Ergonomia
- MPT negocia com indústria redução do peso do saco de cimento para garantir
saúde de trabalhadores.
O
Ministério Público do Trabalho está negociando com os representantes da
indústria de cimento a redução do peso do saco do produto utilizado em todo o
país, com o objetivo de assegurar a saúde dos trabalhadores da construção
civil, que sofrem com doenças ligadas ao excesso de peso dos materiais que
carregam. A proposta do MPT é de reduzir o peso dos sacos dos atuais 50kg, para
25kg, de forma a se aproximar dos padrões previstos em normas técnicas da
Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Este
mês, procuradores integrantes de um grupo de trabalho criado no MPT para tratar
do tema se reuniram com representantes de empresas, do Sindicato Nacional da
Indústria do Cimento e de associação que representa empresários do setor, para
debater a medida. O MPT propõe que seja fixado um prazo entre 5 a 10 anos para
que as indústrias adaptem o tamanho das embalagens. Os empresários irão
analisar a proposta e nova reunião será agendada em outubro, para definir o
prazo. No Brasil existem 20 grupos empresariais de produtores de cimento
composto por cerca de 80 fabricantes.
O
grupo, criado pela Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente de
Trabalho (Codemat) do MPT, é composto por procuradores de diferentes estados e,
desde o ano passado, negocia com trabalhadores e empresários do setor
estratégias nacionais de combate às irregularidades na indústria da construção
civil. A ideia é que seja firmado termo de ajustamento de conduta com as
indústrias de cimento, de forma que elas tenham um prazo para se ajustar à nova
pesagem.
“O
problema não é com os trabalhadores da indústria de cimento, mas sim nas
distribuidoras e obras onde os trabalhadores carregam o peso excessivo. No
entanto, com a redução do saco fabricado pela indústria, conseguiremos atacar o
problema em toda a cadeia produtiva”, explica o procurador do trabalho de
Goiás, Marcelo Ribeiro Silva, gerente do grupo.
Segundo
ele, a adequação de todo o setor industrial é benéfica para as próprias
fabricantes, já que vai evitar concorrência desleal entre as marcas. “Queremos
que o saco de 50kg seja extinto do mercado para impedir que um comprador opte
por uma marca ou outra de cimento apenas por conta do peso do pacote”,
complementa o procurador do trabalho do Rio de Janeiro, Rodrigo Carelli, que é
vice-gerente do grupo de trabalho.
A
proposta do MPT se baseia no Método Niosh, uma metodologia internacional usada
para calcular, para cada situação de trabalho, o limite de peso recomendado a
se carregar, de forma que não prejudique a saúde do trabalhador. Pelo método, o
peso recomendado para os sacos de cimento é de 22Kg, proporção esta também
recomendada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Órgãos de
segurança e saúde dos Estados Unidos e da União Europeia já exigem o limite de
23 kg para os pacotes de cimento.
O
artigo 198 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), de 1943, fixa em 60kg o
peso máximo que um empregado pode remover individualmente, ressalvadas as
disposições especiais relativas ao trabalho do menor e da mulher. Contudo,
segundo os procuradores, o limite já está defasado, conforme apontam estudos de
saúde do trabalhador, sem contar que a própria Constituição Federal, que é de
1988, resguarda aos trabalhadores o direito à "redução dos riscos
inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança".
Tanto que já tramita no Congresso Projeto de Lei prevendo a redução do peso
máximo previsto na CLT para cargas sustentadas pelos trabalhadores.
“Buscamos
uma solução negociada na via administrativa para evitar ter que partir à ação
judicial individual contra cada empresa, o que pode causar uma distorção de
mercado. É importante que as indústrias comecem a se adaptar, pois a mudança
virá de qualquer forma”, alerta Rodrigo Carelli. Segundo ele, o grupo de
trabalho também está preparando um levantamento sobre a quantidade de acidentes
de trabalho ocasionados pelo excesso de peso carregado pelos trabalhadores da
construção civil. O projeto prevê, ainda, uma campanha de conscientização de
toda a cadeia produtiva sobre os riscos do excesso de peso para a saúde dos
trabalhadores.
Fonte:
Ministério Público do Trabalho - RJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário