Araripina – A programação do seminário Trabalho
Seguro e Saudável no Sertão do Araripe, que iniciou segunda à noite e foi
encerrado às 17h desta terça-feira (9), recomeçou ontem à tarde com a exibição
do vídeo-reportagem “O ouro branco de Araripina”, produzido pela TV Brasil. Em
sua palestra, que teve como tema “Condições de trabalho no polo gesseiro do
Araripe: panorama atual e atuação do MPT”, a procuradora do trabalho Vanessa
Patriota afirmou que, apesar dos benefícios econômicos, a atividade gesseira
causa muitos problemas, tais como poluição do meio ambiente, desmatamento da
caatinga para alimentar os fornos, êxodo rural. “Mas a questão mais séria é a
saúde do trabalhador”, adiantou. “Alguns estudos mostram problemas crônicos no
sistema nervoso, fibrose pulmonar, doenças que vão se manifestar com o decorrer
do tempo”, completou.
Além
disso, esclareceu a procuradora, há dois problemas graves, falta de orientação
do pessoal da saúde para fazer uma anamnese adequada, que investigue onde o
operário trabalha, para descobrir se há vínculo entre sua doença e atividade
profissional e o fato de os males só se manifestarem muitos anos depois.
Um dado
positivo é a diminuição do número de menos de 18 anos trabalhando na atividade
mineradora do Sertão do Araripe. Outro ponto de destaque, a redução da
informalidade no setor.
Hoje o
que chama mais a atenção é a questão do meio ambiente do trabalho. Falta de
EPIs – luva, bota, máscara – fiação elétrica exposta, risco de queda, vala
aberta sem proteção adequada, máquinas e equipamentos, condições sanitárias,
falta de água potável.
A
procuradora Vanessa Patriota avalia que já é o momento de o Ministério Público
do Trabalho ir além, passar da preocupação com os equipamentos de proteção
individual para focar sua atuação na garantia de um ambiente coletivo saudável.
“Não adianta máscara e óculos na linha de produção se fora dela a poeira
continua”, justificou, esclarecendo que já existem máquinas que processam o
gesso sem tanta disseminação de poeira. “Não basta termos 13 mil postos de
trabalho no polo gesseiro, é preciso que esses 13 mil postos sejam de trabalho
digno”, concluiu a procuradora.
Na
linha da temática de trabalho na atividade mineradora, o educador da
Fundacentro José Hélio Lopes Batista discutiu “A Cipa e suas várias configurações:
um recorte para o setor da mineração”.
A
Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) está regida por diversas
Normas Regulamentadoras. No setor de mineração, deve se seguir a NR-22, que
determina que, em empresa com número de empregados variável entre 15 e 30,
haverá quatro membros na Cipa, com reuniões mensais.
O alvo
da Cipa são riscos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos e também é sua
função elaborar um mapa de riscos ambientais. “Não se imagina uma Cipa que não
construa um mapa de riscos”, afirma Hélio Lopes, acrescentando, inclusive, que
o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) tem de levar em conta tal
mapa. Hélio informou ainda que o cipeiro deve ser um negociador das condições
gerais de desenvolvimento das atividades, sendo elo entre o conjunto de
trabalhadores e os empresários.
Mais um
aspecto destacado pelo palestrante foi o de que a sociedade precisa desfazer o
mito dos superpoderes dos equipamentos de proteção individuais, os EPIs. “A
origem do acidente de trabalho não está na base, mas no topo”, defendeu,
observando que a segurança agrega valor à empresa.
A
última palestra do seminário foi “Benefícios acidentários em decorrência do
acidente do trabalho”, realizada por Lindinalva Amorim, assistente social do
INSS.
A juíza
titular da Vara do Trabalho de Araripina, Carla Janaína Moura Lacerda,
coordenou o painel de palestras durante a programação da tarde.
Avaliação
Para o
aluno Marcelo Amorim, 27 anos, que faz o curso Técnico em Segurança do
Trabalho, no Senai de Araripina, o seminário “Veio agregar mais conhecimento,
contribuindo para ampliar os horizontes”.
Na
opinião do empresário Josias Inojosa, diretor do Sindugesso (Sindicato da
Indústria do Gesso do Estado de Pernambuco), merece elogio a profundidade da
apresentação dos temas no evento. O empresário sugeriu ainda que se definisse
uma agenda para discussão permanente da temática da produção gesseira no Sertão
do Araripe, proposta que o Getrin6 já está se articulando para concretizar.
“O
evento veio ao encontro da ideia do setor gesseiro, que é de se aproximar do
poder público e discutir a realização de ações educativas com vistas a uma
mudança de cultura que resulte na melhoria de condições do ambiente de
trabalho, o que é do interesse de todos”, afirmou Josias Inojosa.
O
diretor da Fundacentro, Túlio Gadelha, destacou o êxito do encontro, já que foi
estabelecido um amplo diálogo entre os vários atores sociais que podem
propiciar um ambiente laboral sadio e esse é um dos objetivos do Getrin. “A
partir da discussão realizada sobre a importância da Cipa, a Fundacentro já
planeja um encontro específico que reúna os cipeiros do polo gesseiro”,
adiantou, comemorando os desdobramentos do seminário.
