ainda não há essa cultura de preparar os profissionais para cobrir situações de violência e, muito menos, para a compra e uso de material de proteção individual”, acrescentou Charleaux, lembrando que só recentemente os profissionais que cobrem ações policiais em comunidades do Rio de Janeiro começaram a usar capacetes e coletes à prova de balas.
Por Alex Rodrigues. Edição: Fábio Massalli.



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