Conversar com os trabalhadores é fundamental para analisar os riscos e prevenir
acidentes. Essa foi uma das lições deixadas pelo engenheiro e ergonomista
francês Michel Llory, durante o 30° Encontro Presencial do Fórum de Acidentes
de Trabalho, realizado no CTN da Fundacentro, no final do mês passado.
Em uma de suas pesquisas, Llory realizou testes com operadores da Electricité de France (EDF) em simuladores de ação em escala plena (equipamento para realizar testes com trabalhadores). Para tanto, escolheu uma situação de um acidente real, e passou os dados aos trabalhadores, a fim de avaliar quais procedimentos seriam realizados. Quase todos erraram e repetiram a ação do acidente.
“Ao longo
dos testes, ficou cada vez mais evidente como era fundamental conversar com os
operadores, por meio de entrevistas”, disse Michel Llory. “Nós compreendemos
que os acidentes se iniciam muito antes da ocorrência real, e tem a ver com
decisões muitas vezes tomadas longe do local do acidente. Na análise
organizacional, é importante sair da sala de comando e procurar os inícios das
respostas do acidente.”
Michel Llory em foto de Edson dos Anjos.
Llory
também pôde perceber que o trabalho desenvolvido ia muito além do prescrito e
observou os saberes de ofício e os de prudência dos trabalhadores. Os saberes de ofício abrangem o
saber fazer, a competência para produzir o trabalho. Já os saberes de prudência
são aqueles voltados para a cautela e a prevenção de acidentes e perdas no
sistema. “É preciso estimular a comunicação
horizontal e o saber operário”, ressalta o engenheiro francês.
A
abordagem investigativa de Llory leva em consideração o que as pessoas falam
sobre o trabalho, sem se esquecer de olhar para todos os documentos e registros
escritos. Mistura uma investigação causal e objetiva com uma abordagem mais
subjetiva, ligada às impressões dos operadores sobre o que se passou. Também
analisa os acidentes e incidentes prévios.
O
pesquisador costuma utilizar entrevistas coletivas, por considerá-las
importantes para conseguir uma representação das condições de segurança de uma
empresa. O grupo formado deve ser homogêneo, com operadores do mesmo nível
hierárquico. “Precisamos partir do pressuposto que eles conhecem a
organização muito melhor do que nós. Eles fazem diagnósticos e análises”,
explica Llory.
A
participação de Michel Llory durante o 30° Encontro Presencial do Fórum de
Acidentes de Trabalho mobilizou a realização de quatro encontros considerados
muito produtivos. “O Llory consegue expressar a necessidade de revisão das
práticas de segurança”, avalia o professor da Faculdade de Saúde Pública da
USP, Rodolfo Vilela. “É necessário fazer uma análise crítica e uma revisão das
formas tradicionais, para enxergar os pontos obscuros e os antecedentes
dos acidentes. Ele reforça esse alerta que o Fórum busca trazer”.
Blog do
Trabalho
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