27
de julho de 2017 marca 45 anos do SESMT
(Uma
reflexão para o passado, presente e futuro).
Por
José Augusto da Silva Filho
"Não
creio que sejamos parentes muito próximos, mas se você é capaz de tremer de
indignação cada vez, que se comete uma injustiça no mundo, então somos
COMPANHEIROS, o que é mais importante".
(Ernesto
Che Guevara).
No
dia 27 de julho de 1972, o Ministro do Trabalho Júlio Barata regularizou o
artigo 164 da CLT, e publicou a Portaria 3.236, referente à formação técnica em
Segurança e Medicina do Trabalho e a Portaria 3.237, regulamentando o artigo
164 da CLT, obrigando a existência de Serviço Especializado em Segurança e em
Medicina do Trabalho (SESMT) nas empresas com mais de 100 funcionários,
tornando o nosso país, o primeiro a ter um serviço obrigatório de segurança e
medicina do trabalho. Um dos principais motivos da regularização desse artigo
foi a imagem negativa que o quadro de acidentes de trabalho no Brasil causava
perante o cenário mundial, quase 40% da força de trabalho sofria lesões.
O
índice era alarmante 1,7 milhão de acidentes ocorriam por ano. Havia grande pressão,
inclusive do Banco Mundial, de retirar qualquer empréstimo ao Brasil se esse
quadro permanecesse.
Durante
esses 45 anos, a resposta foi dada, o empenho e a dedicação dos especialistas
em segurança e saúde no trabalho diminuíram o número de acidentes, estando
comprovado que o SESMT – Serviços Especializados em Segurança e em Medicina do
Trabalho devem ser incentivados e apoiados por trabalhadores, empresários e
governo de todas as maneiras possíveis, sendo imprescindível a presença desses
profissionais nas empresas e nos ambientes de trabalho.
O
SESMT ocupa hoje um papel preponderante nas empresas. Quando se fala em
globalização, competividade, abertura de mercado, o índice de acidentes de
trabalho constitui indicador de qualidade, sendo indispensável à manutenção
desses profissionais de segurança e medicina do trabalho dentro das empresas.
Esse
dia 27 de julho, Dia Nacional da Prevenção de Acidentes, deve ser dedicado a
todos os companheiros (as) prevencionistas desse país que foram e são
responsáveis pela grande melhoria do ambiente e das condições de trabalho.
Cuidar
da segurança, da saúde e da vida dos trabalhadores, através de técnicas e de um
processo educativo, sempre será o principal objetivo desses profissionais.
Nesses 45 anos, mudamos rotinas, procedimentos, mentalidade de pessoas e demos
a nossa contribuição, doamos também parte da nossa vida para que aconteça cada
vez menos acidente.
Profissional
e Consultor na Área de Segurança e Saúde no Trabalho que sou (Técnico de
Segurança do Trabalho), Atuando desde 1975 nessa área procurei dar a minha
contribuição dentro desse processo todo, ao escrever o livro “Ciências Sociais
e Políticas na Área de Segurança, Saúde e Meio Ambiente (LTr Editora Ltda.),
pensando no futuro e procurando transmitir aos leitores a minha experiência
acumulada ao longo desses anos, dentro do aspecto e do ponto de vista humanístico
na prevenção de acidentes do trabalho.
Participamos
também com muita honra e prazer, na construção da Política Nacional de
Segurança e Saúde no Trabalho (PNSST) e do Programa Nacional de Segurança e
Saúde no Trabalho (PLANSAT), em inúmeras revisões e elaborações das Normas
Regulamentadoras do Trabalho e do atual CBO do Técnico de Segurança do
Trabalho, acreditando nessa próxima etapa, nessa nova alternativa da prevenção
de acidentes no trabalho, ou seja, nesses próximos anos que temos pela frente!
Há
a necessidade de diversas iniciativas para reduzir os acidentes e melhorar as
condições de trabalho no Brasil. A sociedade organizada deve fazer a sua parte
e o governo de forma interministerial, devem propor medidas para aperfeiçoar as
condições de trabalho, através de implantações de políticas públicas eficazes
na área da segurança e saúde no trabalho. E no caso das empresas, devem tratar
a prevenção como parte integrante de suas atividades e de seus negócios, onde
através de sistema de gestão, contemple a busca de ambientes seguros de
trabalho, conforme determinou o 18º Congresso Mundial sobre Segurança e Saúde
no Trabalho, promovido pela Organização Internacional do Trabalho - OIT,
realizado em Seul - Coréia do Sul.
Tradicionalmente
no Brasil, as políticas de desenvolvimento têm se restringido aos aspectos
econômicos e vêm sendo traçadas de maneira paralela ou pouco articuladas com as
políticas sociais, cabendo estas últimas arcarem com o ônus dos possíveis danos
gerados sobre a saúde da população dos trabalhadores em particular e a
degradação ambiental. Observa-se também a grande diversidade da natureza dos
vínculos e relações de trabalho e o crescimento do setor informal e do trabalho
precário e escravo, acarretando baixa cobertura dos direitos previdenciários e
trabalhistas para os trabalhadores, não se justificando diante desta atual
conjuntura, precarizar e tampouco flexibilizar os Serviços Especializados em
Segurança e em Medicina do Trabalho - SESMT, mas sim aperfeiçoá-lo e ampliá-lo;
devendo haver no Brasil, uma Política Pública definida e articulada, que
desencadeiem abordagens transversais e intersetoriais, que viabilize as ações
de segurança e saúde, nas atuações multiprofissional, interdisciplinar e
intersetorial, capaz de contemplar a complexidade das relações
produção-consumo-ambiente-segurança no trabalho e saúde.
