terça-feira, 20 de março de 2012

Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT)



O corpo humano tem uma incrível capacidade de regenerar os tecidos lesionados por movimentos e esforços excessivos, mas precisa de um tempo para isso. Se as atividades que geraram o problema continuarem sendo repetidas, a lesão progride, e a dor torna-se cada vez mais constante.

São as tendinites, tenossinovites, bursites, síndrome do túnel do carpo e várias outras doenças agrupadas sob a denominação distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT).

Anteriormente denominadas lesões por esforços repetitivos (LER), essas doenças vêm crescendo em todo o mundo e são uma das principais causas de afastamento do trabalho. Mas as atividades profissionais não são as únicas vilãs. Esforços excessivos e repetitivos nos esportes, em tarefas domésticas e até nas horas de lazer na frente do computador ou do videogame podem favorecer o surgimento dessas enfermidades.

Segundo a Dra. Alessandra Passos, fisiatra do Einstein, nos anos 70 essas doenças eram vistas principalmente como males relacionados a esforços repetitivos no trabalho e numa perspectiva mais física. “Atualmente, o entendimento é mais amplo. Não se limita ao aspecto físico ou biomecânico. Abrange outras dimensões, inclusive a emocional ou psicológica”, afirma a médica.

Hoje as pessoas estão expostas a um ambiente profissional mais estressante, caracterizado pelas pressões de produtividade, competitividade e prazos; são mais sedentárias que as gerações passadas, em função das facilidades e tecnologias da vida moderna, e acabam expondo o organismo além dos limites que ele tem capacidade de suportar. “Mas duas pessoas que exercem a mesma atividade, trabalhando o mesmo número de horas, irão reagir de maneira diferente, em função de um conjunto de fatores – das características físicas e genéticas às posturas que adotam na execução da atividade ou à forma de lidar com as pressões”, afirma a fisiatra. “É preciso, portanto, considerar todo o conjunto de elementos relacionado a cada indivíduo. É importante tratar a consequência, mas é necessário tratar também a causa”, completa a Dra. Alessandra.

Diagnóstico

Em geral, o diagnóstico é feito na consulta médica, a partir do exame clínico, dos sintomas descritos pelo paciente e do relato de suas atividades e hábitos que possam ter originado o problema ou que podem agravá-lo. O questionamento é exaustivo e abrangente: o que acontece em casa e no trabalho, atividades que exigem esforços excessivos ou repetitivos, qual tempo dedicado a elas, como e quanto a pessoa dirige, se fica sentado, qual altura da cadeira; modelo e peso da bolsa ou mochila que usa habitualmente; como dorme, tipo de colchão e travesseiro; altura do monitor do computador, tipo de mouse, etc. Em alguns casos, o médico poderá solicitar exames complementares, como ultrassonografia, ressonância magnética e eletroneuromiografia.

Novos recursos vêm somando-se ao arsenal de tratamentos, como a toxina botulínica e as ondas de choque


De acordo com o Dr. Mário Guarnieri, ortopedista e especialista em cirurgia das mãos, as LER são, normalmente, lesões pouco graves. “Geralmente, o que falta é repouso adequado ou irrigação sanguínea para que o tecido possa cicatrizar”, afirma ele. “Quando um atleta profissional rompe um tendão, ele é colocado em repouso para que o corpo possa fazer a reparação dos tecidos. Mas uma pessoa que trabalha nem sempre consegue parar. Acaba mantendo o esforço e não dá tempo de cicatrização para o organismo, fazendo com que a lesão progrida”.

Por isso, segundo o médico, é importante a conscientização do paciente, dedicando tempo para explicar a ele qual é o seu problema, como o mal poderá evoluir e como ele próprio pode ajudar na recuperação. “É mais fácil obter a adesão do paciente ao tratamento se ele entende o que está acontecendo e o que pode ou não pode fazer para ajudar”, afirma o Dr. Mário. “Se eu não explicar à pessoa que estou imobilizando seu braço para favorecer o descanso da musculatura daquela região e agilizar a recuperação dos tecidos afetados, ela vai fazer força dentro do gesso, e o procedimento será inútil”, exemplifica ele.

Tratamento
Os tratamentos variam segundo cada caso e tipo de doença. Idealmente a abordagem deve incluir o apoio de uma equipe multiprofissional – ortopedista, fisiatra, fisioterapeuta, psicólogo, nutricionista e acupunturista, entre outros –, contemplando, além da dimensão física, os aspectos psicológicos, estilo de vida, etc.

