Beto
Soares - Estúdio Boom
Fonte:
Revista Proteção
Com
um mercado crescente no Brasil e no Exterior, a indústria de alimentos vem
trabalhando a todo o vapor nos últimos anos a fim de atender a ascensão das
vendas no país e dos embarques de produtos para os cinco continentes.
O
bom desempenho favorece a geração de emprego, impulsiona as exportações e
engorda o faturamento das indústrias. Mas, por outro lado, aumenta a pressão no
chão de fábrica por uma produtividade cada vez maior, o que, naturalmente, tem
um efeito perverso para os trabalhadores: elevados índices de acidentes de
trabalho.
Somente
em 2011, os fabricantes de alimentos e bebidas somaram 57 mil acidentes em todo
o território nacional, segundo dados do AEPS (Anuário Estatístico da
Previdência Social 2011). O número coloca o segmento na liderança em número de
ocorrências entre os principais setores da indústria no Brasil, o que justifica
a preocupação de especialistas, Ministério do Trabalho e Ministério Público do
Trabalho em relação à necessidade de se aprimorar a gestão de Saúde e Segurança
do Trabalho nessas empresas.
O
caminho para se garantir mais segurança é conhecido, mas ainda não totalmente
explorado pela maior parte das empresas do setor. Para reduzir acidentes e
doenças ocupacionais, as linhas de produção ainda precisam evoluir na adoção de
pausas, na instalação de proteção de máquinas, no uso de EPIs (Equipamentos de
Proteção Individual) e na implementação de maquinário moderno, mais seguro e
silencioso.
Os
números das vendas da indústria de alimentação atestam o desempenho de um setor
que só faz crescer. Em 2012, o faturamento das companhias do segmento somou R$
431,9 bilhões, valor 12,7% superior ao do ano anterior, segundo dados da ABIA
(Associação Brasileira da Indústria da Alimentação).
Com
o avanço, o setor fez sua participação no PIB (Produto Interno Bruto)
brasileiro subir a 9,8%, resultado garantido pelos sucessivos anos de
crescimento do volume da produção. Somente no ano passado, o total de alimentos
e bebidas produzidos subiu 4,6%. Isso, depois de crescer 5,9%, em 2011, e 7,1%,
em 2010.
São
cada vez mais cortes de carne, alimentos processados, comidas prontas,
biscoitos, bebidas, entre outros produtos que saem de linhas de produção
carregadas de riscos para os mais de 1,6 milhão de trabalhadores. Nos
frigoríficos, o trabalho manual e repetitivo na separação das peças das
carcaças dos animais oferece uma série de perigos.
Máquinas
sem proteção e dispositivos de segurança também representam ameaças em diversos
ramos dessa indústria, seja quando estão em operação, seja na hora da limpeza e
manutenção. Sem falar do desconforto oferecido pelo ruído dos equipamentos e
pela inevitável exposição ao calor de fornos e ao frio das câmaras
frigoríficas. É essa associação entre produção em alta e riscos diversificados,
a receita para uma combinação nociva por trás dos mais de 57 mil acidentes do
trabalho ocorridos no setor em 2011.
Isso
porque parte da expansão da produção se deve a um ritmo de trabalho cada vez
mais intenso provocado pela busca de competitividade e de redução de custos nas
empresas, segundo Artur Bueno de Camargo, presidente da CNTA (Confederação
Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins). "A maioria dos acidentes acontecem pela
pressão da produção, com metas a serem atingidas. E isso acaba levando o
trabalhador a trabalhar de uma forma muito rápida, sem ter tempo de analisar os
riscos que está correndo", avalia.
Trata-se
de um problema que se apresenta principalmente quando a medida adotada para
aumentar a produtividade é simplesmente aumentar o ritmo de trabalho, em vez de
se contratar mais funcionários ou incorporar melhorias tecnológicas, como
observa Roberto Ruiz, médico do Trabalho e consultor na elaboração da NR 36.
Esse
aumento na carga de trabalho que recai sobre cada funcionário é para o
ergonomista Maurício Duque o maior problema ergonômico do setor por afetar
diretamente a saúde física e psíquica do trabalhador. São efeitos que o médico
do Trabalho e auditor fiscal do Trabalho aposentado, Paulo Barros Oliveira,
classifica como riscos organizacionais, típicos de empresas que impõem cadência
e ritmo elevados, falta de pausas, excesso de horas extras e subdimensionamento
de pessoas.
Reportagem
de João Guedes
Confira
a reportagem completa na edição de outubro da Revista Proteção.
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