Fogo começou na casa de máquinas Estação Antártica Comandante Ferraz e ainda deixou um militar ferido.
Cientistas que estavam na estação contam que os dois sargentos não conseguiram sair do local.
Dois sargentos da Marinha brasileira morreram nesta madrugada em um incêndio que atingiu a Estação Comandante Ferraz, base científica e militar brasileira na Antártida. Havia 60 pessoas na estação, metade delas pesquisadores de universidades nacionais, que escaparam ilesos. Um terceiro militar teve ferimentos.
O ministro da Defesa, Celso Amorim, confirmou a morte do suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e do sargento Roberto Lopes dos Santos. Eles participavam do grupo de apoio que tentava apagar o incêndio originado na casa de máquinas da base.
“Num ato de heroísmo, eles estiveram justamente no local de maior risco, na tentativa de debelar o incêndio e não conseguiram. Todos os pesquisadores e funcionários civis foram resgatados e já se encontram no continente, no Chile, e amanhã já devem estar de volta ao Brasil”, disse Amorim.
Segundo o ministro, 12 militares da Marinha, inclusive o comandante da base, ficaram na base chilena, que é vizinha à brasileira na Ilha Rei George, na Antártica. Eles devem retornar a Comandante Ferraz, para ajudar no trabalho de perícia e no resgate dos dois corpos. Um navio da Marinha brasileira também se deslocou para a Ilha Rei George, para ajudar na tarefa.
Em nota, a presidenta Dilma Rousseff também destacou o heroísmo dos militares no combate ao incêndio e manifestou sua solidariedade e do seu governo com as famílias dos dois militares, "mortos ao servir a Pátria". "A presidenta reafirma a importância do programa de pesquisas desenvolvido na Estação e elogia a abnegação e o desprendimento dos brasileiros que lá trabalham. A presidenta manifesta, ainda, a firme disposição do País de reconstruir a Estação Antártica Comandante Ferraz", diz a nota.
Em telefonema hoje à tarde, Dilma agradeceu ao presidente do Chile, Sebastián Piñera, o apoio daquele país no socorro e no resgate dos brasileiros atingidos pelo incêndio.
Incêndio
O incêndio ocorreu na Praça de Máquinas, onde ficam os geradores de energia. Cientistas que estavam na estação contam que os dois sargentos não conseguiram sair do local, destruído pelas chamas. O ferido conseguiu ser resgatado por colegas da Marinha e foi levado para a base polonesa de Arctowski, próxima à brasileira, para receber os primeiros socorros. Depois, seguiu para a base chilena Eduardo Frei. Em comunicado, a Marinha garante que a vítima não apresenta risco de morte.
Os 30 cientistas, um alpinista, um representante do Ministério do Meio Ambiente e 12 funcionários do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro foram levados ao amanhecer para a base chilena, de onde seguirão para o Chile, em Punta Arenas. Ficaram na estação apenas 12 militares da Marinha, que tentam combater o incêndio. A Marinha enviou um Navio-Polar para apoiar o trabalho dos militares. Além dele, dois navios da Marinha Argentina, dois botes da Estação polonesa e três helicópteros chilenos já estão no local do incêndio.
Já a Força Aérea Brasileira (FAB) disponibilizou uma aeronave, que seguiu para Punta Arenas, a fim de trazer ao Brasil as pessoas que estavam na Estação. Um Inquérito Policial Militar foi instaurado para apurar as causas do acidente.
Leia a nota oficial na íntegra
"O ministro da Defesa, Celso Amorim, recebeu há pouco do comandante da Marinha, almirante-de-esquadra Júlio Soares de Moura Neto, a informação de que foram encontrados dois corpos na área atingida por um incêndio na Estação Comandante Ferraz. Há indícios de que sejam de dois militares desaparecidos, o suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e o sargento Roberto Lopes dos Santos. A Força Naval enviará uma equipe de peritos para identificá-los e confirmar os óbitos. O sargento Luciano Gomes Medeiros encontra-se internado em virtude de ferimentos".
Prejuízo científico
O programa antártico brasileiro não será encerrado e os planos de reconstrução começam na próxima segunda-feira, segundo Amorim. De acordo com o ministro, grande parte da estação foi destruída pelo incêndio e, com ela, muitos materiais e equipamentos dos 30 pesquisadores que realizavam trabalhos na ilha foram perdidos.
“Todo o núcleo central da base, que é onde estão concentradas essas instalações foi perdido. O grau exato do que aconteceu ainda precisa ser objeto de perícia, mas a avaliação é de que realmente perdeu-se praticamente tudo”, disse.
Segundo Amorim, ainda não é possível dizer quando a estação voltará a operar, mas os planos para sua reconstrução já começam na segunda-feira (27). “Claro que o momento é de dor. O principal fato é a perda de vidas. Mas, evidentemente, quero expressar nossa determinação em continuar esse trabalho, que é tão importante para o Brasil e para o mundo. Esse é um projeto de 30 anos de empenho da sociedade brasileira, que tem todo o apoio do governo e do Congresso brasileiro. O programa [antártico] é um motivo de orgulho para nós, de modo que vamos continuar”, disse o ministro.
Naufrágio
De acordo com a publicação deste sábado do jornal "O Estado de São Paulo", um embarcação usada para transporte de carga, que era rebocada pela Marinha, afundou em dezembro no litoral da Antártida com uma carga de 10 mil litros de óleo combustível.
Segundo o jornal, o produto não vazou, mas está a 40 metros de profundidade e a 900 metros da praia onde fica a Estação Antártica Comandante Ferraz. O naufrágio estaria sendo mantido em sigilo tanto pela Marinha quanto pelos ministérios que integram o Programa Antártico Brasileiro (Proantar) – Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, Relações Exteriores e Minas e Energia e Defesa. Não houve vítimas no acidente.
(Com Agência Estado e Agência Brasil)
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