O desemprego entre os jovens é o dobro do índice geral, no  brasil. Mas isso não se aplica a boa parte dos que apostaram no ensino  técnico. Hoje, muitos deles são disputados pelas empresas. 
Por Rosenildo Gomes FERREIRA
Entre os dias 12 e 18 de novembro, um grupo formado por 638  estudantes de todo o País se reunirá em São Paulo para disputar a edição 2012 da Olimpíada do Conhecimento. Mais que um torneio que avalia a  habilidade e o desempenho em 54 profissões, a competição, promovida pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), funciona como uma  vitrine do que o País tem de melhor no chamado ensino  profissionalizante. Para os jovens, é a chance de “carimbar o  passaporte” para a disputa mundial, a WorldSkills, na qual o Brasil vem  fazendo bonito nos últimos anos. 
Na edição 2011, realizada em Londres,  os representantes brasileiros ficaram na segunda posição, atrás apenas  dos colegas da Coreia do Sul. 

Medalha de ouro: vida profissional do campinense Freitas decolou
após ele vencer um torneio profissional, em Londres.
Quem passa por esses funis, tanto na etapa nacional como na  internacional, transforma-se numa espécie de “Einstein do chão de  fábrica”, por aliar conhecimento teórico e técnico de alto nível. 
Tão  importante quanto esse reconhecimento é que os estudantes que se dão bem na competição passam a ser disputados pelas empresas. É o caso de  Mateus Benedetti Freitas, de Campinas, no interior de São Paulo,  ganhador da medalha de ouro em eletrônica em 2009. “O curso técnico me  ajudou a entender a rotina de uma empresa”, diz Freitas, que trabalha  como técnico de processos na coreana Samsung. “Isso é importante  diferencial para quem pretende ingressar no mercado de trabalho.” 

Óleo e tecnologia: o paulista Luiz (abaixo) se mudou para o Rio de Janeiro, onde atua no setor de petróleo. Já o catarinense  Barbosa transformou o hobby em informática em profissão.
Aluno do terceiro ano de engenharia da Pontifícia Universidade  Católica (PUC), Freitas faz parte de um seleto grupo que enxergou na  formação técnica um atalho para o primeiro emprego. Apesar das  evidências – cerca de 90% dos egressos de instituições como o Senai  conseguem emprego na área desejada –, apenas 6,6% dos jovens  brasileiros, entre 15 e 19 anos, optam pela formação técnica no nível  secundário. Nos Estados Unidos e na Europa essa taxa chega a 50%. Para o diretor-geral do Senai, Rafael Lucchesi, esse fenômeno é fruto do  modelo educacional brasileiro, que tem uma forte vertente academicista. “Não havia um incentivo à graduação técnica, pois se partia do princípio de que todos os jovens irão para a faculdade”, afirma Lucchesi. 
A prática mostra, no entanto, que somente 14% dos que concluem o  segundo grau seguem estudando. O resultado disso se traduziu, nos  últimos anos, no fenômeno batizado pelos especialistas como “apagão de  mão de obra”. É fácil encontrar alguém que já penou para conseguir  contratar um eletricista, um marceneiro ou um pedreiro para fazer um  conserto ou uma reforma em sua casa. Mais: um dos motivos apontados para a desaceleração do ritmo da construção civil foi a falta de pedreiros,  mestres de obras e operadores de máquinas. “O Brasil vive uma  situação duplamente ruim”, diz o economista John Schulz, sócio-fundador  da BBS Business School, de São Paulo. “Faltam tanto técnicos de nível  médio quanto de nível superior.” 

Se nada for feito, a situação só tende a piorar. O Mapa do  Trabalho Industrial 2012, elaborado para a Confederação Nacional da  Indústria (CNI), indica que, no período 2012-2015, serão necessários 7,2 milhões de técnicos em 177 áreas distintas. 
Em muitas delas, o salário inicial é de R$ 2,1 mil, de acordo com Lucchesi. O lado bom  dessa história é que essas profissões (veja as mais cobiçadas no quadro  abaixo) podem se constituir em uma porta de entrada segura para quem  deseja ingressar no mercado. Principalmente no caso dos jovens entre 16 e 24 anos, faixa etária na qual o nível de desemprego é de 13%, o dobro  da registrada no País. Uma das explicações para essa distorção é a falta de qualificação. Problema que nunca afetou o paulista Fernando José  Mangili Luiz. 

Lucchesi, diretor do Senai: segundo ele, 90% dos jovens que passam pelos cursos da instituição conseguem emprego nas áreas desejadas. Em muitos casos, o salário inicial chega a R$ 2,1 mil.
Nascido em Bauru, ele vive hoje no Rio de Janeiro, onde atua como  projetista de tubulações para prospecção de petróleo na Subsea 7. “Desde o início dos cursos tenho sido contratado para fazer projetos”, afirma. Assim como o campineiro Freitas, ele se sagrou campeão da WorldSkill,  na edição realizada no Canadá, em 2009, na categoria desenho mecânico em CAD. Para dar vazão à crescente demanda do País por técnicos, a direção do Senai está expandindo sua rede de escolas. A meta é ampliar o número anual de matrículas de 2,5 milhões para quatro milhões, até o final de  2014. Hoje, os cursos são realizados em 900 unidades e 300  escolas-móveis, além das cerca de 100 indústrias conveniadas. 
“Cobrimos  2,6 mil municípios”, afirma Lucchesi. O alvo são os jovens como o  catarinense Natã Miccael Barbosa. 
Desde a infância ele era apaixonado por informática. O desejo de  montar e desmontar computadores o levou a se matricular em um curso  técnico no Senai, quando completou 17 anos. Três anos depois, em 2011,  foi para Londres, onde bateu 28 colegas da Coreia, da China e dos  Estados Unidos, entre outros países, no WorldSkill de Londres. Hoje, ele atua no desenvolvimento de softwares para a cadeia de suprimentos da  Neogrid, em Joinville, no norte de Santa Catarina. À noite, frequenta o  curso de sistemas de informação na Universidade Católica de Santa  Catarina. Assim como acontece com seus colegas, as despesas com a  faculdade são pagas pelo Senai. “A opção pelo curso técnico me garantiu  uma carreira sólida na área que sempre pensei em atuar”, diz Barbosa.

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