Ao final da audiência da Comissão de Direitos
Humanos (CDH) que discutiu nesta terça-feira (8) o PDS 43/15, foi aprovado o
pedido de retirada de urgência para a análise dessa proposta pelo plenário do
Senado. O projeto revoga a Norma Regulamentadora Nº 12 do Ministério do
Trabalho, que trata de práticas de segurança no manuseio de máquinas e
equipamentos por parte dos trabalhadores dentro das empresas.
Também foi aprovado o pedido para que o Plenário
realize uma Sessão Temática sobre a proposta, e a participação de senadores no
Grupo Tripartite do Ministério do Trabalho. De acordo com o presidente da
Comissão, Paulo Paim (PT-RS), deverão se reunir com o Grupo Tripartite os
senadores Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), Douglas Cintra (PTB-PE) e ele próprio.
Cunha Lima e Cintra são, respectivamente, o autor e o relator do PDS.
Ainda foi aprovado o pedido para que a Câmara dos
Deputados também retire a urgência de propostas semelhantes naquela Casa.
Cunha Lima
A proposta de retirada da urgência teve o apoio de
Cunha Lima e de Douglas Cintra. O senador tucano informou durante a audiência
que foi procurado, ainda no ano passado, por setores empresariais interessados
em revogar a NR 12.
— Essa Norma é um avanço, mas nossa missão aqui é
ouvir todo mundo, numa sociedade que é complexa. Estou feliz em ter aberto este
debate.
Setores empresariais, desde microempresas a grandes
grupos, reclamam que a norma, no seu todo, seria "inexequível".
Antonio Carlos Henrique, presidente do Sindicato das Indústrias da Panificação
em Santo André (SP), afirma que todo o setor no país "quebraria" se
fosse cumpri-la totalmente.
Ele e outros empresários endossaram Cunha Lima,
afirmando que estão abertos a negociar aperfeiçoamentos na norma. A mesma
posição foi apresentada por Rômulo Machado, do Ministério do Trabalho.
— Só é errado querer revogar a NR 12 como um todo.
Não é com um passe de mágica que vamos resolver esta situação — acredita.
Ele garantiu que o Ministério continua trabalhando
por meio da Comissão Tripartite Permanente, com prazos definidos inclusive para
outubro, e acha positivo o Senado participar.
O técnico do Ministério apresentou números sobre
acidentes em nosso país envolvendo máquinas e equipamentos, que considera
"estarrecedores".
— Somente entre 2011 e 2013, 12 trabalhadores
por dia em média foram amputados. No total foram 13.724 amputados, é um número
assustador. E a isto se somam 601 mortos, é quase um óbito por dia útil de
trabalho — informou.
Machado disse ainda que, entre 2011 e 2013,
ocorreram 221.843 acidentes, totalizando uma média de 270 fraturados por
semana.
Em busca de aperfeiçoamentos
Cunha Lima elogiou o Ministério do Trabalho pela
disposição em negociar. Porém, ele criticou a acusação da presidente do
Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais (Sinait), Rosa Maria Campos, de que o
Senado poderia se curvar a um "novo modelo que seria construído sobre o
sangue dos trabalhadores".
— Infelizmente no mundo real há sempre uma
diferença entre o que se pretende com uma norma e a sua aplicação na prática
— diz.
Como prova de seu compromisso com a segurança no
trabalho, informou que sua emenda de bancada ao Orçamento de 2016 foi
justamente a construção de uma nova sede para o Ministério Público do Trabalho
em Campina Grande.
O senador disse ainda que guarda "com
carinho" até hoje o diploma que recebeu do Departamento Intersindical de
Assessoria Parlamentar (Diap) ao final dos trabalhos da Constituinte de 1988,
de que seria um parlamentar compromissado com a classe trabalhadora.
Mas considera também que seria um
"preconceito" rejeitar sugestões apenas por virem de setores como a
Confederação Nacional da Indústria.
— Tenho certeza que todos nós aqui queremos um
setor produtivo forte. Eu ouvi diversos relatos sobre máquinas que foram
importadas da Suíça, da Alemanha e que ficam paradas aqui por não se adaptarem
à nossa legislação — disse.
Já Douglas Cintra informou que se interessou por
rever a NR 12, por ser esse um pleito do pólo de moda e confecção dentro de seu
Estado.
A posição de Paim
O presidente da CDH informou que irá se engajar na
Comissão Tripartite, porém disse ser "uma audácia inacreditável"
revogar toda a NR 12.
— É uma insanidade, uma agressão aos trabalhadores,
algo que comparo à liberalização das terceirizações para as atividades-fim das
empresas — acredita.
O senador ainda citou dados da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) e da Previdência Social, que demonstram que o
Brasil é o quarto país no mundo em número de mortes e acidentes no trabalho. Só
em 2013, foram cerca de 2.800 mortos.
— E ainda assim querem diminuir a proteção que
existe. É desumano, e temos que resistir a essa onda conservadora.
Paim conclamou algumas das entidades presentes à
audiência, como a Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho
(Anamatra), a Nova Central Sindical e o Ministério Público do Trabalho, entre
outras, a se mobilizarem, pois uma movimentação de mesmo teor estaria ocorrendo
na Câmara dos Deputados.
— Lá tudo é possível, mas aqui no Senado não
podemos nos balizar dessa forma — afirma.
Paim e alguns dos participantes da audiência, como
o juiz Luiz Colussi, da Anamatra, e Carlos Eduardo Lima, da Associação Nacional
dos Procuradores do Trabalho, também discordam do argumento de que a revogação
da norma seria necessária, pois as empresas brasileiras estariam perdendo
competitividade.
Também refutam o argumento de que a NR 12 seria
inconstitucional. Para eles, a norma consolida na prática regulamentações
obrigatórias para o país, devido a acordos com a Organização Internacional do
Trabalho (OIT), dispositivos constitucionais e previsões legais.
Sindicalistas reagem
Outros sindicalistas também participaram da
audiência. Para Rosa Maria Campos, do Sinait, revogar a NR 12 é que seria
inconstitucional, pois entre outros pontos feriria acordos internacionais
assinados pelo Brasil.
Ela ainda crê que tal movimentação faz parte de uma
ampla articulação visando a retirada de direitos da classe trabalhadora, por
meio do que vê como um predomínio dessa visão hoje no Congresso.
— Mas vamos continuar fiscalizando, mesmo que
revoguem essa norma. A Constituição está ao nosso lado — garante.
Francisco Pereira, da União Geral dos
Trabalhadores, afirma "estranhar" a articulação que percebe nos meios
patronais contra as comissões Tripartite do Ministério do Trabalho, que seria o
verdadeiro alvo desses setores.
— Estão começando com a NR 12, mas na Câmara
já há questionamentos em relação a diversas outras normas — informou ele, para
quem "modernizante" seria ampliar os direitos dos trabalhadores, não
suprimi-los.
Luís Carlos Oliveira, da Força Sindical, por sua
vez, garante que nunca viu uma empresa quebrar por cumprir normas de segurança,
"e não será a NR 12 que vai fazer isso".
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante
citação da Agência Senado)
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