Ao participar do I Seminário sobre Condições de Saúde e Trabalho
dos Professores, promovido pela Fundação Jorge Duprat e Figueiredo de Segurança
e Medicina do Trabalho (Fundacentro), em São Paulo, a médica e pesquisadora
Ella Avellar afirmou que o adoecimento dos professores pode estar muitas vezes
mais relacionado a questões de organização no trabalho do que a problemas
físicos, como surdez ou depressão. Durante o evento, foram apresentadas pesquisas
e ações que podem contribuir para melhorar as condições de saúde e trabalho dos
docentes nas salas de aula.
Segundo a especialista, que atua no sistema de medicina do
trabalho em Guarulhos, na Grande São Paulo, e nas investigações desenvolvidas
na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, há diversos estudos
mostrando que dependendo do ambiente em que a pessoa trabalha, isso pode
favorecer ou não o seu adoecimento, como no caso dos professores.
“Muitas vezes os técnicos estão preocupados com o ruído que vai
causar surdez. E ali tem que ter um outro olhar. Eles tem que ter como base os
indicadores, não só as normas. Nós temos que ver do que estão adoecendo os
professores”.
Segundo a médica, entre as principais doenças que provocam afastamentos
por mais de 15 dias de docentes da rede municipal de Guarulhos estão
transtornos mentais, como depressão, transtorno bipolar e agorafobia. Também
aparecem com frequência problemas como rouquidão e paralisia das cordas vocais.
Uma pesquisa divulgada pela Confederação Nacional dos
Trabalhadores da Educação (CNTE) em 2012 - Trabalho Docente na Educação Básica
no Brasil -, aponta que as principais causas de afastamento de docentes são
processos inflamatórios das vias respiratórias (17,4%), depressão, ansiedade,
nervosismo, síndrome do pânico (14,3%) e estresse (11,7%). Foram entrevistados
8,9 mil professores em Minas Gerais, no Espírito Santo, em Goiás, no Paraná, em
Santa Catarina, no Rio Grande do Norte e Pará.
Ambiente de trabalho
A médica discorreu sobre a importância que os sistemas de
medicina laboral e segurança devem ter com relação à organização do trabalho.
De acordo com ela, esses serviços costumam, tomar como medida as normas legais
que avaliam riscos físicos objetivos. Porém, no caso da sala de aula, os riscos
à saúde vão além dos mensuráveis com inspeções técnicas. “Raramente as
instituições enxergam isso com ao essência dos adoecimentos. E os próprios
serviços de medicina e segurança também não enxergam”, ressaltou.
“Há vários estudos mostrando a relação do absenteísmo com a
organização do trabalho. Um exemplo disso é quando você tem, por exemplo, além
dos 35 alunos por sala, no mínimo, e também alunos com necessidades especiais”,
disse, citando sua experiência em Guarulhos “Muitas professoras que atendi
traziam essa questão. Às vezes, elas tinham um estagiário que ajudava com esse
aluno portador de deficiência. Às vezes, esse estagiário rodava, e ela passava
a ter que lidar sozinha com o aluno, e isso tinha um impacto grande na sala e
na saúde da professora”, acrescentou, para ilustrar como a falta de
planejamento adequado pode penalizar os docentes.
Entre outros fatores que podem afetar a saúde dos professores,
Ella destacou ainda a falta de flexibilidade da gestão, apoio insuficiente dos
supervisores e comandos dúbios. Avaliações desrespeitosas e gestão autoritária
também podem ser prejudiciais.
Edição: Maria Claudia
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