A juíza
do TRT-PE e gestora regional do Programa Trabalho Seguro, Ana Freitas,
comemorou a realização do seminário Trabalho Seguro e Saudável no Sertão do
Araripe, destacando o nível de excelência das palestras e a abordagem leve, mas
sem perda do teor científico de tantos temas relevantes. A magistrada chamou a
atenção ainda para a multiplicidade de abordagens, tendo todas o eixo comum que
foi a saúde no ambiente laboral do polo gesseiro do sertão pernambucano.
“A
grande contribuição foi a troca de conhecimento, com palestrantes tão
qualificados”, pontuou. Ana Freitas agradeceu ainda a colaboração de todos
quantos contribuíram para o êxito do seminário e manifestou gratidão pela forma
acolhedora como os integrantes do Getrin6 e demais pessoas envolvidas na
organização foram recebidos em Araripina. Por fim, a juíza falou sobre a
importância de difundir boas práticas de segurança no trabalho, difundindo-as
ao maior número de pessoas possível bem como a respeito da relevância de levar
as ações do Getrin ao interior do estado.
Segurança das máquinas e exposição a ruído
e poeira em debate na manhã desta terça (9)
Araripina
– Na manhã desta terça-feira (9), um painel integrado por três palestras compôs
a programação do seminário Trabalho Seguro e Saudável no Sertão do Araripe.
A
primeira conferência foi “NR-12 Segurança no Trabalho em máquinas e
equipamentos”, ministrada pelo auditor fiscal do trabalho Carlos Fernando da
Silva.
Auditor fiscal do trabalho
Carlos Fernando da Silva.
“De
acordo com a Norma Reguladora – 12 (NR-12), as novas máquinas têm de acomodar a
lógica da segurança”, afirmou Carlos Fernando. A NR-12, que tem como fundamento
a redução de acidentes e prevenção de doenças, é um regulamento técnico, pois,
ao contrário da norma técnica, deve ser seguido por exigência legal. A norma
tem como marco legal a Convenção 119 da OIT.
Outra
concepção que a fabricação de máquinas deve respeitar é o princípio da falha
segura, ou seja, que, em caso de defeito, o equipamento minimize os danos
causados às pessoas. Exemplo disso é um elevador, que, ao entrar em pane, deve
lentamente parar no andar térreo e não no meio do prédio.
O
palestrante destacou que as empresas precisam mapear as zonas de perigo das
máquinas, o local nos equipamentos que causa os acidentes. É o mapeamento
dessas zonas que vai garantir o manuseio seguro. Um quarto dos acidentes de
trabalho tem como origem o manuseio de máquinas. Prensas, na metalurgia, e
serras circulares, na construção civil, são equipamentos que geram grande
número de ocorrências.
Segundo
palestrante, Gilson Lucio Rodrigues, apresentou o tema “Exposição ao ruído e à
poeira: danos à saúde, avaliação e medidas de controle”. São muitos os efeitos
do ruído, “Se o barulho for intenso e a ele o trabalhador estiver exposto por
longos períodos, poderá sofrer, além dos imagináveis problemas de audição,
aumento da pressão arterial e problemas gastrointestinais, por exemplo”,
esclareceu o engenheiro.
Gilson Lúcio Rodrigues,
pesquisador da Fundacentro-PE
O
palestrante alertou que “Quando se fala em segurança do trabalho, se pensa logo
em EPI, mas é preciso antes pensar em proteção coletiva”.
Ao
abordar o subtema poeira, o engenheiro destacou que o grande perigo das
partículas em suspensão é que comumente elas se apresentam invisíveis a olho nu
no ambiente de trabalho e assim não são tomadas medidas de proteção. Os
malefícios da poeira são diretamente proporcionais ao teor de sílica, elemento
abundante na crosta terrestre. Assim, a presença das partículas pode gerar
desde ulceração da pele, bronquite, queimaduras graves e até a morte.
Último
palestrante da manhã, Albério Feitosa Calado, engenheiro em segurança do
Trabalho e inspetor do Crea, falou sobre “Amostras de aerodispersóides no polo
gesseiro do Araripe.”
Engenheiro Albério Calado
Em sua
pesquisa, Albério Calado constatou que a grande maioria das empresas apresenta
ambiente com os níveis de poeira toleráveis. Mas disso não se conclui que a
atividade gesseira não possa trazer danos à saúde do trabalhador. Além da
medição do nível de partículas nos locais, o pesquisador também analisou exames
médicos feitos nos operários. Dos cerca de 14 mil trabalhadores examinados, em
aproximadamente quinhentos foram encontradas alterações de saúde.
O
diretor do Centro Regional da Fundacentro de Pernambuco, Túlio Gadelha,
presidiu o painel desta manhã.
Diretor regional da
Fundacentro-PE, Túlio Gadelha
O
evento, promovido pelo Getrin6, tem continuidade no turno da tarde. Às 13h,
será exibido o vídeo-reportagem “O ouro branco de Araripina”, produzido pela TV
Brasil. Seguem-se as palestras “Condições de trabalho no polo gesseiro do
Araripe: panorama atual e atuação do MPT”, com a procuradora Vanessa Patriota;
“A Cipa e suas várias configurações: um recorte para o setor da mineração”,
exposição que será feita por José Hélio Lopes Batista, educador da Fundacentro,
e “Benefícios acidentários em decorrência do acidente do trabalho”, por
Lindinalva Amorim, assistente social do INSS.
Texto: Eugenio Jerônimo
Fotos: Stela Maris
Registro fotográfico: