Equipamentos temporários podem ser desmontados e reaproveitados em outras obras
Sergio Boff
Edição 206 - Maio/2014
O mercado de alojamentos avançou consideravelmente na década de 1970, quando a construção das grandes obras de infraestrutura urbana no País contribuiu para impulsionar e regularizar o setor.
Antes delas, a maioria das obras contava (quando tanto) com canteiros arcaicos que dispensavam por completo projetos e as boas práticas de execução. Poucas construtoras, até então, se preocupavam em oferecer instalações que atendessem às necessidades dos seus operários.
Com a publicação da Norma Regulamentadora no 18 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (NR-18), em 1978 e, sobretudo, com a revisão da norma, em 1995, a realidade dos canteiros mudou. Hoje, toda obra deve contar com áreas de vivência que incluam instalações sanitárias, vestiários e refeitórios. Em casos onde seja necessário abrigar os trabalhadores, a obrigatoriedade se estende também à criação de alojamentos, ambulatórios, lavanderia e áreas de lazer.
Basicamente existem três tipos de alojamentos disponíveis no mercado: metálicos, de concreto celular e de madeira. Os primeiros, normalmente contêineres adaptados, apresentam como principal vantagem a rapidez de montagem e desmontagem. No entanto, necessitam de cuidados extras para garantir conforto termoacústico, proteção contra riscos de choque elétrico, aterramento elétrico adequado e ainda estarem livres de riscos químicos, biológicos e físicos. Já os alojamentos executados em concreto celular autoclavado podem ser aplicados em obras como opção aos contêineres metálicos e às estruturas de madeira. São compostos por módulos interligados a perfis metálicos e permitem resistência às intempéries e à agressão de fogo e praga satisfatória, já que o concreto celular é composto por elementos inertes e inorgânicos.
Por fim, os alojamentos fixos de madeira são particularmente indicados para obras de grande porte, com cronogramas maiores (que permitam a execução dessa estrutura) e que necessitam de condições térmicas melhores e pé-direito mais alto (de 3 m). A solução pode ser usada em qualquer perfil de obra, apresenta boa relação entre custo e benefício e é mais ajustável às condições de cada projeto. Porém, diferentemente dos contêineres metálicos, exige tempo e mão de obra especializada para sua execução. Embora não haja restrições ao seu uso, a implantação das edificações provisórias de madeira pode ser complexa em canteiros alocados em pequenos espaços urbanos (como obras prediais), sendo particularmente recomendada para obras de infraestrutura como barragens, estradas, portos, aeroportos etc.
Componentes do sistema
Os alojamentos fixos de madeira são tradicionalmente compostos por peças produzidas em fábrica (figura 1): painéis internos e externos; tesouras e estruturas de cobertura; painéis hidráulicos; portas e janelas.
Todos os componentes do sistema, com exceção da fundação, são produzidos com madeira de reflorestamento (pínus ou eucalipto), seca e autoclavada, evitando a infestação de fungos e insetos. Os painéis de fechamento são entregues com dimensões especificadas em projeto, também em madeira (pínus ou eucalipto). A cobertura pode ser executada com telhas de fibrocimento, cerâmicas ou metálicas e o piso, de cimento queimado com ou sem revestimento cerâmico aplicado.
A fundação em baldrame de bloco de concreto no contorno do prédio permite que todo o peso da cobertura e da estrutura seja apoiado no perímetro externo, permitindo maior flexibilidade de layout interno às edificações. Com essa solução construtiva, é possível erguer salões amplos, ora destinados a refeitórios, ora a escritórios, por exemplo.
Dimensionamento
A quantidade de pessoas envolvidas e o prazo de utilização do espaço ao longo da obra são informações fundamentais para garantir o dimensionamento correto dessas instalações. Com esses dados em mãos, será possível traçar a planta ideal e calcular a estrutura. Geralmente, os projetos são feitos pelas empresas fornecedoras de canteiro, aproveitando o estoque de desenhos de obras anteriores das mesmas construtoras ou executando-os de acordo com projetos fornecidos pelo próprio cliente. As instalações são adquiridas pelas empresas e podem ser desmontadas e transportadas para outras obras. Em alguns casos, são deixadas como equipamento social para a municipalidade.
Equipe de trabalho
Em geral, a equipe de trabalho envolvida na execução das instalações provisórias de madeira é composta por montadores (pedreiros, carpinteiros, encanadores e eletricistas). Seu dimensionamento correto também depende do tamanho da obra. Em condições normais, um funcionário leva quatro horas para montar 1 m² de canteiro. Espaços com 100 m² (mais comuns em obras dentro das cidades) deslocam quatro homens nessa tarefa, enquanto canteiros maiores, com 1.000 m², por exemplo, devem contar com pelo menos 15 homens para realizar o serviço em um prazo de 30 dias.
Procedimento executivo
Materiais e ferramentas
Colher de pedreiro, pá, chave de fenda, martelo, serrote, furadeira e aparafusadeira portáteis.
EPIs
Protetor solar, capacete, óculos, protetor auricular, botas, uniforme, cinto de segurança, luvas de algodão e luvas de látex.
