28/02, Dia
Internacional de Prevenção às Lesões por Esforços Repetitivos, pesquisadores
alertam para a intensificação do trabalho e as mudanças que necessitam ser
feitas.
Por ACS/A.R.
No Dia
Internacional de Prevenção às Lesões por Esforços Repetitivos, pesquisas
realizadas por especialistas da Fundacentro nas diversas áreas do conhecimento,
mostram que a LER/DORT é uma doença crônica, invisível, muitas vezes
irreversível, e que carece de esforço conjunto de instituições em mudar esse
cenário perverso de ocultação da doença.
Pesquisadores
alertam que medidas organizacionais que respeitem as capacidades
psicofisiológicas dos trabalhadores são URGENTES nos pontos de produção de bens
e serviços nos diversos setores econômicos da indústria, comércio, e
agricultura.
As LER/DORT decorrem
da intensificação do trabalho e representam um desgaste do sistema
musculoesquelético de trabalhadores, cujas atividades de trabalho exigem a
execução de movimentos repetitivos, associados muitas vezes a esforços físicos
e manutenção de determinada postura por tempo prolongado.
Costumam evoluir
de forma lenta para quadros crônicos e assim nem sempre são percebidas
precocemente pelos trabalhadores, que retardam a procura por auxílio com receio
de repercussões negativas na empresa, agravados por situações de discriminação
e assédio moral, o que lhes causa sofrimento e transtornos mentais, com grande
impacto em suas vidas e de suas famílias.
Na
década de 80 surgiam os primeiros casos de tenossinovite entre digitadores. A
Fundacentro dava as suas primeiras contribuições junto aos sindicatos de
trabalhadores para estabelecer a correlação entre a atividade e a doença
musculoesqueletica encontrada. Foi nesse período que a introdução de novas
tecnologias se deu no campo da digitação, exigindo maior velocidade na
digitação e a eliminação de pausas. A partir desses estudos o MTE iniciou o
processo de formulação e implementação da atual NR 17.
A Organização Mundial
da Saúde (OMS) revelou, em 2009, que as perturbações musculoesqueléticas eram
responsáveis por mais de 10 % de todos os anos perdidos por invalidez. No
Brasil, há mais de uma década, os distúrbios musculoesqueléticos figuram em
primeiro lugar dentre as doenças relacionadas ao trabalho registradas pela
Previdência Social. Dos benefícios acidentários concedidos pelo INSS, de 2006
para 2007 houve um salto de 19.956 para 95.473, fato desvelado pela
implementação do critério epidemiológico no reconhecimento de acidentes e
doenças ocupacionais e que comprovou haver subnotificação, ainda presente na
atualidade.
O desafio para
estimular a produtividade dos trabalhadores, oferecendo oportunidades de pausas
para descanso e eliminando o uso de estratégias gerenciais de pressão pela
aceleração do trabalho é fundamental para a sustentabilidade do crescimento
econômico do país, promovendo a prevenção de novos casos de transtornos
musculoesqueléticos e garantindo a existência de postos de trabalho para a
reabilitação dos trabalhadores já acometidos por esses transtornos. É preciso
um esforço interinstitucional do estado e das empresas para eliminar a
intensificação do trabalho que tem se mostrado extremamente nociva para a saúde
e segurança dos trabalhadores brasileiros.
Embora
insuficiente, algumas políticas publicas devem ser destacadas: os Anexo I e II da NR 17 e a NR 36, que abordam respectivamente os trabalhos de caixas de
supermercados, as operações de teleatendimento e o processamento das carnes em
frigoríficos. A Instrução Normativa do INSS nº 98/2003 foi elaborada no intuito de estimular e
subsidiar a perícia médica do INSS a reconhecer as LER/DORT e a incapacidade
delas decorrente. O protocolo de Dor Relacionada ao Trabalho: LER/DORT do Ministério da Saúde, de 2012, também teve o
objetivo de dar subsídios aos profissionais de saúde a reconhecerem
precocemente esses quadros clínicos e a notificarem ao Sistema Nacional de
Agravos de Notificação (SINAN). Para auxiliar na divulgação desse Protocolo do
Ministério da Saúde, a Fundacentro produziu video lançado em 2013.
Além
disso, foram evidenciadas nas pesquisas institucionais que os trabalhadores,
mesmo com dores, continuam a exercer sua função e ocultam a doença como forma
de negar que algo esteja errado.
Em
outras situações, o uso de antiflamatórios prescritos servem como paliativo e
mascaram o problema, pois muitas empresas punem o trabalhador por uma doença
não reconhecida e se instala, em muitas vezes, o assédio em cima do adoecido.
Em depoimento extraído de pesquisa institucional verifica-se o medo do
desemprego e a constante luta dos trabalhadores para exercer a atividade a
despeito de suas dores e sofrimento. “Choro de tristeza quando
tenho que trocar os idosos sozinha, por causa do peso. Já estou com começo de
depressão de tanto trabalhar sozinha, eu sei que tem vez que eu estou
trabalhando, tô chorando, só pedindo a Deus, prá Deus me da (r) saúde”.
A resistência
patronal pelo não reconhecimento dessas doenças leva consequentemente a não
implementação de ações prevencionistas. É necessário que a organização das
atividades de trabalho leve em conta a saúde do trabalhador, sem estabelecer
metas abusivas e fornecendo pausas para descanso.
Documento elaborado por profissionais da área de saúde
dos trabalhadores, com contribuições de pesquisadores da Fundacentro, propõe
uma reflexão sobre o papel dos métodos de gestão e a violação dos direitos dos
trabalhadores.
Nesse dia 28 de
fevereiro de 2014, temos a convicção de que muito há que se fazer para que haja
o necessário equilíbrio entre as exigências do trabalho e as capacidades
psicofisiológicas do ser humano.
(*) - Texto com
sugestões da área técnica
Mais informações:
Alexandra Rinaldi
(11) 3066-6334
Nenhum comentário:
Postar um comentário