Brasília - A cada ano, quase 2
milhões de novos casos de leishmaniose são registrados no mundo, segundo
estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, o Ministério da
Saúde estima que quase 3 mil pessoas são contaminadas pela doença anualmente. O
país respondeu por 90% das 600 mil ocorrências registradas em toda a América
Latina entre 1992 e 2011.
A doença, que era restrita às áreas
de floresta e zonas rurais, tem avançado nas cidades, em função dos
desmatamentos e da migração das famílias para os centros urbanos. O mosquito
flebótomo, também conhecido como birigui ou mosquito-palha, busca alimentos
nessas áreas e pica os cachorros, que acabam infectados pelo parasita
leishmânia.
Hoje, há casos da leishmaniose nas 27
unidades da Federação. Os especialistas alertam para a presença da doença em
cidades, como Belo Horizonte, Bauru (SP), municípios do interior paulista e em
Brasília.
Em bairros nobres da capital do país,
por exemplo, o número de animais sacrificados por apresentarem os sintomas da leishmaniose
- como perda de peso, emagrecimento e conjuntivite - chama a atenção dos
moradores.
“Perdi dois cachorros. Primeiro foi
nossa labrador de pouco mais de 1 ano, que sempre foi muito ativa e nos chamou
a atenção quando só ficava recolhida no canto e com conjuntivite. Em seguida,
foi a poodle, que era criada dentro de casa, por isso duvidamos do diagnóstico
e repetimos várias vezes até não ser mais possível descartar”, contou a
funcionária pública Virgínia Oliveira.
Segundo ela, a partir desse dia, a
família adotou novos hábitos. “Isso deixou todos muito tristes em casa. Hoje,
todos os dias tiramos todas as frutas que caem no jardim, limpamos as fezes dos
cachorros duas vezes por dia e plantamos várias mudas de citronela ao redor da
casa”, contou.
A pedagoga Caren Queiroz também ficou
sem alternativas quando o cachorro que a filha ganhou no Dia da Criança foi
diagnosticado com a doença. “No começo, não sabíamos o que era. Ele teve umas
feridas na pele e no nariz. Uma veterinária descuidada foi negligente e, com o
exame de sangue em mãos, não notou que o teste para a doença havia dado
positivo”, relatou.
“Quando um outro veterinário
constatou que era um caso de leishmaniose, foi um dilema. Procurei todas as
possibilidades para não ter de sacrificá-lo, mas não houve alternativa”,
completou.
Mesmo polêmica, a decisão pela
eutanásia animal ainda é a mais adotada pelos veterinários. Muitos
especialistas no assunto informam que não há tratamento e cura para os animais,
sem colocar os seres humanos em risco. Quando o mosquito pica um cachorro
ou animal silvestre, como raposas e gambás contaminados, transmite o parasita
para as pessoas também por uma picada.
Entre 20 mil e 40 mil pessoas morrem,
por ano, no mundo, vítimas da leishmaniose, estima a OMS. No Brasil,foram mais
de 2,7 mil mortes entre 2000 e 2011. Os maiores índices mortalidade foram
registrados no Pará, no Tocantins, Maranhão, Piauí, Ceará, em São Pualo, na
Bahia e em Minas Gerais.
Os números, no entanto, ainda não
foram suficientes para tirar a leishmaniose da lista de doenças negligenciadas
no mundo. Apesar do tratamento gratuito, a eliminação ou simples redução de
casos no país esbarra em gargalos. O diagnóstico é limitado. Tanto a população
quanto os profissionais de saúde têm dificuldade em identificar os sintomas. No
país, dados de 2011 apontam que a leishmaniose tegumentar americana (cutânea)
atingiu 7,3 mil pessoas na Região Norte, 5,2 mil no Nordeste e 986 no Sudeste.
Carolina Gonçalves - Agência Brasil
Edição: Carolina
Pimentel
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