quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Morre Fabián Tomasi, símbolo da luta contra os agrotóxicos na América Latina



O ex-fumigador argentino sofria de uma doença neurológica causada pela exposição ao glifosato.


Fabián Tomasi foi fotografado por Pablo Piovano para a série fotográfica "O custo humano dos agrotóxicos" / Pablo Piovano.

Fabián Tomasi, trabalhador rural da cidade de Basavilbaso, localizada no estado de Entre Ríos, na Argentina, e símbolo da luta contra os agrotóxicos mundialmente, morreu no último dia 7 de setembro 2018, aos 53 anos.

Tomasi passou parte de sua vida trabalhando em um avião fumigador nas plantações de soja do agronegócio argentino, sem nenhum tipo de proteção, porque seus patrões não o comunicaram que a exposição contínua poderia ser tão prejudicial, nem sequer ofereceram uma vestimenta adequada para que ele pudesse se proteger dos vapores tóxicos ou respingos de produtos como o glifosato. Este agrotóxico foi categorizado em 2015 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “provavelmente cancerígeno”.

Seu trabalho consistia em abrir as embalagens que continham as substâncias químicas, colocá-las em um recipiente e fumigar os cultivos de uma soja em um avião fumigador.

Esta experiência que teve consequências graves para sua saúde. Devido à exposição a pesticidas como o glifosato, Fabián adquiriu uma polineuropatia tóxica, um distúrbio neurológico que causa o mau funcionamento dos nervos periféricos, causando, entre outros sintomas, dores severas nas articulações, dificuldade de ingerir alimentos sólidos e limitação na mobilidade.

A história de Tomasi foi narrada no livro "Envenenados", do escritor e jornalista argentino Patricio Eleisegui, publicado em Buenos Aires pela Editora Gárgola (2017).

Com o passar dos anos, apesar do avanço da doença, que provocou uma debilidade física, o argentino se dedicou a denunciar sua condição e a de milhares de trabalhadores e comunidades rurais vítimas da exposição aos agrotóxicos, concedendo entrevistas e participando de campanhas contra os agrotóxicos e contava com o apoio de organizações ambientalistas e movimentos camponeses, apesar das constantes ameaças que sofria.

Em uma de suas entrevistas, concedida para a agência pública argentina Télam, comentou o descaso sofrido no país, um dos maiores consumidores de agrotóxicos na América Latina:

"Eu sempre dou o meu nome, meu endereço, para que os engenheiros químicos, os médicos, os políticos venham discutir o tema comigo, mas nunca tive a sorte de conversar com uma autoridade que se interesse pelo tema: ele é tratado quando a opinião pública se manifesta”, afirmou.

Edição: Vivian Fernandes
Versão para o português: Luiza Mançano.

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