sexta-feira, 27 de abril de 2012

Paraná tem 100 casos diários de ataques de cães




Natalir Cardoso tem 13 anos de profissão e seis ataques de cachorro no "currículo"

Acidente

No ano passado, o Hospital Cajuru recebeu 261 casos graves; se houver riscos a funcionários, Correios podem cancelar serviço
Responsabilidade
Negligência dos donos é a causa mais comum de ataques
Há 13 anos na profissão, o carteiro Natalir Rodrigues Cardoso de 51 anos, foi atacado seis vezes por cachorros. Na última, há pouco mais de um mês, ele chegou a ser arrastado pelo animal e só conseguiu se livrar quando uma moradora avançou com o carro sobre o cachorro. Cardoso conta que o trabalho poderia ser mais seguro, se os donos das casas cuidassem mais dos animais. “Às vezes a pessoa abre a garagem e o cachorro foge. Ele me enxerga e avança”, conta. E nem sempre o dono presta assistência à vítima. Das seis vezes, por exemplo, só em uma vez o dono do animal levou Cardoso até a Unidade de Saúde mais próxima e lhe pagou os remédios.
Rose Maria Manosso, gestora de medicina e segurança do trabalho dos Correios, diz que em casos de risco ao funcionário, a correspondência do domicílio pode ser cancelada e o morador deve buscar suas cartas na central de distribuição mais próxima. Para evitar transtornos, a empresa orienta que as caixas receptoras sejam instaladas a uma altura de 1,2 a 1,6 metros de altura do piso e rente ao muro ou portão. “O carteiro avisa qual casa oferece perigo e mandamos uma notificação pedindo que as alterações na caixa sejam feitas. Na terceira advertência, cancelamos o serviço”. A gestora conta que a medida tem sido tomada desde 2010 reduzindo o número de ataques. A empresa presta todo atendimento médico ao funcionário, inclusive em casos de traumas psicológicos.
Orientações
Veja o que deve e o que não deve ser feito caso você seja atacado:
- Não corra nem grite.
- Tente ficar parado.
- Se for atacado, fique em posição fetal protegendo a cabeça com os braços e imobilizado
- Não force o animal a soltá-lo. Peça a alguém que erga as patas traseiras, desestabilizando o cachorro. Ele tende a soltar a vítima
- Após levar a mordida, aperte a região ferida com um tecido limpo e vá até a Unidade de Saúde mais próxima
- Se possível leve sua carteirinha de vacina e a do animal
- Animais conhecidos: ele deve ser observado por dez dias após o acidente para identificar sintomas de raiva. Dependendo da gravidade do acidente e da suspeita de animal doente, a vacina antirrábica é aplicada na vítima
- Animais desconhecidos: a vacina deve ser aplicada na vítima logo após o acidente
Fonte: cartilha da campanha distribuída pelo Hospital Universitário Cajuru.
Ataque

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.
Dificilmente um cachorro ataca alguém sem “motivos”. De acordo com o professor de Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Paulo Parreira, especialista em comportamento animal, o cachorro só ataca alguém quando entende que seu território está em perigo. “Tudo o que o cão vê, escuta e fareja torna-se seu território”, conta. Pode-se entender então, que tudo o que se move é alvo do animal. Por esse motivo, só nos hospitais do Paraná, em 2011, foram mais de 37,6 mil acidentes com bichos notificados, segundo a Secretaria de Saúde do Paraná – uma média de cem registros por dia. Esses, em geral, são atendimentos graves. Nessa conta não entram os acidentes leves, os que comumente acontecem.
Diante desse quadro, o Hospital Universitário Cajuru, que é referência no atendimento de traumas no estado, lança neste ano, a segunda edição da Campanha de Conscientização e Prevenção de Acidentes com Cães. “Em 2010 o Cajuru atendeu 348 casos graves de acidentes com cães. Aproximadamente 30 por mês. Após a primeira campanha, o número caiu para 261. Uma redução de 33%”, conta Simonne Simioli, gerente médica do hospital. E os cães não escolhem idade para atacar. Quando o acidente é com crianças, normalmente o animal é da própria casa e isso facilita os cuidados médicos, de acordo com Simioli. Os adultos costumam ser atacados também por animais de terceiros ou que vivem nas ruas.
Profissionais
O sucesso da campanha passada fez com que algumas empresas de Curitiba, que têm em seus funcionários os principais interessados na conscientização da população, aderissem ao projeto. Esta segunda edição, que acontece hoje e amanhã, conta com o apoio da Cavo (empresa responsável pela coleta de lixo da capital e região metropolitana), dos Correios, da Copel e Sanepar. Juntas, essas quatro empresas somaram, entre janeiro e março deste ano, 66 registros de acidentes, só em Curitiba e região metropolitana.
Para esses profissionais, a recomendação dos especialistas é que atenção seja redobrada, principalmente para aqueles que costumam correr, como os coletores de lixo. Além disso, os coletores, carteiros e leituristas não devem projetar o corpo, mão ou braço para dentro do imóvel sem ter a certeza de que o animal não está perto. Por vezes eles se escondem atrás de folhagens ou muros. Evitar gritos ou gestos ameaçadores também é importante, já que a mera presença estranha estimula o animal.
Por lidar com objetos cortantes, a Cavo já disponibiliza aos seus funcionários sapatos reforçados, calças com proteção lateral, luvas e camisas com mangas compridas. Jeferson Pereira Elias, de 28 anos e há três anos e meio na empresa, conta que o uniforme ajuda muito na hora do ataque, mas ainda assim, vez ou outra a mordida ultrapassa a proteção. “Uma vez fui mordido e o ferimento foi profundo. Avisamos a empresa e o técnico de segurança do trabalho veio me ajudar. Precisei tomar a vacina antirrábica”.

Fonte: Antônio Costa / Gazeta do Povo
Publicado em 24/04/2012 | Angélica Favretto, especial para a Gazeta do Povo.

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