segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Perigo quase invisível

Muitas vezes ignorados, mas presentes nas atividades cotidianas dos canteiros, substâncias e compostos químicos podem penetrar no organismo por via respiratória, pele e mucosas, causando danos à saúde

Reportagem: Juliana Nakamura

Marcelo Scandaroli


Presentes em tintas, solventes, produtos de impermeabilização, adesivos, cimentos e em uma infinidade de materiais, os agentes químicos são substâncias, compostos ou produtos cujas minúsculas partículas são capazes de penetrar no organismo humano na forma de poeiras, fumos metálicos, gases, vapores, etc.

As consequências mais comuns do contato com essas substâncias são doenças de pele e respiratórias. Uma das mais graves é a silicose, doença pulmonar provocada pela inalação de poeiras minerais presentes na manipulação, quebra ou corte de materiais como areia, argamassa, azulejo, brita, cerâmica, concreto e tijolos. Dependendo do material ao qual a pessoa é exposta, bem como do tipo e tempo de contato, outros problemas ainda mais sérios podem acontecer, de intoxicações a lesões no sistema nervoso central ao câncer.

"Infelizmente ainda nos deparamos com muitos atos de negligência aos riscos provocados pelos agentes químicos", comenta Andreia Kaucher Darmstadter, superintendente do departamento de Segurança do Trabalho do Serviço Social da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Seconci- MG). Ela explica que isso se deve, em grande parte, ao fato de os danos provocados nem sempre serem notados imediatamente.

Medidas de prevenção
Andreia lembra que todos os empregados de uma obra, antes do início das atividades, devem ser submetidos a curso mínimo de seis horas visando a garantir a segurança. Este treinamento deve passar instruções e medidas a serem adotadas para proteção dos trabalhadores quando houver exposição a agentes químicos.

Além disso, reuniões periódicas acompanhadas pelos profissionais de segurança são importantes para disseminar o conhecimento sobre riscos dos agentes químicos. "É fundamental haver programa com medidas de controle a serem adotadas quando, em qualquer fase da obra, os riscos detectados ultrapassarem os valores limites das normas", diz Andreia.

Armazenamento
Muita cautela deve ser adotada no armazenamento de produtos químicos. Aqueles que serão utilizados por longo período de tempo devem ser armazenados corretamente no almoxarifado (devidamente identificados e fechados), conforme orientações do fabricante. Além disso, produtos tóxicos e perigosos precisam ser mantidos sobre áreas impermeáveis, capazes de reter eventuais vazamentos. Da mesma forma, materiais finos e pulverulentos devem ser estocados cobertos, ao abrigo do vento.

Os equipamentos de proteção individual (EPIs), como luvas, botas, óculos e máscaras respiratórias, devem ser sempre utilizados. Eles evitam, por exemplo, a exposição à poeira nas atividades de peneiramento da areia, polimentos e cortes de concretos e pedras, trabalhos com gesso, serviços de acabamentos e na limpeza. Também protegem contra a absorção de produtos tóxicos pela pele, que podem causar desde dermatites até intoxicação.

SINALIZAÇÃO 
A sinalização do ambiente de trabalho também é indispensável para alertar sobre riscos e a necessidade de utilização dos equipamentos de proteção.


TheAllPhoto/Shutterstock/Bakelyt/Shutterstock


Sinais de obrigação: desenhos brancos sobre fundos azuis em placa de formato circular. Utilizados para indicar obrigatoriedade de uso de EPI. São usados, por exemplo, para lembrar a necessidade de uso de máscaras de respiração e devem ser colocados próximos às betoneiras, a recintos fechados de pintura e de aplicação de gesso.
Sinais de perigo: cartaz ou placa com desenho preto em fundo amarelo. Usado para indicar situações de atenção, precaução, verificação ou atividades perigosas, como no acesso aos locais de trabalho onde substâncias tóxicas e inflamáveis são utilizadas.

INFORMAÇÕES DE SEGURANÇA

As empresas que fornecem produtos químicos são obrigadas a apresentar as Fichas de Informações de Segurança de Produtos Químicos (FISPQs), que são fonte de consulta de dados sobre sua composição e manuseio de forma a garantir a saúde do trabalhador.

