Fiscal mede ruído emitido por ônibus (Foto: Werther Santana/AE) |
Engana-se
quem pensa que o maior mal a que estão sujeitos os motoristas de ônibus é o
stress causado pelo trânsito. Uma pesquisa feita pelo Ministério Público do
Distrito Federal mostrou que 45% dos cerca de 15 mil motoristas e cobradores do
transporte público da capital federal apresentavam perda auditiva. O motivo é o
alto barulho do motor que fica na frente - ao lado do motorista - de 98% dos
ônibus que transitam pela cidade.
Além
do barulho, o motor tem vibrações e emana muito calor, o que pode prejudicar a
saúde dos rodoviários, que ainda enfrentam o barulho do trânsito. Nos últimos 11 anos, quase cinco mil
rodoviários pediram licença do trabalho e ficaram mais de dois milhões de dias
sem trabalhar devido à perda crescente de audição; alguns até se aposentaram
por invalidez.
A
exemplo da capital federal, outras cidades estão em alerta para o problema,
como Rio de Janeiro, Recife e São Paulo, onde, inclusive, foi aprovado
recentemente pela Assembleia Legislativa um projeto de lei que proíbe a
aquisição de ônibus com motor dianteiro. Na capital pernambucana, também foram
constatados problemas audiológicos em motoristas de ônibus, por meio de um
estudo que mostrou que a grande maioria dos coletivos transitava com ruído
acima do permitido.
A
PAINPSE (Perda Auditiva Induzida por Níveis de Pressão Sonora Elevados) é um
mal que pode atingir todos os trabalhadores expostos a sons acima de 80
decibéis, como é o caso dos rodoviários.
"São
comuns os casos de pessoas que desencadearam uma perda auditiva por exposição
prolongada ao ruído intenso, por isso é de fundamental importância que haja um
controle rígido quanto às medidas preventivas em relação à saúde
auditiva", alerta a fonoaudióloga Isabela Gomes, da Telex Soluções
Auditivas.
Sem
cuidados preventivos, outros trabalhadores, como guardas de trânsito,
funcionários de fábricas, de gráficas, motoboys, músicos, Djs, operadores de
britadeira, trabalhadores que atuam em pistas de aeroportos, entre outros,
também podem sofrer perda irreversível de audição.
Aqueles
que trabalham em indústrias, por exemplo, têm que ser submetidos a exames de
audiometria de seis em seis meses e, quando constatada alguma lesão, devem se
afastar. Já os músicos que realizam shows apresentam danos à audição com certa
frequência, pois o sistema de som pode chegar a mais de 130 decibéis. No caso
dos operadores de telemarketing, o uso de fone de ouvido unilateral pode trazer
sérios danos para a audição.
"O
operador de telemarketing precisa fazer sempre o revezamento do fone, do ouvido
direito para o esquerdo; dar pausas de pelo menos 10 minutos para cada hora de
trabalho, manter o volume baixo, em torno de 60dB, nível normal de uma
conversa, e realizar exames de audiometria anualmente para checar a audição", orienta a fonoaudióloga da
Telex.
Para
os trabalhadores expostos a ruídos intensos, a fonoaudióloga recomenda o uso de
protetores auriculares, que reduzem o volume excessivo, propiciando uma audição
mais confortável do som ambiente. Os protetores da Telex, por exemplo, são
feitos em acrílico e moldados de acordo com a anatomia do ouvido de cada
pessoa. Existem dois tipos: o que diminui o barulho ambiente em 15 decibéis e
outro que reduz o ruído em 25 decibéis.
No
entanto, quando já existe perda de audição, a solução pode ser o uso de
aparelho auditivo. "Quanto mais rápido o problema for detectado e se optar
pelo aparelho, melhor será para o indivíduo sentir-se integrado à sociedade,
participando normalmente das conversas com amigos e parentes. A audição é
fundamental em nossa vida", conclui Isabela Gomes.
De
acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os ruídos são a terceira
principal causa de poluição mundial. A entidade registrou um aumento de 15% de
surdez entre a população do planeta.
Fonte:
Centro de Mídia Brasil-Israel – Cembri.
Revista
Proteção
Ônibus da capital produzem barulho em excesso
Cresceu cinco vezes o número de ônibus da capital reprovados por serem muito barulhentos. Estatísticas da São Paulo Transporte (SPTrans) revelam que, devido ao problema, foram lacrados 941 coletivos, ou 6% da frota. Em todo o ano passado, quando começou a intensificação da vistoria, foram 192. Mesmo com o aumento, passageiros e vizinhos de pontos movimentados ainda se queixam do excesso de ruído dos veículos.
Exemplo de como os ônibus desregulados podem ser um incômodo, um dos veículos interditados neste ano gerava um ronco externo de 110 decibéis. Em tal nível, a exposição por mais de oito minutos já pode levar a lesões auditivas, dizem médicos. Ouvir de perto semelhante barulhão equivale a ficar na frente da caixa de som em um show de rock.
O limite permitido nesse caso é de 92 decibéis para coletivos com motor na frente e 98 nos que os trazem atrás. Dentro do ônibus, o máximo de ruído– para evitar danos ao motorista e aos usuários – deve ser de 84,9 decibéis. O limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para os ouvidos é de até 50 decibéis.
O desconforto maior depende do ponto de vista, ou melhor, de audição. Quem anda a pé, mora ou trabalha perto de trechos onde os ônibus tem que forçar muito para acelerar, como subidas, acha que coletivos com motor na traseira são os mais ruidosos.
É o caso do balconista de farmácia Anderson Leite, de 30 anos, que convive todo dia com os sons dos motores do transporte público na Rua Teodoro Sampaio, zona oeste. “Eles conseguem ser bem barulhentos. Pelo telefone, alguns fregueses até se irritam, porque a gente precisa perguntar três vezes a mesma coisa.”
O administrador Reginaldo Augusto da Silva, de 45 anos, tem um motivo especial para reclamar do barulho. Com quase 100% da visão comprometida por uma doença degenerativa, considera os ônibus um desafio para quem se guia pela audição. “Quando tem ruído, você tem que redobrar a atenção. Isso gera muito estresse e dor de cabeça”, diz Silva. “Acho que os ônibus deveriam ser obrigados a colocar silenciadores que funcionem nos seus escapamentos.”
E os fortes ruídos, mesmo se forem breves, causam mais do que irritação. Segundo o otorrinolaringologista Ítalo Medeiros, do Hospital das Clínicas, a exposição a barulhos muito altos por alguns minutos pode ocasionar danos irreversíveis aos ouvidos. “Dependendo da intensidade sonora e da predisposição da pessoa, pode haver lesão. Quanto maior a intensidade, menor deve ser o tempo de exposição”, explica.
A SPTrans informou que nos nove primeiros meses do ano, 8.806 ônibus foram inspecionados no quesito poluição sonora. Em caso de lacração por descumprir os limites estabelecidos, o veículo deve ser consertado e passar por nova inspeção. Ele não pode prestar serviço enquanto o problema não for resolvido. Motores e escapamentos desregulados são a principal causa para o excesso de barulho. A frota da SPTrans era de 15.115 ônibus em setembro.
Por: Caio do Valle e Felipe Tau
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