É inteligente ter uma obra
embargada? É inteligente deixar um trabalhador acidentar-se?
Acidentes de trabalho geram custos
elevados.
Engenheiro Gianfranco Pampalon diz
que o melhor é investir em prevenção.
Equipamentos de segurança e
cuidados especiais não podem ser ignorados durante o trabalho em construções. A
exposição a riscos desnecessários pode provocar uma série de acidentes. O
engenheiro civil, de segurança do trabalho e auditor fiscal do Trabalho na
SRTE/SP, Gianfranco Pampalon, diz que para uma boa gestão da segurança e saúde
do trabalho em obras é necessário que se faça a prevenção desde a concepção do
projeto. Professor em cursos de pós-graduação em Engenharia de Segurança do
Trabalho e em Medicina do Trabalho, Gianfranco também integra o Grupo de
Trabalho Tripartite (GTT) como representante do governo na criação da nova NR35
- Trabalhos em Alturas. Neste mês, o engenheiro esteve em Blumenau à convite do
Sindicato das Indústrias da Construção e do Serviço Social da Indústria da
Construção (Sinduscon), para falar sobre gestão de saúde e segurança do trabalho
na construção civil. Gianfranco concedeu essa entrevista ao Jornal Metas.
Jornal Metas - Quais os
acidentes mais comuns na construção civil?
Gianfranco Pampalon: As principais
causas de acidentes graves e fatais são quedas, soterramentos e choques
elétricos. Além destes existem, ainda, as doenças ocupacionais e acidentes como
golpes e impactos com ferramentas e objetos, lombalgias por carregamento manual
de cargas e posições incomodas, exposição a poeiras (cimento e cal, por
exemplo) e produtos químicos (tintas, aditivos, impermeabilizantes...), ruído
excessivo, vibrações (marteletes e demais ferramentas elétricas), corte nas
mãos com máquinas e ferramentas (serra circular, entre outros.), projeção de
partículas nos olhos, etc. Se pensarmos nas grandes obras de infraestrutura
teremos ainda os atropelamentos por máquinas pesadas, quedas de guindastes ou
de suas cargas.
JM - Como prevenir?
Gianfranco - Para uma boa gestão da
segurança e saúde do trabalho em obras seria necessário preocupar-se com a
concepção de projetos com o propósito de se pensar na gestão de riscos, fazendo
a prevenção de acidentes já nesta fase. O bom planejamento da obra é ferramenta
indispensável para o sucesso da gestão de SST, que deve ser consignado no PCMAT
da obra, identificando os riscos em cada fase da obra com as suas respectivas
medidas de proteção como a coletiva, individual, layout inicial e
dimensionamento das áreas de vivência do canteiro e treinamentos dos
trabalhadores, entre outros. Outro item fundamental é criar uma cultura de
segurança onde todas as lideranças da obra tenham comprometimento com a
segurança do trabalho, principalmente mestres e encarregados, premiando aqueles
de se destacam neste quesito.
Realizar treinamentos de qualidade
para os trabalhadores e atender todos os itens da NR.18 e da convenção coletiva
da categoria. Auditorias periódicas de SST devem ser realizadas para avaliação
da implantação das medidas propostas. Além disso, é fundamental tratar o
trabalhador como ser humano dando a ele condições decentes de trabalho.
JM - Quais os
treinamentos mais importantes?
Gianfranco - Todos são importantes,
mas o primeiro treinamento é o mais importante porque deve-se mostrar que
desvios não serão tolerados e que todo trabalhador será avaliado também com
relação ao atendimento às regras de SST.
JM - Quais os
equipamentos (individuais e coletivos) essenciais?
Gianfranco - Capacetes e botina de
segurança são obrigatórios para todos os trabalhadores na obra, mas proteção
respiratória, cintos de segurança, proteção facial e óculos de proteção, dentre
outros são fundamentais, mas lembro de que o EPI (equipamento de proteção
individual) é a última alternativa, pois sistemas de proteção coletiva são
prioritários.
JM - O Brasil ainda está
muito atrás de outros países quando o assunto é segurança do trabalho?
Gianfranco - Os países mais
desenvolvidos utilizam tecnologias de construção mais avançadas e tem
trabalhadores com melhor nível escolar o que faz muita diferença. Mas não
podemos deixar de falar que temos evoluído muito neste quesito nos últimos
anos.
JM - Quais os custos de
um acidente de trabalho?
Gianfranco - Acidentes custam caro
para a construtora e sociedade, mas a tendência é que os acidentes custem cada
vez mais caro. Multas, interdições e embargos de obra do Ministério do
Trabalho. Ações civis públicas do Ministério Público do Trabalho podem ter
valores altíssimos. Ações regressivas do INSS onde a empresa tem que pagar à
vista as despesas da previdência que serão pagas como despesas hospitalares e
pensões, aumento do SAT em função do FAP. E ainda, a imagem da empresa que
perde muito quando está envolvida em acidentes de trabalho.
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