Beto Soares | Estúdio Boom
Data: 09/01/2014 / Fonte: Revista
Proteção
Ir além da graduação formal,
qualificar-se e fazer frente às demandas cada vez mais exigentes do mercado.
Estas são as intenções de grande parte dos profissionais que atuam no setor de
Saúde e Segurança do Trabalho. Porém, a vontade é confrontada com restrições
como a ausência de cursos fora do eixo das grandes capitais e a oferta reduzida
de graduação, pós-graduação, especialização ou extensão de qualidade
assegurada.
Para compensar as deficiências,
entidades de classe procuram promover ou pelo menos apoiar uma agenda de cursos
e eventos voltados tanto para seus membros como para outros segmentos, enquanto
gestionam junto aos órgãos competentes a melhoria da formação dos cursos
oficiais.
A Fenatest (Federação Nacional dos
Técnicos de Segurança no Trabalho) está sugerindo um exame de proficiência para
auferir a qualidade dos cursos; a Anamt (Associação Nacional dos Médicos do
Trabalho) está reorganizando o seu Centro de Estudos Avançados em Medicina do
Trabalho devido ao processo de revisão e atualização das competências básicas
requeridas para o exercício da profissão, e a Anest (Associação Nacional dos
Engenheiros de Segurança do Trabalho) está aguardando a audiência pública da
Câmara de Educação Superior do MEC sobre o pedido de alteração da grade curricular
do curso de pós-graduação de Engenharia de Segurança do Trabalho.
Em paralelo, instituições de ensino
buscam oferecer a qualificação necessária para ampliar os horizontes dos
profissionais quanto à sua qualificação. Seja com métodos presenciais ou à distância,
o objetivo é oferecer conteúdo que atenda às novas demandas por mais
conhecimento. Porém, há sempre que se ter cuidado na escolha, informando-se
para que o currículo, estrutura e corpo docente estejam dentro dos padrões de
qualidade e o investimento possa dar o retorno desejado.
A qualificação dos profissionais de
Segurança do Trabalho está entre as maiores preocupações do presidente da
Fenatest (Federação Nacional dos Técnicos de Segurança do Trabalho), Armando
Henrique, que não esconde sua indignação já desde a formação do técnico.
Segundo ele, este profissional tem frequentado cursos de qualidade duvidosa,
cuja quantidade supera a demanda em um mercado que não cresce e que virou um
grande negócio.
Para mudar este quadro, o dirigente
sugere a abertura de um exame de proficiência, mesmo não obrigatório, para
auferir a qualidade dos cursos, mesmo sem a concordância do MEC (Ministério da
Educação e Cultura). A avaliação seria feita com a parceria dos sindicatos
locais, Ministério do Trabalho, Fundacentro e Conselhos Regionais e Federais de
Educação. Segundo ele, é questionável a qualificação do corpo docente, que
mesmo com títulos de formação teórica, precisa ter sincronia com as atividades
ligadas ao exercício da profissão.
"Ele vai para o canteiro de obras
com um livro na mão, sem ter tido contato com a realidade", critica.
Segundo ele, é condenável uma escola que não tenha laboratório. "Só este
fator eliminaria 50% das escolas. Porém, os Conselhos Estaduais mal
fiscalizam", acusa. Outra questão que inquieta a entidade são os estágios,
cuja carga é de 400 horas. Porém, as empresas não abrem espaço e o aluno
precisa simular uma situação real em sala de aula. "Mas com quais critérios esta simulação
é feita"?
Henrique destaca ainda que segmentos como
higiene, ergonomia, avaliação ambiental, assistência social e noções de
relacionamento deveriam ter maior participação nas disciplinas do curso de
Técnico de Segurança do Trabalho. "Uma das grandes falhas dos cursos é não
oferecer aulas sobre relacionamento. Cerca de 70% dos técnicos perdem o emprego
ou seu cliente porque não sabe relacionar-se com os trabalhadores ou com a
direção. É traumático porque o profissional deve ter uma relação vertical e
horizontal nas corporações e para isto ele precisa saber lidar com todos os
públicos", expõe.
Mapeamento
Henrique anuncia que a Fenatest projeta
fazer um mapeamento das escolas que oferecem o curso de Técnico de Segurança do
Trabalho no país, avaliando a sua qualificação e criando uma grade indicativa.
"Os profissionais precisam se manifestar e informar tanto sobre os cursos
bons quanto os ruins". Ele cita o Sistema S (Senac, Senai e Sesi) como
referência de cursos de qualidade, tanto de graduação como de capacitação.
"O Sistema S oferece estrutura, instrumentos e rigidez na formação",
destaca.
O técnico de Segurança do Trabalho,
Cosmo Palásio de Moraes Junior, diz que muitas escolas são frágeis em termos de
equipamentos e meios para práticas e isso em Segurança e Saúde no Trabalho pode
ter implicações bastante complexas. Há também a pouca valorização aos que
ensinam. "Em muitos casos dar aula é "bico" e quando isso é
tratado deste modo não pode dar bom resultado", opina. Quanto às demandas
atuais, ele salienta que, de certa forma há um atraso na forma como a Segurança
e a Saúde no Trabalho é tratada e o que se ensina está compatível com isso.
Reportagem de Elizabeth Renz
Confira a reportagem completa na edição
de janeiro da Revista Proteção.
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