Natalir Cardoso tem 13 anos de profissão e seis
ataques de cachorro no "currículo"
Acidente
No ano passado, o Hospital Cajuru recebeu 261 casos
graves; se houver riscos a funcionários, Correios podem cancelar serviço
Responsabilidade
Negligência dos donos é a causa mais comum de
ataques
Há 13 anos na profissão, o carteiro Natalir
Rodrigues Cardoso de 51 anos, foi atacado seis vezes por cachorros. Na última,
há pouco mais de um mês, ele chegou a ser arrastado pelo animal e só conseguiu
se livrar quando uma moradora avançou com o carro sobre o cachorro. Cardoso
conta que o trabalho poderia ser mais seguro, se os donos das casas cuidassem
mais dos animais. “Às vezes a pessoa abre a garagem e o cachorro foge. Ele me
enxerga e avança”, conta. E nem sempre o dono presta assistência à vítima. Das
seis vezes, por exemplo, só em uma vez o dono do animal levou Cardoso até a
Unidade de Saúde mais próxima e lhe pagou os remédios.
Rose Maria Manosso, gestora de medicina e segurança
do trabalho dos Correios, diz que em casos de risco ao funcionário, a
correspondência do domicílio pode ser cancelada e o morador deve buscar suas
cartas na central de distribuição mais próxima. Para evitar transtornos, a
empresa orienta que as caixas receptoras sejam instaladas a uma altura de 1,2 a
1,6 metros de altura do piso e rente ao muro ou portão. “O carteiro avisa qual
casa oferece perigo e mandamos uma notificação pedindo que as alterações na
caixa sejam feitas. Na terceira advertência, cancelamos o serviço”. A gestora
conta que a medida tem sido tomada desde 2010 reduzindo o número de ataques. A
empresa presta todo atendimento médico ao funcionário, inclusive em casos de
traumas psicológicos.
Orientações
Veja o que deve e o que não deve ser feito caso
você seja atacado:
- Não corra nem grite.
- Tente ficar parado.
- Se for atacado, fique em posição fetal protegendo
a cabeça com os braços e imobilizado
- Não force o animal a soltá-lo. Peça a alguém que
erga as patas traseiras, desestabilizando o cachorro. Ele tende a soltar a
vítima
- Após levar a mordida, aperte a região ferida com
um tecido limpo e vá até a Unidade de Saúde mais próxima
- Se possível leve sua carteirinha de vacina e a do
animal
- Animais conhecidos: ele deve ser observado por
dez dias após o acidente para identificar sintomas de raiva. Dependendo da
gravidade do acidente e da suspeita de animal doente, a vacina antirrábica é
aplicada na vítima
- Animais desconhecidos: a vacina deve ser aplicada
na vítima logo após o acidente
Fonte: cartilha da campanha distribuída pelo Hospital
Universitário Cajuru.
Ataque
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna
do Leitor.
Dificilmente um cachorro ataca alguém sem
“motivos”. De acordo com o professor de Medicina Veterinária da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Paulo Parreira, especialista em
comportamento animal, o cachorro só ataca alguém quando entende que seu
território está em perigo. “Tudo o que o cão vê, escuta e fareja torna-se seu
território”, conta. Pode-se entender então, que tudo o que se move é alvo do
animal. Por esse motivo, só nos hospitais do Paraná, em 2011, foram mais de
37,6 mil acidentes com bichos notificados, segundo a Secretaria de Saúde do
Paraná – uma média de cem registros por dia. Esses, em geral, são atendimentos
graves. Nessa conta não entram os acidentes leves, os que comumente acontecem.
Diante desse quadro, o Hospital Universitário
Cajuru, que é referência no atendimento de traumas no estado, lança neste ano,
a segunda edição da Campanha de Conscientização e Prevenção de Acidentes com
Cães. “Em 2010 o Cajuru atendeu 348 casos graves de acidentes com cães.
Aproximadamente 30 por mês. Após a primeira campanha, o número caiu para 261.
Uma redução de 33%”, conta Simonne Simioli, gerente médica do hospital. E os
cães não escolhem idade para atacar. Quando o acidente é com crianças,
normalmente o animal é da própria casa e isso facilita os cuidados médicos, de
acordo com Simioli. Os adultos costumam ser atacados também por animais de
terceiros ou que vivem nas ruas.
Profissionais
O sucesso da campanha passada fez com que algumas
empresas de Curitiba, que têm em seus funcionários os principais interessados
na conscientização da população, aderissem ao projeto. Esta segunda edição, que
acontece hoje e amanhã, conta com o apoio da Cavo (empresa responsável pela
coleta de lixo da capital e região metropolitana), dos Correios, da Copel e
Sanepar. Juntas, essas quatro empresas somaram, entre janeiro e março deste
ano, 66 registros de acidentes, só em Curitiba e região metropolitana.
Para esses profissionais, a recomendação dos
especialistas é que atenção seja redobrada, principalmente para aqueles que
costumam correr, como os coletores de lixo. Além disso, os coletores, carteiros
e leituristas não devem projetar o corpo, mão ou braço para dentro do imóvel
sem ter a certeza de que o animal não está perto. Por vezes eles se escondem
atrás de folhagens ou muros. Evitar gritos ou gestos ameaçadores também é
importante, já que a mera presença estranha estimula o animal.
Por lidar com
objetos cortantes, a Cavo já disponibiliza aos seus funcionários sapatos
reforçados, calças com proteção lateral, luvas e camisas com mangas compridas.
Jeferson Pereira Elias, de 28 anos e há três anos e meio na empresa, conta que
o uniforme ajuda muito na hora do ataque, mas ainda assim, vez ou outra a
mordida ultrapassa a proteção. “Uma vez fui mordido e o ferimento foi profundo.
Avisamos a empresa e o técnico de segurança do trabalho veio me ajudar.
Precisei tomar a vacina antirrábica”.
Fonte: Antônio Costa /
Gazeta do Povo
Publicado em 24/04/2012 | Angélica Favretto,
especial para a Gazeta do Povo.
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