Novos recursos, como a toxina botulínica, vêm se somando ao arsenal de tratamentos. Semelhante à aplicação estética contra rugas, a toxina paralisa por um período as contrações do músculo, que ganha um tempo de repouso para se restabelecer. Já o tratamento por ondas de choque (o mesmo equipamento usado para bombear pedras no rim) pode ser utilizado em casos mais específicos e vem sendo adotado em tendinites calcárias (acúmulo de cálcio nos tendões).

Essa terapia gera um aumento local de vasos (neoangiogênese) e de substâncias que são potencialmente vasodilatadoras. “O objetivo é aumentar a irrigação sanguínea, o que ajuda na cicatrização da lesão”, explica o Dr. Mário. Outro recurso – este ainda sem comprovação científica e, por isso, foco de algumas controvérsias na comunidade médica – é o plasma rico em plaquetas (PRP).

Obtido do sangue do próprio paciente, o concentrado de plaquetas é aplicado na área afetada, também com o objetivo de ativar o processo de cicatrização.

Tradicionais ou modernos, é vasto o leque de tratamentos. Mas melhor mesmo é prevenir as LER/DORT. As recomendações básicas são: atenção para adotar as posturas adequadas; cuidados com a ergonomia (mobiliário adequado, disposição e altura dos equipamentos, como a tela do computador, posicionamento do teclado e do mouse, apoio para os pés); alongamento e fortalecimento dos músculos mais exigidos; intercalar tarefas (entremear, por exemplo, o trabalho no computador com ligações telefônicas; ou a atividade de passar roupa com a de arrumar a louça); e fazer pausas regulares durante as atividades repetitivas.



Ambas são processos inflamatórios e possuem sintomas bem parecidos. A tendinite é uma inflamação do tendão, caracterizada por inchaço, calor e vermelhidão na área afetada. Já a bursite é a inflamação da bursa (uma "bolsa" cheia de líquido que tem a função de proteger os tecidos ao redor das articulações do corpo), e que se localiza em ombros, cotovelos, quadril, joelhos.

"A bursite é uma inflamação secundária. Ela só acontece após uma lesão no tendão que ela protege (tendinite)", explica o ortopedista do Einstein, Dr. Eduardo Carrera.

As inflamações nos tendões podem ocorrer por diferentes motivos, como excesso de uso (esporte) e sobrecarga, processos traumáticos, e até mesmo em função de outras doenças, como a artrite reumatoide.

Pessoas e profissões mais afetadas

De acordo com o Dr. Carrera, cada articulação pode desenvolver um tipo de tendinite, isso vai depender da atividade diária do paciente. Por exemplo, jogadores de futebol provavelmente irão ter processos inflamatórios nos membros inferiores, enquanto um tenista tende a desenvolver lesões nos membro superiores (pernas, tornozelos e pés) e no quadril.

As profissões mais afetadas pelas tendinites de ombro são aquelas em que o indivíduo trabalha com o braço acima da cabeça (professores, trabalhadores braçais, pintores etc.) e esportistas que fazem movimentos de arremesso. As tendinites são muito comuns em idosos pelo fato de estarem diretamente ligadas ao processo degenerativo, tanto biológico quanto fisiológico, do corpo.

"A evolução da tendinite é a ruptura do tendão, como consequência das lesões degenerativas, que por sua vez são consequências de processos inflamatórios de repetição, explica o Dr. Carrera.

As tendinites de ombro ocorrem geralmente em pessoas com menos de 50 anos. Já as roturas, em pessoas a partir dos 60 anos, em função dos processos inflamatórios coexistentes.

"Existe um falso conceito popular que nomeia todas as lesões dolorosas do ombro de bursite, inclusive uma tendinite. Uma das lesões mais comuns do ombro é a lesão do manguito rotador (grupo de músculos e seus tendões que age para estabilizar o ombro)", informa o médico.
Sintomas e diagnóstico
Mesmo não apresentando sintomas específicos, os mais comuns são dor ao fazer movimento com a área afetada, restrição, ou mesmo limitação do movimento e diminuição da força.

"O paciente que apresentar alguns destes sintomas deve procurar um ortopedista para que sejam feitos exames clínicos por imagens (radiografia, ultrassom e/ou ressonância) para a confirmação do diagnóstico. As estruturas anatômicas de cada pessoa são diferentes e só o médico irá saber diferenciar se o caso trata-se de tendinite ou bursite", aconselha Dr. Carrera.
Tratamento e sequelas
O tratamento clínico é feito com o uso de anti-inflamatórios, repouso e termoterapia (tratamento feito com uso de bolsas de água quente e/ou geladas).

