Local tem cerca de 600 vagas de trabalho e
250 para estudo, diz direção.
Gabriela Pavão Do G1 MS.
Estudo e trabalho são rotina para 70% dos
presos de Instituto Penal de MS (Foto: Gabriela Pavão/ G1 MS).
Salas de aula, quadro negro, computadores,
oficinas de móveis, padaria e biblioteca são ambientes que fazem parte da
rotina dos presos do Instituto Penal de Campo Grande. Os muros altos, com
arames farpados e guaritas de segurança, não impedem que os presos tenham
acesso ao conhecimento.
De acordo com a direção da unidade,
atualmente cerca de 70% dos 1.242 internos que cumprem pena no local estudam ou
trabalham. Alguns fazem as duas atividades paralelamente e usam a remuneração
do trabalho para pagar faculdade, como o preso que concluiu ensino superior
dentro do regime fechado.
O local tem cerca de 600 vagas de emprego que
vão desde marcenaria, cozinha e artesanato até funções administrativas. Para o
estudo são cerca de 250 vagas, sendo 230 delas para cursar ensino fundamental e
médio, segundo informou ao G1 a chefe da Divisão de Assistência Educacional da
Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen), Elaine
Arima Xavier Castro.
Segundo a direção do presídio, oito internos
da unidade fazem o curso de graduação a distância e 19 são alunos de cursos
técnicos do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS). Em 2014, de acordo
com Elaine, 254 presos frequentaram as salas de aula dentro do presídio para
concluir os ensinos fundamental e médio.
Alunos formados no Instituto Penal de Campo Grande (Foto: Gabriela Pavão/ G1 MS)
O estudo é direito dos internos, segundo o
diretor-adjunto do IPCG, Aud de Oliveira Chaves, e no caso deles é feito de
forma presencial, para ensino fundamental e médio, e a distância, nos cursos de
graduação e técnicos.
As aulas presenciais são ministradas por
professores da escola estadual Polo Professora Regina Lúcia Anffe Nunes Betine.
Em 2014, 12 alunos se formaram nas turmas de fundamental e médio, sendo 9 na
primeira turma e 3 na segunda.
A capacidade total de alunos na escola do
presídio é de 230 vagas. "O número de matriculados é maior do que número
de vagas porque alguns acabam tendo regressão de pena durante o ano e saem do
regime fechado, então as vagas voltam a ser abertas. Já o número de formados é
menor porque alguns reprovam ou acabam desistindo também", explicou.
Segundo ela, para 2015, as matrículas ainda não foram abertas.
Professora Celma com alunos do ensino
fundamental e médio (Foto: Gabriela Pavão/ G1 MS).
Aos 40 anos, J. A., que pediu para ter
somente as iniciais do nome divulgadas, concluiu o ensino médio dentro do
presídio. Contando os dias para sair do regime fechado, ele disse ao G1 que
pretende fazer faculdade de direito em 2015.
"Demorei, mas terminei o estudo básico,
e agora não quero parar. Penso em fazer faculdade quando sair daqui",
explicou. Ele foi orador da turma na cerimônia de colação de grau. No discurso
feito perante os colegas de turma, professores e familiares, o preso falou
sobre escolhas da vida e ajuda dos professores.
"O ontem não nos pertence mais e o
amanhã não chegou ainda. Pensamos que o tempo seria perdido aqui dentro, mas
encontramos na educação uma forma de usar o tempo para crescer e sair
melhor", disse.
Dos presos da unidade, alguns estudam, outros
trabalham e ainda tem aqueles que estudam e trabalham. É o caso de R.R., 40
anos, Douglas Igor da Silva Fernandes, 34 anos, e Izaelson Junior, 29 anos, que
trabalham na parte administrativa do IPCG.
Os três são alunos do curso de Transações
Imobiliárias do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul e dois deles estão
cursando o ensino superior; R.R. faz Marketing e Douglas cursa Processos
Gerenciais.
Eles afirmam que a possibilidade de estudar e
trabalhar durante o cumprimento da pena no regime fechado traz inúmeras
vantagens. "Estamos cumprindo pena, sabemos da nossa situação, sabemos o
que estamos fazendo aqui, mas o tempo não pode ser perdido de uma forma. Estou
conseguindo me manter bem para sair melhor", refletiu Douglas, que está
preso desde 2007 e deve ir para o aberto em 2015.
Ele disse também que o estudo ajuda a
amenizar os efeitos negativos do regime fechado. "A gente sempre teve o
intuito de trabalhar e fazer coisas para se ocupar. O cárcere é muito negativo
porque você atrofia em vários sentidos, e o que acontece com a gente aqui
[alunos] é que não sentimos os efeitos do cárcere nesse sentido. Físico sim,
mas o mental não, a gente está muito bem por conta das oportunidades de estudo
que tivemos", explicou ao G1.
Incentivo
Izelson está preso desde 2011 e começou o
curso de técnico há seis meses. Antes de entrar para o regime fechado, tinha feito
curso de inglês e telemarketing e queria voltar a estudar no presídio.
Segundo o diretor-adjunto do IPCG, Aud de
Oliveira Chaves, além dos benefícios coletivos do estudo e trabalho entre os
presos, como disciplina, ressocialização e bom comportamento, essas atividades
também podem representar regressão da pena.
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