quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Sem choques

Veja o que é e como funciona o dispositivo Diferencial Residual (DR), que tem como objetivo proteger pessoas e instalações contra surtos elétricos.

Reportagem: Bruno Moreira

Fotos: Marcelo Scandaroli
Muitas vezes, pequenos choques em instalações elétricas residenciais – como aqueles causados ao abrir e fechar chuveiros ou mesmo ao ligar algum aparelho à tomada – são considerados normais. No entanto, dependendo da maneira como ocorrer e do tempo de duração do choque, é possível haver danos à saúde, com risco de morte.

De acordo com dados da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), em 2011 aproximadamente 300 pessoas morreram devido a choques elétricos no Brasil. Muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas caso as instalações contassem com o dispositivo Diferencial Residual (DR).

Conforme o engenheiro eletricista e diretor-executivo da Abracopel, Edson Martinho, o DR é um equipamento de proteção, cuja função é supervisionar a corrente de um circuito e, caso perceba fuga de corrente, desligar a instalação imediatamente. “Em termos de atuação, ele exerce a mesma que um disjuntor”, explica Martinho.

Fuga de corrente Corrente é o fluxo ordenado das partículas portadoras de carga elétrica. Em uma edificação, a corrente passa por um circuito elétrico. Ou seja, um caminho fechado no qual a quantidade de partículas que sai deve ser a mesma quantidade que entra.

Quando o valor não é o mesmo, ou seja, o valor da corrente de entrada é maior que o de saída, é porque a carga elétrica está escapando. Essa é a chamada corrente de fuga. Se a causa for um curto-circuito, o resultado é a falha – ou mesmo queima – de um equipamento elétrico. Se a causa for o contato de um ser humano ou animal com o circuito, o resultado é um choque.

Martinho explica que, normalmente, “tais fugas ocorrem quando existe perda das características de isolamento de determinado equipamento”. Conforme o engenheiro eletricista, essas perdas podem surgir por um defeito de fabricação no aparelho, pelo tempo de uso e também por causa da umidade.

O choque elétrico acontece via contato direto, ou seja, encostando na parte energizada da instalação, por exemplo, em um fio desencapado; ou por contato indireto, pelo contato da pessoa com a parte metálica de uma lavadora de roupas, por exemplo.

Funcionamento do DR Diante disso, o que se pode fazer é minimizar os efeitos da fuga da corrente. Dessa maneira, torna-se imprescindível a utilização do DR, que impedirá que o choque elétrico seja sentido por muito tempo e ocasione fibrilação cardíaca ou geração de faíscas nos aparelhos e, consequentemente, incêndios.

Os DRs trabalham com diferentes sensibilidades à fuga de corrente. É essa característica que determina quando e como ele será acionado. Assim, quando o objetivo é a proteção dos equipamentos elétricos e do patrimônio de uma maneira geral, evitando incêndios e também a perda de energia que gera o aumento do consumo, o valor de corrente para o acionamento do DR pode atingir valores de 100, 300, 500, 1.000 miliampères (mA) por milissegundo, e até mais. Já quando a meta é proteger as pessoas contra choques elétricos, o valor de corrente para o acionamento do DR é significativamente menor, de 10 mA a 30 mA por milissegundo.
 
 
Segundo Martinho, 30 mA por segundo é o valor máximo que um ser humano suporta antes de sofrer arritmia cardíaca. Ou seja, esse tipo de DR é fabricado para acionar em um período bem mais curto de duração de corrente eliminando qualquer possibilidade de dano grave à saúde.

Obrigatoriedade A NBR 5.410 – Instalações Elétricas de Baixa Tensão obriga o uso dos DRs em circuitos elétricos de banheiros, áreas externas, áreas internas que possam vir a alimentar equipamentos no exterior da edificação, cozinhas, copas, lavanderias, áreas de serviço e garagens.

O engenheiro eletricista Hilton Moreno explica que o uso do DR é obrigatório nesses locais porque neles há presença de água ou umidade, condição em que a resistência do corpo humano à eletricidade diminui, tornando-o mais condutivo. “Isso faz com que o corpo fique mais suscetível a ser percorrido por correntes elétricas, que podem eletrocutá-lo com mais facilidade”, diz.
 
Fotos: Marcelo Scandaroli
DR monitora continuamente a corrente elétrica que passa pelo circuito. Ao perceber que a quantidade de partículas que entra no sistema é maior do que a que sai, ele desarma o circuito imediatamenteAterramento e DR são dispositivos complementares, que aumentam a segurança de instalações elétricas para evitar choques e descargas elétricas. Sensibilidade do DR a fugas de corrente depende da finalidade da instalação
 
A NBR-5.410 reconhece o uso de DRs como proteção adicional contra choques elétricos, mas não dispensa o emprego de outras medidas de proteção, como o fio terra, que tem como função escoar a corrente de fuga para a terra.

Moreno explica que o DR funciona adequadamente mesmo sem a presença do fio terra, mas, como o intuito é reforçar a segurança, a norma exige a presença dos dois componentes. “É como se, em um automóvel, um fosse o cinto de segurança e o outro o airbag. Ou seja, funcionam separadamente, porém a presença dos dois juntos aumenta muito a proteção das pessoas”, esclarece.


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