Boa parte dos afastamentos por saúde de funcionários nas empresas pode ser evitada com medidas simples. Saiba como identificar e administrar o problema.
Texto de Jaqueline Frizon
Gestão & Negócios
É no ambiente de trabalho que passamos uma parcela da vida e, quando não, a vida profissional inteira, mas grande parte dela fazendo as mesmas atividades. Se antigamente os acidentes de trabalho estavam voltados à exposição do corpo sem proteção, hoje em dia um considerável número de afastamentos vem ocorrendo por desgastes psicológicos. Aprenda a identificar o problema em uma equipe de trabalho e veja a importância da prevenção de doenças no ambiente profissional.
Não é de hoje que ouvimos histórias e reclamações decorrentes do trabalho. Por passarmos várias horas do dia em atividades, muitas vezes, repetitivas, durantes anos, acabamos por lesionar alguma parte do corpo por seguidas repetições ou, devido às pressões diárias, apresentamos estresse e desgaste psicológico. Essas doenças que, em sua maioria, se originam no ambiente laboral, são chamadas de doenças ocupacionais, ou seja, quando causam alterações na saúde do trabalhador.
As doenças ocupacionais também são conhecidas como doenças profissionais ou tecnopatias, quando têm sempre como causa as atividades no trabalho, e doenças do trabalho ou mesopatias, que nem sempre são causadas pelo trabalho em si, mas que interferem da mesma forma na saúde do funcionário e se agravam no ambiente profissional. Quando diagnosticada, a doença ocupacional garante ao trabalhador os mesmos direitos e benefícios de um acidente de trabalho.
Afastamento por doença.
Se o funcionário for diagnosticado com alguma doença que tenha como causa ou consequência atividades desenvolvidas na empresa, ele tem direito a afastamento e a tratamento. Se o caso for grave, pode contar, ainda, com necessidade de indenização. Direitos como afastamento para tratamento, auxílio de custos, estabilidade no emprego e indenizações, devem ser conversados e acertados no início do tratamento e afastamento do trabalhador, para que não seja necessário intervir junto à Justiça do Trabalho.
A consultora da Leme Consultoria, Marcia Pereira, acredita que, quanto mais a empresa investe em prevenção, menor será o número de afastamento por doença e, consequentemente, menores os encargos necessários. “Os programas de orientações de doenças ocupacionais e treinamento, bem como o fornecimento de equipamentos de proteção, são medidas menos onerosas e mais eficientes, se comparadas com o pagamento de indenizações determinadas por sentenças judiciais ou procedimentos administrativos junto à Previdência Social”, salienta.
Invista em prevenção.
Alguns anos atrás, eram vistos com mais frequência acidentes de trabalho ocasionados por falta de equipamentos de proteção e maquinários obsoletos. Com a maior fiscalização e modernização das empresas, a segurança aumentou e esses tipos de acidentes diminuíram; ao mesmo tempo em que aumentou a concorrência e a consequente pressão que tanto estafa a equipe. Se a saúde do colaborador não está em dia, seu rendimento cai e, se for diagnosticada alguma doença, ele precisará ser afastado de suas atividades até total recuperação. Tudo isso gera encargos para as empresas que precisam disponibilizar tratamentos que, muitas vezes, poderiam ter sido evitados com a prevenção e atenção aos sinais que o corpo envia.
O check-up é uma forma de prevenção que vem sendo adotada pelas empresas. Pensando nisso, o Nasa Laboratório criou o programa de check- up empresarial. A ação visa a detectar doenças precocemente e evitar afastamento por motivos de saúde. “As empresas estão investindo em programas de qualidade de vida para seus executivos, pois eles são responsáveis pelas principais decisões, são a mola propulsora dos negócios”, acredita Eduardo Manna, executivo do laboratório. “Com o check-up, podemos detectar precocemente doenças que, se tratadas em uma fase inicial, podem ser curadas ou ter sua evolução alterada em benefício do paciente, proporcionando, assim, uma grande melhora na qualidade de vida e redução de gastos com eventuais internações e inatividade laboral”, complementa.
diretor da Compusoftware.
Aposte no lazer.
A gerente de RH da Habitacional, Sueli Dantas, percebeu que a equipe de trabalho está mais disposta após a implantação de uma área de lazer na empresa. Há dois anos foram criadas aulas de ginástica no pátio da companhia. “Podemos notar uma maior interação e motivação por parte deles após a ginástica. Esse tipo de programa faz com que o colaborador perceba o quanto ele é valorizado pela empresa, que oferece atenção e cuidados para aumentar a produtividade sem que isso afete a sua saúde. Há também uma redução de custos e despesas com colaboradores que necessitam de licença médica” e complementa: “As empresas devem sempre lembrar que um funcionário saudável é um bom investimento, pois produz mais, se compromete mais e sente prazer em ir além do que é exigido dele”, enfatiza Sueli.