"As bolsas de gelo provocam o estreitamento dos vasos sanguíneos (vasoconstrição), diminuindo as inflamações; enquanto as bolsas quentes aquecem e relaxam a musculatura dos vasos sanguíneos, melhorando a circulação (vasodilatação), e também diminuindo o processo inflamatório," explica o ortopedista.

Imobilizações e fisioterapia para fortalecer os músculos também podem ser indicadas para resolver o problema.
"Se após seis meses o tratamento clínico não obtiver resultado, começamos, então, a pensar em cirurgia, utilizando técnicas minimamente invasivas, como é o caso da reparação por artroscopia", conta.

Em casos de rotura do manguito rotador, se o paciente não for diagnosticado e tratado adequadamente, poderá ter sua capacidade funcional de movimento diminuída.

Algumas medidas de prevenção

·  Hidrate-se constantemente: beber bastante líquido ajuda a lubrificar as articulações.
·  Alimente-se bem, principalmente antes de exercícios.
·  Aqueça os músculos: nunca inicie qualquer atividade física sem antes aquecer o corpo.
·  Fortaleça a musculatura antes de começar a praticar qualquer tipo de esporte, principalmente tênis.
·  Reduza os movimentos repetitivos. Caso não seja possível, tente fazer pequenas pausas de uma em uma hora na atividade diária e alongue-se.
·  Se você trabalha em frente ao computador durante muito tempo, utilize teclados e mouse ergonômicos, eles diminuem muito os casos de tendinite.





As lesões por esforços repetitivos (LER) compreendem um conjunto de doenças que são causadas por movimentos ou microtraumas repetitivos nos tendões, ossos e articulações. Historicamente, foram associadas a atividades físicas que provocavam sobrecarga extrema ao sistema músculo-esquelético, como atividades esportivas (cotovelo do tenista) e militares (fraturas por estresse nos pés).

Ao longo do tempo, essas lesões têm sido associadas a atividades em indústrias e em escritórios e, mais recentemente, tem-se observado maior incidência na população cujos hábitos de vida modernos também levam à sobrecarga de múltiplos órgãos músculo-esqueléticos.

O corpo humano tem uma extraordinária capacidade de se adaptar ao estresse físico. De fato, inúmeras alterações positivas ocorrem como resultado do estímulo físico. Por meio dos exercícios, ossos, músculos, tendões e ligamentos se tornam mais fortes e funcionam melhor.

Quando a carga de atividade física é muito intensa ou é aumentada de forma aguda, o corpo pode não se recuperar a tempo e as LERs costumam ocorrer.

O reconhecimento da causa de uma LER pode requerer um trabalho de investigação prolongado, no qual o primeiro passo é a identificação do movimento ou do mecanismo de trauma. O diagnóstico destas lesões começa com uma avaliação médica cuidadosa. Exames de imagem como raios X, ultrassom e ressonância magnética podem ser necessários para complementar a investigação.

As doenças comumente associadas ao trauma repetitivo são tendinites e tenossinovites, epicondilite lateral (cotovelo do tenista), síndrome do túnel do carpo, síndrome do impacto, bursites e lesões nos tendões dos ombros, dores na coluna, fraturas por estresse, bursites e tendinites nos quadris.

Já na área esportiva, o erro no treinamento é a maior causa de LER. Em geral, o aumento súbito de intensidade, duração e/ou frequência da atividade é a principal causa. Devemos ter cuidado com a filosofia "no pain, no gain" ("sem dor, sem ganho"). O retorno ao esporte após um longo período de afastamento é um momento de grande risco para o desenvolvimento de lesões. Os pacientes que apresentam predisposição anatômica para LER precisam ser acompanhados mais de perto por treinadores habilitados. O uso de equipamentos esportivos adequados também ajuda a combater o desenvolvimento de lesões.

Cada doença enquadrada como LER tem um tratamento específico. De uma maneira geral, para lesões de pequena gravidade, a suspensão ou a redução temporária da atividade repetitiva e a correção do treinamento esportivo podem ser suficientes para o tratamento. O aquecimento antes e o uso de gelo após as atividades físicas e laborais também ajudam a prevenir o problema. O emprego de medicamentos anti-inflamatórios, infiltrações, uso de imobilizações (órteses) e fisioterapia são usados nos casos mais graves. As cirurgias são reservadas para quando o paciente não apresenta resposta aos métodos descritos.

 Dr. Bruno De Biase, ortopedista do Einstein


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