Carro velho foi transformado com as cores da
polícia e giroflex.
Comerciante coloca veículo próximo a vicinal e ajuda a diminuir acidentes.
Marcos LavezoDo G1 Rio Preto e
Araçatuba.
Hebert
Mequi com o Fusca pintado com cores do carro da polícia: reduziu acidentes
(Foto: Marcos Lavezo/G1).
Morador em uma perigosa
estrada vicinal entre os municípios de Votuporanga (SP) e Álvares Florence
(SP), o comerciante Hebert Mequi, de 53 anos, testemunhou vários acidentes em
uma das curvas mais sinuosas da via, que fica em frente à casa dele. Para
tentar diminuir as batidas, ele teve uma ideia curiosa: pintou um Fusca com as
cores do carro da Polícia Militar, colocou um 'giroflex' e deixou na entrada de
sua propriedade. Ao avistarem o "possível carro de polícia", os
motoristas reduzem a velocidade, o que fez com que o número de acidentes no
trecho caísse.
Toda noite, quando Hebert
chega em casa do serviço ele liga o giroflex e só desliga na manhã seguinte,
quando sai novamente para trabalhar. Com isso, segundo ele, o motorista que
passa desavisado pelo local toma mais cuidado por achar que é um carro da
polícia ou dos bombeiros. “É um local que foi asfaltado há algum tempo e tem
dois pesqueiros na região, então o pessoal abusa muito. Já vi muitos acidentes
nesta curva, foi quando tive a ideia de pegar o Fusca e fazer este
experimento”, afirma Mequi.
Vi muitos acidentes nesta
curva, foi quando tive a ideia de pegar o Fusca e fazer o experimento".
Hebert Mequi, comerciante.
O Fusca, ano de 1979, era da
cunhada de Mequi, que quando ficou sabendo da ideia, doou o carro para ele.
Depois de uma semana e R$ 500 investidos na pintura, o carro já estava pronto
para ajudar a evitar acidentes. Como não pode colocá-lo às margens da rodovia,
até para não provocar um acidente, ele deixa dentro da sua propriedade rural,
mas bem próximo da estrada. “É uma estrada muito perigosa, quando era de terra
o pessoal vinha com cuidado, mas depois ficou complicado. Até eu tinha receio
de sair de casa. Em uma noite chegou a ter três acidentes nesta mesma curva”,
diz o comerciante.
A propriedade é da família de
Mequi há mais de 30 anos e ele mora no local há três. Apesar de não ter uma
estatística oficial, segundo o comerciante, quando a estrada passou a ser
asfaltada aconteciam de quatro a cinco acidentes por semana. E agora, há seis
meses com o Fusca como guardião do local, houve apenas quatro batidas. “Os
motoristas desavisados passam e quando olham o giroflex diminuem a velocidade.
Já fui vigilante da Polícia Rodoviária e, como moro no local e presenciei
vários acidentes, senti que tinha de fazer algo para deixar este trecho mais
seguro”, afirma o comerciante.
A prefeitura de Votuporanga também
tomou medidas para diminuir o número de acidentes no local e melhorou a
sinalização, além de colocar sonorizadores nos dois lados da curva. Com a ação
de Mequi, o Fusca ficou famoso na cidade e as pessoas vão até o local apenas
para conhecer o veículo. O comerciante já pensa até em retocar a pintura do
veículo e trocar o giroflex por um melhor, mas sem tirá-lo do local. “Policiais
vieram aqui conhecer o veículo e acharam muito boa a ideia porque é uma maneira
de colaborar com o trabalho deles. Mas eles falaram que não posso, de jeito
nenhum, sair dirigindo o carro pela cidade. Mas também, acho que a única coisa
que funciona nele é a bateria e as luzes”, afirma o comerciante.
Carinho especial
Mequi afirma que tem um carinho especial pelo local onde mora, já que a casa está na família há mais de 30 anos, mas também pela vicinal que liga Votuporanga a Álvares Florence. A estrada leva o nome do filho dele, Hebert Vinícius Mequi, que morreu em 1997 em um acidente de carro, quando tinha 12 anos. “O acidente não foi nesta vicinal onde moro, foi em outro lugar. Um vereador da cidade quis homenagear o meu filho e colocaram o nome dele. Foi um acidente triste, é uma homenagem que ninguém gostaria de receber, mas como tem coisas que é de Deus, fiquei muito orgulhoso da homenagem”, conta.
O ponto virou referência para
quem anda pela aquela região da cidade e, segundo Mequi, quando alguém tem de
passar pelo local sempre pergunta se “é antes ou depois do Fusca policial”. Mas
o mais importante para ele é que o número de acidentes diminuiu na curva. “Esta
era a minha intenção, tentar ajudar de algum jeito. Sei como é perder alguém da
família em um acidente de trânsito por isso foi a forma que achei de prevenir
isso”, explica Mequi.
Trânsito
Segundo o Código Brasileiro de Trânsito, somente veículos de urgência, como polícia, ambulâncias e Corpo de Bombeiros, podem ter o giroflex. Se um carro comum for flagrado com o sistema, a infração é considerada grave e o motorista perde cinco pontos na carteira de habilitação e recebe multa de R$ 127. O comerciante também poderia ser multado no mesmo valor pela mudança da cor do veículo, que originalmente era branco. O motorista que quiser mudar a cor do veículo tem de pedir autorização do delegado de trânsito e seguir trâmites legais. "Como o veículo está na casa dele e ele não sai com o veículo, não há irregularidade. Mas caso ele ande na rua com este carro pode ser multado. Sobre a pintura do carro, nenhum delegado de trânsito iria autorizar ele mudar as cores do carro usando as cores da polícia", afirma o capitão da Polícia Militar Edson Fávero.
Fusca
fica na casa de Hebert, virado para a vicinal para 'alertar' motoristas (Foto:
Marcos Lavezo / G1)
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