segunda-feira, 31 de julho de 2017

Paraná registra um acidente de trabalho a cada 10 minutos

Entre 2011 e 2015 foram registradas 253.721 ocorrências no Estado. No período, foram 1.158 mortes.

Uma verdadeira tragédia se abate sobre o Paraná ano após ano. Não se trata de desastres naturais, guerra ou mesmo alguma alta nos índices de violência. São os acidentes de trabalho, registrados em média a cada dez minutos no Estado. Entre 2011 e 2015, último ano com dados disponíveis, foram 253.721 acidentes, dos quais 1.158 foram fatais – o que representa uma morte a cada 38 horas.

Em 27 de julho celebra-se o Dia Nacional de Prevenção de Acidentes de Trabalho, uma forma de destacar o problema ao mesmo tempo em que se renova o compromisso com a prevenção, a saúde e a segurança no trabalho.

Segundo dados da Previdência Social, somente em 2015 o Paraná registrou um total de 47.337 acidentes desse tipo, o que deixa o estado em quarto lugar no ranking nacional quando considerados os números absolutos, atrás apenas de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Com relação aos óbitos, foram 212 - apenas São Paulo (662) e Minas Gerais (304) registraram mais acidentes fatais.

No mesmo ano o estado contabilizou um gasto de R$ 18,9 milhões em benefícios concedidos em decorrência de acidentes de trabalho, enquanto o total nacional ultrapassou os R$ 289 milhões, divididos em 222.450 benefícios acidentários.

Para o presidente da Associação Paranaense de Medicina do Trabalho, Guilherme Murta, os números “saltam aos olhos”. “Nos últimos cinco anos tivemos um surto de acidentes do trabalho, com impacto de mais de R$ 22 bilhões nos cofres públicos. Foram mais de 3,5 milhões de acidentes de trabalho no período e mais de 13 mil óbitos”, aponta o especialista, citando os dados da Previdência.

Mas se os dados oficiais são alarmantes, a realidade pode ser ainda mais tenebrosa, segundo aponta Adir de Souza, presidente do Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho no Estado do Paraná (Sintespar).

“Os números são grandes, uma verdadeira tragédia, mas esses são só os dados oficiais, de trabalhadores com carteira assinada. Aí não está o trabalhador autônomo, o trabalhador rural. Isso está muito longe da realidade”, afirma Adir.

Evolução dos acidentes
Ocorrências
2015 47.337
2014 52.977
2013 52.574
2012 50.009
2011 50.824

Óbitos
2015 212
2014 231
2013 273
2012 227
2011 215.

Consequências (dados de 2015)
Assistência Médica 7.049
Incapacidade temporária – menos de 15 dias 29.489
Incapacidade temporária – mais de 15 dias 10.924
Incapacidade permanente 799
Óbito 212
Fonte:Previdência Social

Transtornos mentais são problema crescente.

De acordo com o médico do trabalho Guilherme Murta, os problemas mais recorrentes de acidentes do trabalho são traumas em membros superiores, principalmente punhos e mãos, e problemas ósseos-musculares, como tendinite e dores musculares. Uma outra situação, porém, vem na crescnte nos últimos anos: os transtornos mentais, caso da depressão e do estresse pós-traumático, entre outros.

“Não existe uma causa única, mas é uma conjunção de fatores. No trabalho os fatores influenciadores desses distúrbios são monotonia nas atividades, grande exigênxia nas tarefas, pouca autonomia, atividades muito repetitivas, exigência de metas impraticáveis, ambientes de trabalho com perigo muito grande. É uma gama de fatores que podem suscitar ansiedade, depressão”, explica o presidente da Associação Paranaense de Medicina do Trabalho.

Terceirização pode agravar problema

Em março deste ano a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei 4.302/1998, que permite o uso da terceirização em todas as áreas (atividade-fim e atividade-meio) das empresas. Sancionada dias depois pelo presidente Michel Temer, a legislação pode impactar diretamente nos índices de acidente do trabalho no Brasil. Estudos do Dieese e da CUT, inclusive, já apontam a relação entre maior número de acidentes e empresas terceirizadas.

“Com certeza vai impactar. Os terceirizados ganham um salário menor e trabalham em condições piores. Eles se acidentam porque não tem uma capacitação rigorosa e as empresas não dão o mesmo tratamento para o terceirizado que dão para os empregados da própria empresa”, argumenta Adir de Souza, presidente do Sintespar.

Já o médico do trabalho Guilherme Murta destaca o fato de a redução de custos ser o principal fator que leva os empresários a terceirizar a mão de obra. “Questiona-se, então, se os cuidados com a saúde do trabalhador, o comprometimento, serão mantidos. Há uma exigência legal de que sejam, isso é importante de se afirmar. Agora, se realmente vai acontecer, é difícil de prever, até porque uma empresa vai se dividir em várias empresas terceirizadas e não se sabe ainda como será o alcance da fiscalização com mais empresas atuando”, finaliza.

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