Esse
novo modelo (previsto na Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho -
PNSST), propõe do ponto de vista interministerial, a implantação de uma
política de Estado e não de governo, com o objetivo de aperfeiçoar as condições
de trabalho, através de várias ações previstas nessa política e respectivo
plano nacional indo em direção à ratificação da Convenção OIT 187 (Convenção
sobre o quadro promocional para a segurança e saúde no trabalho) pelo Brasil.
Algumas
das propostas dentro dessa política e do plano estão alicerçadas em três bases:
a)
instituição do Fator Acidentário Previdenciário - FAP, que flexibiliza de 50 a
100% a alíquota do Seguro Acidente do Trabalho - SAT);
b)
constituição do Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário - NTEP;
c)
inversão do ônus da prova do Nexo Acidentário, onde as doenças ocupacionais
passam a receber uma atenção mais epidemiológica do que individual, pois a nova
lei considera que a maioria das patologias apresentadas por indivíduos que
recebem benefício da Previdência Social tem um aspecto subjetivo e é de origem
multicausal, tais como as doenças auditivas, ergonômicas e psicossociais,
entrando em cena a Classificação Internacional de Doenças (CID), que dentro da
metodologia adotada terá como fonte primária estatística a Classificação
Internacional de Doenças (CID), preenchida pelo Médico que atendeu ao
acidentado e quem geralmente valida a concessão do benefício previdenciário de
qualquer natureza; e outras propostas.
Devem-se
também:
1)
caminhar para o lado da melhoria contínua e do desempenho nesta área, visando à
redução dos índices de sinistralidade, adotando a humanização nos locais de
trabalho e o empresariado acreditar e conscientizar que isto não são despesas e
custos, mas sim investimento;
2)
política nacional de incentivo para a implantação de sistemas de gestão em
segurança e saúde no trabalho nas empresas ou de forma integrada (SIG);
3)
resgatar o verdadeiro papel da Fundacentro no campo da pesquisa e da prevenção,
dando continuidade na pesquisa, promoção de eventos, cursos e outras atividades
educativas de forma regionalizada e com financiamento baseado no orçamento da
União, através de programa específico;
4)
as empresas devem ser competitivas em todos os aspectos e não apenas no
produtivo, pois brevemente os clientes só poderão contratar seus serviços e
produtos se possuir estas características voltadas para a área de prevenção de
acidentes e das doenças ocupacionais e/ou profissionais, vindo atender
conformidades de seu sistema de gestão desses seus clientes, além do aspecto
jurídico que é a responsabilidade solidária na esfera civil e criminal;
5)
os sindicatos e as federações de trabalhadores também devem fazer os seus
deveres de casa, ou seja, realizar cursos de formação dos dirigentes sindicais
na área de segurança saúde do trabalho e meio ambiente, que ajudará a
compreender o homem e sua cultura, fornecendo dados suficientes para que possa
traçar o seu perfil e conhecendo esse perfil, formular políticas de prevenção e
de intervenção através de ação sindical, tendo como objetivo a conscientização
ampla sobre às questões relacionadas com a segurança, saúde e meio ambiente,
promovendo a melhoria das condições de trabalho e de saúde dos trabalhadores.
As entidades sindicais devem, portanto, discutirem e aprovarem uma estrutura
que contemple a formação sindical na área de segurança e saúde no trabalho,
criar um núcleo ou departamento de segurança e saúde no trabalho de forma
compartilhada com as federações, aprovando em suas previsões orçamentárias,
valores para custear esta estrutura, prevendo inclusive os custos com os
profissionais da área de segurança e saúde no trabalho (técnicos e engenheiros
de segurança do trabalho, médicos do trabalho e outros), que irão trabalhar nas
ações sindicais voltadas para a SST, estatísticas, formação, eventos, atenção e
vigilância sobre a saúde dos trabalhadores da categoria e outras atividades de
cunho educativo, preventivo e técnico.
Temos
cinco novos desafios pela frente:
1-
e-Social em 2018;
2-
Quarta revolução industrial: O uso de novas Tecnologias da Informação na SST;
3-
Treinamento para os cursos previstos nas Normas Regulamentadoras - EaD;
4-
LEI No 13.467, DE 13 DE JULHO DE 2017, que altera a CLT (novas relações de
trabalho);
5-
ISO / DIS 45001 - Sistemas de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional (SSO).
Concluindo,
o país precisa investir mais em prevenção e gastar menos com acidentes de
trabalho, pois a prevenção é o principal instrumento para enfrentar esses novos
desafios e propostas ora apresentadas.
Parabéns
a todos que trabalham nessa área e vamos continuar nessa jornada, em defesa da
segurança e saúde de todos, indiscriminadamente, acreditando e apostando em
dias melhores, novas conquistas, lutando contra o preconceito e atitudes
antiéticas, pois o Brasil e o povo brasileiro merecem o empenho e a dedicação
de todos nós!
©
José Augusto da Silva Filho - Fundador da Federação Nacional dos Técnicos de
Segurança do
Trabalho
- FENATEST presidindo-a por 10 anos e Secretário Geral da FENATEST, por 04
anos; Diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira dos Técnicos
de Segurança do Trabalho -
ABRATEST;
Técnico de Segurança do Trabalho e Consultor Técnico em Segurança do Trabalho
da JS Técnicas & Soluções em Barueri - SP e Consultor Técnico da Revista
Proteção. Foi Conselheiro do CONAMA e da FUNDACENTRO, Vice-presidente do DIAP e
Secretário Geral da CNTC em Brasília-DF.
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