quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Empresários descumprem interdição de máquinas em Nova Andradina e vão presos.

Máquina sem proteção ameaça integridade física do trabalhador.

Máquinas de serraria foram interditadas em maio por descumprimento de exigências da NR 12.

Nesta semana, no dia 30 de julho, um empresário e um empregado de duas serrarias de Nova Andradina (MS) foram presos pela Polícia Federal de Dourados por descumprimento de Termo de Interdição de máquinas, determinado em maio deste ano.

A fiscalização, segundo relato do Auditor-Fiscal do Trabalho Douglas Ferreira Santos, teve início em 27 de maio. Ele e os Auditores-Fiscais Gentil Santana e Marcelo Nantes fiscalizaram as empresas para verificar as condições das máquinas e as condições de trabalho oferecidas aos empregados. 

Constataram que praticamente todas as máquinas eram muito antigas e ofereciam riscos aos trabalhadores por descumprirem exigências da Norma Regulamentadora – NR 12, sobre segurança em máquinas e equipamentos. Havia registro de acidentes de trabalho anteriores com graves sequelas para trabalhadores que, até hoje, estão afastados da atividade por determinação da Previdência Social. 

As máquinas, de acordo com os Auditores-Fiscais, apresentavam zonas perigosas expostas – disco de serra circular, transportadores contínuos de materiais, correias e correntes transmissoras de força – e zonas de prensagem sem proteção. Não tinham dispositivos de parada de emergência e eram dotadas de dispositivos de acionamento e parada que permitiam o funcionamento acidental ou involuntário. Além disso, as instalações elétricas encontravam-se em péssimo estado, com "gambiarras" por toda a parte, favorecendo a ocorrência de incêndios, que se alastrariam facilmente pelo ambiente, visto a grande quantidade de madeira e serragem nos locais. 

A interdição das máquinas inviabilizaria a atividade das empresas. Apesar disso, após a fiscalização, as empresas não apresentaram pedidos de levantamento da interdição, o que só poderia ser feito após nova vistoria e verificação quanto ao cumprimento das exigências da NR 12. Há alguns dias o Ministério Público do Trabalho – MPT recebeu a denúncia de que as empresas estavam funcionando normalmente, com as mesmas máquinas. 

Uma equipe foi formada pelos Auditores-Fiscais Douglas Santos e Gentil Santana, dois agentes da Polícia Federal e um Procurador do Trabalho para ir a Nova Andradina no dia 30 de julho verificar a denúncia. Subdividiram-se em duas equipes e constataram que as empresas realmente estavam em pleno funcionamento, com as máquinas operando sob interdição. 

Os responsáveis foram chamados, mas apenas um deles compareceu. O outro enviou uma advogada, que declarou o não comparecimento do proprietário. Neste caso, um gerente foi identificado como preposto, e conduzido  à delegacia da Polícia Federal de Dourados, juntamente com proprietário da outra empresa. Em ambas as empresas, foi dada a ordem de parada das máquinas. 

Os empresários foram ouvidos pela Polícia Federal e foram liberados. Será instaurado um inquérito na Justiça Federal pelos crimes de exposição da vida a risco e descumprimento de ordem administrativa.

Douglas Santos explica que, daqui por diante, caso as empresas continuem a operar sob interdição, serão lavrados outros Autos de Infração por descumprimento de interdição e expedidos comunicados às autoridades competentes. Como se trata de crime federal, não compete à fiscalização do trabalho tomar medidas de outra natureza.

Este é mais um caso em que o descaso com a vida dos trabalhadores fica evidente. As regras da NR 12 têm a finalidade de proteger a integridade física e a vida dos empregados e cabe aos empregadores zelar para que isso seja cumprido. Ao invés disso, o que se observa com muita frequência é que os empresários encaram as adequações do maquinário como despesas e não como investimento, o que realmente representa nesse caso. É este tipo de pensamento que justifica a pressão do empresariado sobre o Ministério do Trabalho e Emprego para que a fiscalização da NR 12 seja suspenso. 

O caso repercutiu na imprensa local. 
Veja a matéria publicada no Jornal da Nova. 

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