Assédio moral no trabalho gera desmotivação,
medo e afeta produtividade; saiba como agir.
Diminuição
da produtividade, desmotivação, falta de interesse e medo podem ser resultado
de humilhações repetitivas e outras condutas abusivas sofridas no ambiente de
trabalho. Se esse é o seu caso, tome cuidado, pois você pode estar sendo vítima
de assédio moral.
Fato é que nem sempre o assédio fica claro, pois não é apenas uma
agressão verbal ou uma ameaça que vai caracterizá-lo e, muitas vezes, o
trabalhador tem medo de fazer acusações com medo de ser prejudicado.
“O assédio se caracteriza pela conduta repetitiva, insistente,
persistente e, em especial, por existir, da parte do assediador, a intenção de
prejudicar a vítima”, explica Edina Bom Sucesso, autora do livro “Até quando?
Tortura psicológica e assédio moral no trabalho” (Ed. Qualitymark).
O assédio pode partir de um chefe contra um subordinado, de um colega
contra outro colega de trabalho e até de subordinado contra um superior, quando
um antigo colega é promovido a chefe sem que o grupo tenha sido consultado. O
grupo pode agir contra ele, assediando-o moralmente.
Gravidade do assédio
De acordo com a psicóloga Edina Bom Sucesso, a gravidade do assédio é
medida nas consequências à saúde da vítima, e não na forma de agir do agressor.
Independentemente do que ele faça - seja um xingamento repetitivo ou tentativas
de prejudicar a carreira - o resultado na vida do trabalhador é o que torna o
assédio mais brando ou grave. Veja exemplos:
Brando: Um homem
chega à empresa e vai ganhando destaque. O chefe se sente ameaçado e passa a
impor-lhe metas praticamente impossíveis de serem atingidas. Durante alguns
meses, esse homem é forçado a alcançar essas metas e, sem conseguir, acaba
tendo insônia. Recorre ao RH e é aconselhado a falar com o superior. Ele acata,
mas o chefe, com o passar do tempo, volta a pegar pesado. Por fim, o rapaz
deixa a empresa.
Grave: O chefe
começa a assediar uma funcionária muito talentosa. Critica a qualidade do
trabalho dela em público, tentando diminuir o seu talento. Depois de ser muito
criticada em público, a trabalhadora passa a achar que o problema é ela, que
não tem mais a mesma competência e entra em processo depressivo muito sério, a
ponto de precisar de um tratamento psiquiátrico. Até que ela, sem mais forças,
deixa o emprego, sem recorrer à Justiça.
Esse caso, segundo Edina Bom Sucesso, é considerado grave porque, além
de a trabalhadora ficar muito doente, ela não vai atrás de seus direitos. “Ela
paga a conta sozinha e isso é muito sério”, diz a psicóloga.
Como agir em caso de assédio
Fale com o assediador
O primeiro passo para resolver uma situação de assédio moral é ter uma
conversa franca com o suposto assediador. Ele pode não estar percebendo o
assédio que pratica ou mesmo nem estar praticando o assédio, num possível caso
de equivocada percepção por parte de quem o acusa.
“Às vezes, o outro não tem consciência da sua influência sobre o
funcionário e, quando ultrapassa o limite, tem que ser mostrado isso a ele”,
diz Luiz Edmundo Rosa, diretor de educação da ABRH-Nacional.
No caso de assediador ser um colega de trabalho, também o primeiro a
fazer é procurar o respectivo chefe. Mas a psicóloga Maria do Carmo Célico,
especializada em assédio moral no trabalho, alerta para a reação que o chefe
pode ter.
“Já houve casos em que a pessoa procurou o chefe e ele disse que ela
estava louca, não aceitava mudanças e precisava rever seus conceitos”, diz
Maria do Carmo.
Procure o superior do seu chefe
Se o chefe é o assediador e a conversa franca com ele não funcionou, o
superior dele deve, então, ser procurado pela vítima. “A hierarquia obriga que
a sigamos, com todo o risco que eu possa ter. Mas o pior é não fazer nada”, diz
o diretor de educação da ABRH-Nacional.
Rosa cita a “hierarquia” porque, segundo ele, ir direto ao superior do
chefe sem falar primeiro com este (o assediador), pode não ser uma boa
saída. “Imagine se ele perguntar se você já falou com o seu chefe e você
não falou. Vai te desarmar”, argumenta.
Ele observa que, além do diálogo travado pessoalmente, é recomendado que
a vítima oficialize seu pedido por providências por escrito, protocolando uma
carta para o chefe. O documento poderá ser útil caso, mais tarde, a pessoa
venha a acessar a Justiça.
Entre em contato com o RH da empresa
A psicóloga e consultora Maria do Carmo Célico afirma que é sempre
importante tentar esgotar todas as possibilidades de solução dentro da própria
empresa antes de se pensar em procurar a Justiça.]
Entrar em contato com o departamento de recursos humanos pode ser uma
saída. E, caso a pessoa esteja tendo dores de cabeça, crises de choro,
problemas digestivos, insônia, aumento da pressão arterial, palpitações e
tremores sem qualquer justificativa, é o caso de procurar o departamento médico
da empresa ou um médico do trabalho conveniado.
Pode ser que já se esteja doente em decorrência do assédio moral, e um
profissional da saúde do trabalho pode diagnosticar isso.
Procure diretamente o dono ou
presidente da empresa
Se no âmbito das chefias o caso não for solucionado, o dono da empresa
ou seu presidente podem ser acionados. Isso, claro, em se tratando de uma
empresa de menor porte, em que o funcionário tenha acesso facilitado ao
executivo.
Se a empresa for uma multinacional, por exemplo, a possibilidade é
considerada por Rosa uma exceção, porém, mesmo assim, não descartável.
Faça um boletim de ocorrência
Ainda antes de partir para o acionamento da Justiça, a polícia pode ser
procurada para a confecção de um boletim de ocorrência. Pode ser, por
exemplo, uma delegacia da mulher.
“A polícia chama a pessoa acusada”, observa Rosa. E, a partir de uma
conversa como esta, mais formal, o caso pode se resolver.
Procure a Defensoria do Estado
Por fim, se nenhum dos esforços anteriores funcionarem a contento da
vítima, esta deve reunir toda a documentação e provas que tiver contra o
assediador para acioná-lo judicialmente.
Se o assédio envolver discriminação, por exemplo, as defensorias
públicas podem ser o canal. Em São Paulo, existe dentro da Defensoria do Estado
um núcleo especializado no combate à discriminação, cujos contatos podem ser
obtidos no sitewww.defensoria.sp.gov.br/dpesp.
Sutileza é o disfarce
De acordo com Luiz Edmundo Rosa, diretor de educação da Associação
Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Nacional), alguns chefes são muito sutis,
até tratam bem o trabalhador, mas no fundo atuam para desestimulá-lo e fazê-lo
pedir demissão.
Da mesma forma há trabalhadores que, em razão de seu grau de
sensibilidade, podem se sentir alvo de assédio o tempo todo porque não
conseguem lidar com medidas um pouco mais rígidas por parte do chefe – medidas
nem sempre caracterizadas como assédio.
Há casos em que o assédio é evidente. Exemplo: quando o funcionário é
chamado de “burro”, “incompetente”, “ignorante”. Mas Rosa esclarece que o
assédio também pode ocorrer de forma não verbal quando o chefe começa a não
delegar tarefas ao funcionário com o intuito de isolá-lo.
Luciana
Quierati
Do UOL, em
São Paulo
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