Na Compusoftware, a melhora na produtividade da equipe também já foi notada, apesar de a área de lazer ser recente. “Com a nossa área de lazer, os funcionários estão trabalhando menos estressados, conseguem relaxar um pouco durante o expediente e o resultado motivacional do time como um todo é muito melhor”, garante o diretor da empresa, Adriano Castro Viera.
Segundo ele, o espaço montado em uma sala conta com sofá, TV, aparelho de vídeo-game e alguns jogos. “Os colaboradores têm a liberdade de usar até mesmo no horário de trabalho”, comenta Viera. A empresa também investiu em prevenção, renovando os acessórios, como apoio dos pés, apoio de mouse e de teclado, que vem refletindo na satisfação e comprometimento do funcionário.
A Apdata também aposta no lazer de seus colaboradores. A presidente da empresa, Luiza Nizoli, comenta que o espaço verde criado traz harmonia ao ambiente e recarrega a energia da sua equipe. “Oferecemos áreas de relaxamento e convivência e todos os profissionais têm a liberdade de utilizá-los em qualquer momento do dia, sem a necessidade de controle de horários. O importante é que o colaborador esteja em sua estação de trabalho e esteja bem, mais harmônico e feliz”. A área de lazer conta com pomar, redes, TV e churrasqueira. Há, ainda, um andar com sala de relaxamento, cromoterapia, sonoterapia e sala de estudo.
Sinais de alerta.
Se o funcionário apresentar um ou mais dos sintomas descritos abaixo, cuidado, ele pode estar com uma doença ocupacional:
• Cansaço excessivo
• Estresse e nervosismo constante
• Baixo rendimento das atividades
• Grande desconforto após o expediente
• Inchaço nas mãos ou pés
• Formigamento ou sensação de choque
Para evitar doenças ocupacionais, invista em:
• equipamentos de Proteção Coletiva e Individual
• Máquinas e acessórios de trabalho em bom estado
• Espaço e iluminação adequados
• Área de lazer ou descanso dentro da empresa
• Planos de prevenção de doenças
• Ambiente harmônico e de fácil comunicação
Palavra de especialista.
De acordo com a consultora e especialista em Gestão e Recursos Humanos Marcia Pereira: A doença responsável pela maioria dos afastamentos do trabalho no Instituo de Seguridade Social (INSS) é a Lesão por esforço Repetitivo (LeR). Porém, existe um crescimento significativo nos últimos cinco anos em afastamentos por doenças psicológicas, em muitos casos, o aspecto emocional do funcionário encontra-se abalado em virtude da excessiva carga de estresse diário. Quadros como depressão, ansiedade e irritabilidade são constantes no ambiente corporativo. A organização Mundial de Saúde (oMS) afirma que, até 2020, a depressão será uma das doenças mais incapacitantes para a vida.
Qualidade de vida faz a diferença.
A importância de investir em qualidade de vida vai além da prevenção e dos cuidados com o corpo; a mente precisa estar em harmonia para que a saúde esteja em equilíbrio. Não raro e, cada vez mais comum, vemos pessoas estressadas e infelizes no trabalho. Se trabalhar é indispensável, trabalhar em harmonia com o ambiente e com a equipe torna a jornada menos desgastante. Luiza Nizoli, da Adapta, acredita que “pessoas mais felizes pessoalmente e profissionalmente produzem mais e se motivam para continuar evoluindo. Todos ganham, a empresa, o colaborador e o cliente”, considera.
Com investimentos de prevenção e lazer para seus colaboradores, as empresas passam a voltar o foco para a importância da qualidade de vida do funcionário, tanto dentro como fora do ambiente de trabalho. Os cuidados com o corpo e a mente começam fora da empresa, mas devem permanecer e fazer parte da rotina profissional.
É importante ficar atento aos sinais do próprio corpo e, os responsáveis, aos sinais que a equipe envia. Se o rendimento caiu e o número de atestados médicos aumentou, é hora de ver o que pode ser melhorado e como deve ser investido. A Compusoftware acredita em uma boa comunicação na hora de alertar a equipe. “Se conseguirmos passar para o profissional como ele pode ter mais qualidade de vida, de uma maneira geral, e como isso vai melhorar a qualidade do trabalho dele, já demos um grande passo”, afirma.
Se o estresse está exagerado e o desconforto durante o trabalho prolongado também, é hora de avaliar o que pode ser melhorado.
Não basta a companhia possuir áreas de lazer, equipamentos adequados e prevenção de saúde se o colaborador não mantém os cuidados. Alimentação equilibrada, atividades físicas e lazer são tão importante quanto cuidados médicos. “Se é nas organizações que passamos a maior parte de nossas vidas, seria natural que as transformássemos em lugares mais aprazíveis e saudáveis para a execução do nosso trabalho. Locais onde pudéssemos, de fato, passar algumas horas vivendo, criando e realizando plenamente com qualidade de vida, saúde, satisfação e alegria”, finaliza a especialista em RH Marcia Pereira.
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