Também beneficiam o meio ambiente ao trazer informações ecológicas sobre descarte do material e da embalagem. Em hipótese alguma um produto químico deve ser recebido em canteiro sem acompanhamento de sua FISPQ.

A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos (GHS) que padroniza as FISPQs internacionalmente. No Brasil, a Norma Regulamentadora 26 (NR 26), revisada em maio de 2011, estabeleceu a obrigatoriedade da adaptação das FISPQs ao GHS a partir de 1° de junho de 2015 para misturas químicas.

Antecipando-se a essa determinação, algumas empresas da construção civil já disponibilizam as FISPQs atualizadas. A Weber Saint-Gobain, por exemplo, já disponibiliza as FISPQs de suas argamassas, de acordo com as novas normas.

Confira na versão online dessa reportagem, em www.equipedeobra.com.br, como é a FISPQ do produto "Reformas Rolado Quartzolit", da Weber Saint-Gobain.



PRINCIPAIS AGENTES DE RISCO

Fotos: Marcelo ScandaroliPoeiras metálicas
Quando: 
durante o corte de vergalhões
Riscos:
 doenças do sistema respiratório
Como evitar:
 uso de máscaras ou equipamento de proteção respiratória, óculos e luvas

Poeiras alcalinas
Quando:
 manipulação e transporte de cal e cimento
Riscos: 
doenças pulmonares crônicas, dermatites, urticária, conjuntivite, inchaço das membranas
Como evitar:
 uso de máscaras ou equipamento de proteção respiratória, óculos e luvas
Fotos: Marcelo Scandaroli

Fotos: Marcelo ScandaroliPoeiras minerais
Quando: 
corte de rochas minerais, carregamento e descarregamento de areia, corte de revestimentos e telhas cerâmicas
Riscos:
 fibroses, bronquite, asma e câncer
Como evitar: 
uso de equipamento de proteção respiratória, óculos e luvas. A realização de cortes a úmido ajuda a evitar a dispersão da poeira

Poeiras vegetais
Quando:
 corte e lixamento de madeira
Riscos: 
rinite alérgica e adenocarcinomas
Como evitar:
 uso de máscaras ou equipamento de proteção respiratória, óculos e luvas
Fotos: Marcelo Scandaroli

Fotos: Marcelo ScandaroliFumos metálicos
Quando:
 operação de corte e soldagem a quente
Riscos:
 doença pulmonar obstrutiva, febre dos fumos metálicos e intoxicação
Como evitar:
 uso de equipamento de proteção respiratória, óculos, luvas e botas

Produtos químicos
Quando:
 manipulação de ácido muriático e clorídrico, aguarrás, argamassas, desmoldantes, primer, resinas, thinner, tintas, vernizes, etc.
Riscos: 
dermatite de contato, intoxicações, reações inflamatórias na pele e nas vias respiratórias superiores, lesões na mucosa dos olhos, câncer, lesões no sistema nervoso central
Como evitar:
 uso de equipamentos de proteção obrigatórios, como luvas, óculos e máscaras ou equipamento de proteção respiratória
Fotos: Marcelo Scandaroli

Fotos: Marcelo ScandaroliGases, névoas e vapores
Quando: 
operações de corte e soldagem a quente, pintura com pistola, manuseio de produtos químicos que podem evaporar quando expostos à temperatura ambiente
Riscos: 
efeitos asfixiantes (dor de cabeça, náuseas, sonolência, convulsões, coma e morte), efeitos irritantes (irritação das vias aéreas superiores, pele e mucosa dos olhos), danos ao sistema nervoso, a diversos órgãos do corpo e ao sistema formador de sangue. Aumento da probabilidade de asma ocupacional
Como evitar: 
uso de equipamentos de proteção obrigatórios, como luvas, óculos e equipamento de proteção respiratória

Fonte: Adaptado de "Segurança Química na Indústria da Construção", Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro).



http://www.equipedeobra.com.br/construcao-reforma/52/perigo-quase-invisivel-muitas-vezes-ignorados-mas-presentes-nas-267864-1.asp

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