Por Julia Moióli
O
conceito de sustentabilidade ganhou tanta força no mundo dos negócios nos
últimos anos que agora também funciona como referência quando o assunto é saúde
mental dos trabalhadores. Trata-se da chamada sustentabilidade emocional: as
empresas perceberam que, assim como investem na gestão consciente e responsável
dos recursos naturais, precisam promover o equilíbrio emocional de suas equipes
sob o risco de perder capital humano no futuro.
Os
dados nacionais sobre saúde mental reforçam a importância da criação de
ambienteis de trabalho mais sustentáveis emocionalmente. Uma pesquisa de 2019
da International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR), por
exemplo, estima que 32% da população economicamente ativa sofra de sintomas de
burnout ("estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso",
de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS)). Esse número coloca o
Brasil na primeira posição em uma lista de oito países, incluindo alguns em que
a cultura de dedicação ao trabalho é robusta, como Estados Unidos, Índia e
Singapura.
Já
a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho (órgão do governo federal),
contabilizou no ano de 2020 quase 600 mil afastamentos por transtornos mentais
e comportamentais no país - 26% a mais do que no ano anterior.
Para
Mariana Kartalian, head de recursos humanos da 3M, "Não existe negócio se
não tivermos pessoas. Se elas não estiverem bem, não darão seu melhor no dia a
dia."
"O
fato é que não existe negócio se não tivermos pessoas", diz Mariana
Kartalian, head de recursos humanos da 3M. "Se elas não estiverem bem, não
darão seu melhor no dia a dia, e, mesmo que em um primeiro momento a companhia
não se sinta afetada, uma hora a casa vai ruir porque isso não é
sustentável."
Por
isso, empresas que enxergam a importância do tema abrem cada vez mais espaço à
criação de programas que abordem o tema de ponta a ponta, ou seja, da prevenção
ao tratamento. De acordo com a pesquisa FIA Employee Experience (FEEx), entre
as empresas consideradas lugares incríveis para trabalhar no país, 79%
organizam palestras sobre saúde mental, 42% oferecem apoio de psicólogos
pertencentes ao quadro da empresa, 46% contratam empresas especializadas na
área de psicologia, 58% fazem atendimento pela equipe de RH, 34% treinam os
líderes para identificar problemas em suas equipes e 39% realizam monitoramento
periódico ativo dos funcionários. Entre as empresas não classificadas, esses
números caem para 36%, 38%, 16%, 35%, 11% e 10% respectivamente.
Ações
concretas
No
final de 2018, quando o grupo de segurança Prosegur passou a mapear e a
desenhar a jornada de seus colaboradores no mundo inteiro, uma questão apareceu
de forma recorrente nos levantamentos da filial brasileira: o estresse de se
trabalhar com segurança (especialmente em um país com alta taxa de
criminalidade).
Para
contribuir com a saúde mental dos funcionários, a empresa criou por aqui um
programa para abordar o tema junto com aspectos físicos, financeiros e sociais
- e veio a calhar durante a pandemia de covid-19, que tornou o problema ainda
mais evidente.
As
lideranças foram orientadas a dar alertas quando observassem questões de saúde
mental, e um profissional de psicologia convidava o funcionário a aderir de
maneira voluntária às ações. No final de 2021, o programa foi ampliado e se
tornou global (a Prosegur está presente em 26 países e conta com 150 mil
colaboradores). É o Pro360, que inclui ainda o pilar da nutrição e promove de
atendimento psicológico a clubes de corrida e atividades culturais e
voluntárias.
Para
Marcelo Rucker, diretor de RH da Prosegur no Brasil, "precisamos fugir da
falácia de que 'ser profissional' é esquecer qualquer outro problema ao entrar
na empresa para trabalhar."
"A
adesão foi excepcional porque as pessoas de fato precisavam desse apoio e não
tinham a quem recorrer", conta Marcelo Rucker, diretor de RH da Prosegur
no Brasil. O gestor acredita que a pandemia demarcou um novo posicionamento da
área de recursos humanos sobre o assunto. "Precisamos fugir da falácia de
que 'ser profissional' é esquecer qualquer outro problema ao entrar na empresa
para trabalhar, porque isso não existe."
"Vivenciamos
uma mudança na imagem do profissional: ninguém é 'inquebrável', somos todos
vulneráveis", concorda a head de RH da 3M Mariana Kartalian. "Está
tudo bem não estar tudo bem, e nós, como empresa, temos o papel de dar o
suporte necessário para que os funcionários lidem com problemas de saúde
mental."
Na
empresa, o programa de saúde mental se chama Juntos e reúne ações como
atendimento psicológico online e suporte para funcionários e dependentes,
assistentes sociais alocadas nas quatro fábricas e rodas de conversa semanais.
Nesses encontros, os colaboradores compartilham problemas domésticos e
profissionais e também trazem ideias de como solucioná-los.
Outras
apostas da 3M são ações e prevenção a assédio e compliance, grupos de afinidade
que pensam em estratégias de equidade, diversidade e inclusão e o programa
global "Work your Way" (em português, "trabalhe do seu
jeito"), pelo qual funcionários administrativos tomam a própria decisão
sobre seu modo de trabalho (remoto, híbrido ou presencial) de acordo com sua descrição
de cargo, responsabilidades e a maneira como se sentem mais produtivo.
Além
de desenvolver programas específicos para promover a saúde mental, os
profissionais entrevistados para esta matéria também destacaram a importância
de se estimular uma cultura interna de respeito e de preparar a liderança para
incentivar isso (além de identificar problemas relacionados). É nisso que
apostam a fabricante de embalagens de aço Brasilata e a empresa de saneamento
General Water.
Na
Brasilata, que no ano passado foi considerada um Lugar Incrível para Trabalhar
entre empresas de médio porte pela FEEx, os funcionários confirmam por
pesquisas internas que o respeito pela jornada diária, sem sobrecarga de
trabalho, e a cultura horizontalizada da empresa, com acesso a profissionais de
qualquer nível hierárquico, são fatores importantes para evitar estresse. Por
isso, a Brasilata investe em treinamentos de soft skills para a liderança.
"Buscamos sempre gestores mais empáticos, que saibam ouvir e responder e
estejam mais atentos às questões emocionais dos liderados", diz Juliana
Cordeiro, coordenadora de RH.
Na
General Water, que atua em um setor majoritariamente masculino, a escolhida
para liderar a área de recursos humanos foi uma mulher (e mãe). Desde que
assumiu o cargo, a diretora Nataska Schincariol centra esforços na formação de
uma rede de apoio interna.
A
General Water, da diretora de RH Nataska Schincariol a formação de uma rede de
apoio interna tem um enorme peso no equilíbrio emocional dos funcionários.
Para ela, agir em problemas sociais com ações práticas, como política de empréstimo a juros zero, subsídio e financiamento de cursos técnicos e superiores, possibilidade de jornada reduzida para mães no primeiro ano de vida dos filhos e amparo para mulheres vítimas de violência doméstica, também tem um enorme peso no equilíbrio emocional dos funcionários.
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