Josué Alves em ação no salão
Expert Batel:
Por: Cíntia Junges
Salões temem risco de ficar sem trabalhadores.
Profissionais
autônomos protestam hoje contra fiscalização do Ministério Público do Trabalho
– que, na opinião deles, pode empurrar classe para a informalidade.
A ação do
Ministério Público do Trabalho que está investigando a relação entre os
profissionais autônomos e os salões de beleza na capital coloca em risco a
atividade, avalia a proprietária da marca Salões Marly, Marly Minatti, que tem
mais de 33 franquias em Curitiba e região metropolitana.
Ele crê
que, se houver a exigência de mudança nas relações de trabalho, os salões podem
ficar sem profissionais. “Essas pessoas têm um padrão de vida baseado nesses
ganhos e na flexibilidade dos horários e não estão dispostas a trabalhar por um
salário inferior”, diz.
“Greve da
beleza” vai parar salões.
Profissionais autônomos protestam contra
fiscalização do Ministério Público do Trabalho – que, na opinião deles, pode
empurrar cabeleireiros e manicures para a informalidade.
A partir
das 13 horas de hoje, salões de beleza de Curitiba e região vão fechar as
portas para protestar contra uma ação do Ministério Público do Trabalho no Paraná,
que investiga as relações de trabalho entre os salões e os profissionais
autônomos. A mobilização denominada “Dia do Luto do Profissional Autônomo da
Beleza” inclui uma concentração às 14 horas na Praça Carlos Gomes, e pretende
chamar atenção para o que eles qualificam como um retrocesso às conquistas da
categoria.
Segundo o
procurador do trabalho Alberto Emiliano de Oliveira Neto, responsável pela
ação, a decisão de investigar as relações de trabalho entre os salões de
Curitiba e os profissionais autônomos partiu de denúncias feitas por
trabalhadores que se sentiram lesados em seus direitos. Além disso, o
procurador alega que o próprio Sindicato dos Profissionais Autônomos em Beleza
Estética (Spabep) informou ao Ministério Público do Trabalho que todos os profissionais
de beleza de Curitiba e região são autônomos. “Este fato totalmente atípico é o
objeto da nossa investigação”, afirma.
Hoje, a
maior parte dos profissionais de beleza de Curitiba e região metropolitana
firma contratos de trabalho com os salões para a prestação do serviço autônomo
e recolhem os impostos por meio de programas como o Microempreendedor
Individual (MEI). “Esse modelo funciona há 17 anos, com aprovação e
reconhecimento dos sindicatos do segmento e chancela da Delegacia Regional do
Trabalho”, afirma o cabeleireiro e presidente do Spabep, Sandoval Tibúrcio.
Piso baixo
Contrários à ação do Ministério Público do Trabalho,
os profissionais da beleza de Curitiba acreditam que a ação vai gerar um
impacto negativo no mercado, levando a um aumento considerável da
informalidade. Como autônomos, eles possuem flexibilidade de horário e
conseguem obter rendimentos maiores, com porcentagens que variam de 50 a 80% do
preço do serviço. Já com o registro em carteira, eles precisariam cumprir
jornadas fixas de trabalho e receberiam o piso da categoria, mais uma comissão
que seria definida pelos salões. Segundo Tibúrcio, enquanto um cabeleireiro
autônomo qualificado em início de carreira não fatura menos de R$ 2.500, o piso
previsto para esta categoria é de R$ 1.250.
Segundo o
proprietário da rede de salões Expert, Adir Hillani, os profissionais autônomos
estão revoltados porque passariam a receber entre R$ 750 a R$ 1.200. Na visão
dele, nada impede que um profissional autônomo que se sinta lesado procure seus
direitos junto aos órgãos competentes, porém, esse modelo é justamente o que
registra o menor número de ações trabalhistas.
Cabeleireira
autônoma há 16 anos, Simone Carvalho recebe, em média, R$ 4 mil por mês, tem
alvará e recolhe INSS, mas garante que se ação do Ministério Público do
Trabalho for aceita ela volta para a informalidade. “O desgaste vai ser grande,
mas eu vou bater de porta em porta”. Para Simone, a liberdade dos horários e o
bom rendimento são fatores que motivam os profissionais a continuar em busca de
qualificação. Segundo ela, sem a parceria com os salões jamais teria condições
de oferecer as suas clientes um ambiente de qualidade e com boa estrutura. A
mesma situação ocorre com a manicure Gisele Gomes Macedo, que trabalha há 13
anos como autônoma. Trabalhando assim ela conseguiu formar as duas filhas,
construiu casa e comprou carro. “Já avisei minhas clientes que se for para
registrar a carteira vou passar a atender em casa”, diz.
Vínculo
Procuradoria quer garantir benefícios como férias, 13º e FGTS
De acordo
com o procurador Oliveira Neto, a procuradoria vai atuar somente nos casos em
que vínculo empregatício – ou seja, uma situação em que o autônomo trabalha
como se fosse um profissional contratado – estiver presente, mas não estiver
sendo reconhecido legalmente. “Quando houver subordinação do profissional em
relação ao dono do salão temos caracterizada uma situação de vínculo”, explica.
Nesse caso, precisam ser garantidos os direitos
como hora extra, férias, 13º salário, FGTS, descanso semanal, além de outras
garantias legais. Por outro lado, quando a relação de trabalho não configura
subordinação, ou seja, o profissional recolhe os impostos, é livre para fazer
seu próprio horário e definir o preço cobrado aos seus clientes, os contratos
devem ser mantidos. Para debater o assunto, o MPT-PR marcou para o dia 22 de
outubro o uma audiência pública com profissionais, proprietários de salões e
juristas do trabalho.
Publicado no
Site Técnicos de Segurança do Brasil
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