Profissionais "cinquentões" têm aumentado sua presença no mercado de trabalho. Eles exercem funções renegadas pelos mais jovens e ocupam cargos que exigem especialização ou maior experiência.
"O mercado sofre com um apagão de mão de obra", diz Fátima Sanchez, gestora do Instituto Personal Search, entidade que recoloca profissionais no mercado. Na ausência do trabalhador mais tarimbado, as empresas criaram estratégias, como "desaposentar" profissionais que estavam longe do mercado.
Segundo o Ministério do Trabalho, os maiores de 50 anos ocupavam 14,21% dos mais de 44 milhões de postos em 2010. Eles preencheram mais de 20% das quase 3 milhões de vagas abertas.
Aloísio Buoro, professor do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) de São Paulo, aponta o setor da construção civil como um dos nichos promissores de recrutamento.
É o caso do Luiz Fernando Penalva, 62. Ele se demitiu em 2008, depois de passar 12 anos como gerente de condomínios em Alphaville, região de alto padrão próxima a São Paulo. Há um ano e meio foi contratado como engenheiro civil sênior pela construtora Contracta Engenharia.
"Já fiz dezenas de obras", diz. "Quando uma delas começa, já tenho uma visão dos problemas que podem ocorrer." Ele afirma ganhar até 8% acima do salário médio para a função que ocupa e diz já ter recebido propostas para trocar de empresa. Mas não pensa em sair. "Na minha idade, se eu der um salto, tem que ter muita certeza."
Jacqueline Resch, sócia-diretora da empresa de recrutamento e seleção de executivos Resch Recursos Humanos, também afirma que há espaço no mercado de trabalho para "pessoas nessa faixa etária", mas elas têm de estar atualizadas. "Não dá para envelhecer nesse sentido", afirma, ressaltando que é impossível trabalhar hoje com referência em uma experiência de 20 anos atrás.
Os especialistas apontam também como setores demandantes dos profissionais "cinquentões" capacitados o agronegócio, a mineração e a área de energia (óleo, gás e petróleo).
BAIXA QUALIFICAÇÃO
Mesmo para os trabalhadores sem qualificação há oportunidades, dizem os especialistas.
O Grupo Pão de Açúcar criou há dez anos o Programa Terceira Idade, que contrata pessoas com 55 anos ou mais. São empacotadores, operadores, auxiliares de cozinha, padeiros e consultores de clientes.
"Eles têm maior comprometimento, sabem ouvir", diz a gerente de RH do grupo Vandreia de Oliveira.
Para Buoro, do Insper, nesses setores não tão atrativos para quem está no começo da vida profissional, é mais fácil tirar da aposentadoria e treinar alguém mais velho com vontade de trabalhar.
Independentemente da função ou do setor, a inclusão de mão de obra com mais experiência no mercado de trabalho tende a mudar a cabeça do empregador.
"As empresas não estão mais restritas a contratar só jovens. Elas procuram quem está no mercado ou quem já saiu dele. Isso amplia a quantidade de oferta de mão de obra", conclui Buoro.
Helton Simões Gomes
Colaboração para A FOLHA
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