Condições do local
O terreno deve estar nivelado, seco e apresentar pontos de água e de luz.
Etapas de execução
Com o terreno plano e seco, o primeiro passo é fazer a locação do canteiro no terreno, como mostra a figura 2. Uma vala é escavada no perímetro externo à edificação para receber a fundação direta em baldrame de blocos de concreto.
Os fechamentos externos são fixados com pregos a uma cinta de madeira apoiada em todo o perímetro do baldrame, um a um e de acordo com as posições indicadas em projeto. Os painéis-portas já chegam à obra com as portas e seus componentes instalados (figura 3).
Após fixar todos os painéis, o sistema é travado em todo o perímetro superior do edifício com uma cinta de madeira (figura 4).
Depois que as paredes são aprumadas e alinhadas, a estrutura recebe as tesouras de madeira que sustentam a cobertura. A fixação das tesouras na cinta superior também deve ser feita com pregos (figura 5).
As terças devem ser fixadas diretamente sobre as tesouras e, em seguida, a cobertura (que pode ser metálica, de telhas cerâmicas ou de fibrocimento) deve ser apoiada sobre a estrutura.
Com a cobertura finalizada, é possível trabalhar nos acabamentos dentro da edificação. O contrapiso, com 7 cm de espessura, pode ser feito com concreto usinado ou produzido com betoneiras no local da obra. O piso pode ser polido ou ser revestido com placas cerâmicas (figura 6).
Os painéis de forro são fixados diretamente no banzo inferior das tesouras que compõem a cobertura. Podem ser de chapas de OSB, lambril de pínus ou de PVC, sempre de acordo com a solicitação do cliente.
Em seguida, são instaladas as divisórias de acordo com as especificações do projeto e finalizadas as etapas de instalações elétricas e a pintura (figura 7).
Com a edificação pronta e acabada, são instalados os aparelhos sanitários (vasos, lavatórios, papeleiras, porta-toalhas e saboneteiras), aparelhos elétricos (luminárias) e acessórios elétricos (tomadas e interruptores).
Aceitação
Antes de liberar as instalações para uso (figura 8), o engenheiro da obra que contratou o serviço deve fazer um checklist verificando os seguintes pontos:
- Se as dimensões do ambiente atendem ao projeto;
- Se os pontos de hidráulica e elétrica estão funcionando;
- Condições das esquadrias (portas e janelas);
- Condições do piso, forro e pintura.
Esses itens devem ser verificados antes da entrega da chave. Caso haja problemas, em geral, cabe às empresas fornecedoras analisá-los e corrigi-los a partir de uma visita técnica ao local da obra.
Manutenção
A desmontagem das instalações provisórias deve ser feita pela empresa fornecedora. Elas podem ser armazenadas ou levadas diretamente a outras obras, caso haja necessidade de uso imediato. Em casos de armazenagem, os painéis e as demais peças de madeira que compõem o sistema devem ser estocados em local seco, limpo e longe do contato com o solo.
O sistema apresenta vida útil de 20 anos, contanto que sejam tomados alguns cuidados. Os componentes jamais devem receber jatos d'água e devem estar livres do contato com vazamentos. A sua limpeza deve ser feita apenas com panos umedecidos. Após três anos, é recomendável pintá-los externamente com tinta esmalte, a fim de aumentar a proteção contra a ação de intempéries.
Normas técnicas
As instalações provisórias devem atender à risca a Norma Regulamentadora no 18 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (NR-18), do Ministério do Trabalho e Emprego que estabelece, entre outros itens, requisitos mínimos para alojamentos, refeitórios e escritórios provisórios, especificando tamanho, número de janelas, altura do pé-direito, dimensão dos móveis internos, condições de ventilação e iluminação etc. Vale observar que o espaço dentro do alojamento tem de ser adequado ao número de trabalhadores que serão alojados, tanto na área de convivência quanto no pé-direito, que tem de ter, no mínimo, 3 m.
A norma também proíbe que os alojamentos sejam construídos em porões ou subsolos, locais com pouca ventilação e problemas de umidade. A ventilação deve ser de, no mínimo, a fração de um décimo do piso - se o piso for de 30 m², por exemplo, a ventilação deve ser de 3 m², no mínimo. O alojamento deve fazer parte dos projetos de instalações elétricas provisórias da obra, devendo, inclusive, ter aterramento. As cozinhas dentro do alojamento estão proibidas, justamente por trazerem riscos de incêndio.
Além da NR-18, outros textos também balizam o sistema. São eles:
- Norma Regulamentadora no 6 - Equipamentos de Proteção Individual - EPI
- Norma Regulamentadora no 23 - Proteção contra Incêndios
- Norma Regulamentadora no 24 - Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho
- Norma Regulamentadora no 25 - Resíduos Industriais
- Norma Regulamentadora no 26 - Sinalização de Segurança
- Norma Regulamentadora no 35 - Trabalho em Altura
- NBR 12.284:1991 - Áreas de Vivência em Canteiros de Obras.
Redação: Gisele Cichinelli