Na última quinta-feira, 3,
acidente que causou a morte do operário de construção civil Flávio Soares da
Costa, 37 anos, gerou polêmica em Goiás.
Por falhas na segurança, Flávio morreu
após cair do 13º andar do edifício onde trabalhava. Custo médio do pacote
básico com equipamentos de proteção individual pode variar entre R$ 200,00 e R$
300,00 por funcionário. Já valor das indenizações por acidentes de trabalho
variam pelo tipo dos casos, pelas condições adversas ou de acordo com decisão
judicial. No entanto, podem passar de R$ 15 mil reais além de outros gastos
administrativos para as empresas.
Influente na área, o
professor de engenharia e segurança do trabalho pela PUC Goiás, Cristiano Leão
se surpreende com o acidente ocorrido, recentemente. “É atípico para a
atualidade ocorrer um acidente assim, pois, empresas de grande porte geralmente
estão preocupadas com a imagem pública e sabem o impacto que um fato assim pode
causar nos negócios”, comenta.
Professor nota que empresas de pequeno porte se preocupam menos com a segurança de seus funcionários. Ele afirma que de um lado, as grandes empresas investem em segurança para evitar polêmicas e cobram de seus funcionários para se precaverem. Do outro lado, os trabalhadores também reconhecem seus direitos e buscam zelar pela vida.
“O número de acidentes no
trabalho é proporcional ao nível de informação que as pessoas demonstram em
relação à segurança. Ações das empresas precisam estar voltadas para uma gestão
ativa, com prevenções, e não reativa, depois dos acidentes. Não é falta de
investigação, porque a lei brasileira é relativamente rígida. Se isso acontece,
pode ter sido em função de falta de conhecimento por uma das partes”, argumenta
Cristiano.
Sem acidentes
Há 12 anos, a construtora
Pontal Engenharia não registra nenhum acidente envolvendo funcionários, batendo
seu próprio recorde de segurança e saúde do trabalho. O engenheiro civil da
incorporadora, Wesley de Andrade Galvão, explica que a meta da empresa é manter
um sistema de gestão preventiva adotando medidas de inovação para a qualidade
do serviço.
O engenheiro não dispõe de
dados específicos para investimentos em segurança.
Disse: "mensalmente, a
empresa aplica mais de R$ 1 milhão para aquisições de equipamentos para evitar
danos aos operários. Construtora tem uma parceria com o Sesi para a realização
do programa ergonômico De olho na postura, com micro pausas no qual os
trabalhadores são instruídos a agirem de forma mais adequada na execução dos
serviços".
“Nossa preocupação é atingir
um estado de boa saúde dos funcionários. Além disso, diariamente, eles são
acompanhados por consultores, fisioterapeutas, massagistas entre outros
profissionais de saúde para prevenção de lesões, doenças e acidentes”, comenta
Wesley, que também é concluinte do curso de Engenharia em Saúde e Segurança do
Trabalho.
Operador de betoneira da
Pontal, Jailson Rodrigues da Silva, 30 anos, lembra que a cada dois meses,
todos os funcionários passam por cursos de “reciclagem de serviço”, ou seja,
recebem aulas para renovarem as técnicas das funções que realizam, e ainda
fazem exames médicos periódicos. Ele menciona ainda que, há poucos dias,
recebeu uma cinta lombar readaptada, utilizada para manter a postura ereta
enquanto realiza os trabalhos.
“A cinta lombar é um dos
melhores equipamentos que temos, porque permite fazer o serviço sem ficar
incomodado com dores na coluna. E não é só isso, porque todo dia, antes de
usarmos os equipamentos de proteção individual (EPIs), tudo é conferido pela
avaliação dos técnicos e dos engenheiros de segurança e só depois, liberado. Se
vemos alguma coisa estragada, logo em seguida, repassamos para que os
responsáveis as troquem por melhores”, conta o operário.
Estatísticas
De acordo com o mais recente
Anuário Estatístico de Acidentes do Trabalho, realizado pelo Ministério da
Previdência Social (MPS), em 2011, foram registrados 15.915 acidentes, de
simples lesões aos mais graves, no Estado de Goiás. Em 2008, o número de danos
causados durante expediente chegava a 18.307. Acidentes diminuíram, porém o número
de mortes aumentou de 102 óbitos, confirmados há cinco atrás, para 124 óbitos
registrados no último levantamento do Ministério.
Por ano, aproximadamente, 60
auditores de fiscalização da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego
(SRTE GO) realizam uma média de oito mil ações fiscais no Estado, com o intuito
de orientar empresas e funcionários a se preocuparem com a segurança no
trabalho. Em 2012, foram realizadas 1.625 autuações, em Goiás, dos quais 53,89%
de todas as autuações até novembro estavam concentradas no ramo de construções,
que liderava o ranking de acidentes por atividade econômica, até 2010, quando
foi superada pela indústria de álcool.
Segundo Renato Cunha, chefe
do setor de Segurança e Saúde do Trabalhador, da SRTE, o número de acidentes
vem diminuindo gradativamente, nos últimos anos, devido à preocupação das
empresas em aperfeiçoar as técnicas de segurança para os funcionários. Ele
percebe que grande parte dos danos à saúde do trabalhador também acontece no
trajeto.
“Se considerar os últimos
três anos, notamos que as empresas passaram a adotar medidas mais rígidas e
eficientes para proteção do trabalhador. Em Goiás, no geral, os acidentes
típicos diminuíram, mas os acidentes de trajeto aumentaram principalmente após
o serviço. Também é necessário haver esse cuidado por parte dos empregados,
antes, durante e depois do trabalho”, comenta Cunha.
Chefe de segurança do
trabalho da SRTE também afirma que todos os funcionários, em qualquer tipo de
empresa ou para qualquer tipo de serviço, precisa passar por treinamento para
conhecer os procedimentos e riscos eminentes pelo trabalho que será realizado.
Pelo menos um trabalhador deve receber instruções e ficar designado à função de
coordenar e fiscalizar a segurança dos outros. Esse cargo fica por conta dos
“cipeiros”, membros da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa).
“É necessário que toda
pessoa tenha conhecimento sobre a ordem de serviço e como manusear os
equipamentos, principalmente os novos. Em alguns casos, a falta de prevenção pode
causar prejuízos até mesmo para o funcionário. Se não usar adequadamente e
conforme as normas de segurança, o trabalhador pode ser advertido, penalizado e
até demitido”, orienta Renato Cunha.
Prevenção
Auditor e médico do trabalho
pela D'Médica, Luciano Leão Bernadino Costa, menciona que os acidentes podem
ser classificados em magnitudes diferentes, desde lesões simples até os óbitos.
Ele percebe que há uma preocupação das empresas em proporcionar garantias de
saúde aos seus empregados.
“É fundamental que haja
contenções de riscos no ambiente de trabalho. Todas as funções e cada perfil de
profissional precisam ser devidamente examinados para não agravar danos à saúde
e posteriormente prejuízos para ambos os lados. O principal é amenizar os
riscos, não apenas em campanhas nacionais por uma única semana, mas
diariamente. Todo dia é dia de prevenção de acidente. Tem que haver boa vontade
entre as partes”, adiciona o médico Luciano.
DIÁRIO DA MANHÃ
CÉSAR MORAES
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