Em um mundo cada vez mais globalizado e competitivo, as empresas têm de buscar a autossuperação em período integral, todos os dias, o que torna cada vez mais normal a existência de vários turnos de trabalho. Essa realidade está incorporada ao dia a dia de hospitais, aeroportos, rodovias, delegacias de polícia e outros serviços essenciais à população e de infraestrutura em todos os países, mas tem se estendido a outros setores.
"Esta popularização do trabalho por turnos, em especial nos setores industrial, automotivo, petroquímico, comercial e de serviços, hoje já é objeto de diversos estudos da classe médica no mundo, que se dedica a descobrir quais as consequências desta demanda econômica na vida dos trabalhadores e de suas famílias", afirma Dalva Poyares, médica neurologista do Instituto do Sono de São Paulo e professora livre docente do Departamento de Psicobiologia da Unifesp.
Diversos transtornos à vida e à saúde dos trabalhadores foram evidenciados nesses estudos médicos nos últimos anos. Um deles, realizado nos EUA, onde mais de seis milhões de trabalhadores executam trabalho noturno fixo ou rotativo, constatou que para 20% destes profissionais é insuportável lidar com as alterações causadas no ritmo circadiano, mecanismo cerebral que regula o relógio biológico do corpo - hora de acordar, comer, dormir etc. "O organismo destas pessoas não aceita a alteração do relógio biológico, que é coordenado pelo ciclo solar, e o resultado é uma mudança significativa em várias funções metabólicas do organismo", reforça a doutora Dalva.
Mas com a competitividade no mercado de trabalho e a necessidade de garantir seu sustento e das famílias, grande número de pessoas precisa trabalhar à noite ou em turnos rotativos e tem de lidar diariamente com distúrbios do sono, como sonolência excessiva, apneia e insônia, entre outros, que por sua vez se refletem em outros problemas de saúde. Segundo Dalva, diferentes estudos comprovaram que, ao sofrer com um transtorno do sono, o indivíduo amplia o risco de ter doenças cardiovasculares, gastrintestinais, hipertensão, diabetes mellitus e obesidade, entre outras enfermidades, sem contar prejuízos relevantes à qualidade de vida social e ao desempenho profissional. "Experimentos já associaram o trabalho por turnos rotativos noturnos ao aumento de 4% na possibilidade de ocorrência de AVC para cada cinco anos trabalhados", esclarece a médica.
A médica esclarece que é comum as empresas atenuarem a escassez de pessoal com a criação de turnos de trabalho estendidos, de 10, 12, 16 horas ou mais. O problema é que expedientes que se estendem além das tradicionais 8 horas ampliam a fadiga do trabalhador, bem como a possibilidade de erros por perda de atenção e diminuição da prontidão, o que prejudica a produtividade e a qualidade dos serviços prestados. "Nos trabalhadores em turnos de serviços de emergência, como bombeiros, médicos, enfermeiros ou aqueles que tomam decisões críticas, a constatação de distúrbios no sono deve ser imediatamente tratada, pois um procedimento ou ação equivocada pode prejudicar ou destruir, não só carreiras bem-sucedidas, mas vidas de pessoas que dependem da atuação precisa destes profissionais", ressalta doutra Dalva.
Tratamento:
Uma série de estudos que avaliaram medidas ou intervenções nos trabalhadores nos trabalhos por turnos, além de tratamentos propostos, inclui intervenções cronobiológicas, como exposição à luz, o hormônio melatonina, agentes hipnóticos, cafeína e estimulantes do sistema nervoso central, bem como ativos farmacêuticos promotores de alerta, como a modafinila (a droga maravilha).
Até o final de 2006 foram realizados três estudos clínicos randomizados (com amostra significativa e parâmetros de avaliação) e duplo-cegos (nem o examinado nem o examinador sabem o que está sendo utilizado como variável em um dado momento), que avaliaram os efeitos da modafinila no tratamento dos distúrbios do sono nos trabalhadores em turnos. Os resultados mostraram que os participantes apresentaram melhora significativa na capacidade de manter a vigília durante a realização de atividades (por exemplo, trabalhar e dirigir) e de memória, bem como melhor condição clínica geral e na atenção sustentada.
A modafinila atua no Sistema Nervoso Central (SNC) ativando regiões do cérebro responsáveis pela promoção do estado de vigília sem interferir no sono noturno. "É um medicamento mais seguro que seus antecessores, pois não causa os efeitos colaterais de estimulantes da classe das anfetaminas e da cafeína (tomada no café), como irritabilidade, irritação gástrica e aumento da pressão arterial sistêmica, além de não existir risco de dependência física e de perda de efeito. Também não acarreta euforia, alteração de humor e nem taquicardia, como provocam as anfetaminas", explica o especialista.
Fonte: Lide Comunicação
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