Vladimir Platonow
Da Agência Brasil, no Rio
Da Agência Brasil, no Rio
A venda de agrotóxicos no Brasil em 2010 teve um aumento de 190% em
comparação a 2009. Isso significa que cada brasileiro consome cerca de cinco
quilos de venenos agrícolas por ano. Os dados fazem parte de um
estudo da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), baseado em informações
disponibilizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O
estudo foi apresentado hoje (16) na Cúpula dos Povos pela médica sanitarista
Lia Giraldo da Silva Augusto, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Ela credita o aumento na venda dos agrotóxicos ao bom momento do mercado agrícola, puxado principalmente por uma forte demanda chinesa. O produto que mais recebe venenos é a soja transgênica, que precisa do glifosato para produzir, em um tipo de “venda casada”, explicou a pesquisadora.
Ela credita o aumento na venda dos agrotóxicos ao bom momento do mercado agrícola, puxado principalmente por uma forte demanda chinesa. O produto que mais recebe venenos é a soja transgênica, que precisa do glifosato para produzir, em um tipo de “venda casada”, explicou a pesquisadora.
“Este ano a Abrasco decidiu construir um dossiê sobre o tema do
agrotóxico e os impactos na saúde e no meio ambiente. O trabalho marca os 40
anos de Estocolmo [primeira conferência das Nações Unidas sobre o meio
ambiente], os 20 anos da Eco92 e os 50 anos do lançamento do livro Primavera
Silenciosa, de Rachel Carson.”
Segundo a médica, o uso de agrotóxicos no Brasil faz parte do modelo produtivo adotado na agricultura nacional.
Segundo a médica, o uso de agrotóxicos no Brasil faz parte do modelo produtivo adotado na agricultura nacional.
“Este modelo da agroindústria é todo sustentado no pacote da revolução
verde, que é baseada em uma agricultura químico-dependente. O agrotóxico é
parte desse modelo. Por causa disso, desde 2008 o Brasil ocupa o primeiro lugar
no consumo de agrotóxicos, segundo dados levantados pela Abrasco na Anvisa.”
Rio+20
O que é?
A Rio+20 é Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável,
ocorre de 13 a 22 de junho, no Rio de Janeiro. Não é uma reunião para discutir
meio ambiente, mas sim como as esferas sociais e ambientais, além da econômica,
também devem ser consideradas no desenvolvimento de um país.
Para tentar explicar melhor o que é Conferência, a ONG Oxfam fez um
diagrama em rosquinha. Ele mostra que a vida humana existe entre um piso e um
teto. O piso é a necessidade social de viver, de ter acesso a alimentação, água
e conforto. Mas o teto é o quanto o ambiente pode fornecer, sem afetar as
gerações futuras. Veja abaixo a imagem e confira o vídeo.
A rosquinha mostra que a vida humana é possível entre o piso das
necessidades sociais e o teto da capacidade do ambiente
Sustentabilidade
A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento
capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade
de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não
esgota os recursos para o futuro. Esta definição surgiu na Comissão Mundial
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Economia verde
A chamada "economia verde" é um dos temas centrais da Rio+20. Contudo,
os países ainda não chegaram a um consenso sobre a melhor definição e alguns
países, inclusive, são contra sua utilização. Mas qual o motivo para tanta
controvérsia sobre o tema?
A definição mais básica da economia verde é a que se opõe à economia
marrom (a atual), ou seja, seria uma economia mais preocupada com a preservação
do ambiente e sem o intenso uso de combustíveis fósseis como carvão e petróleo
que são altamente poluentes.
Mas nada é tão simples quanto parece. Para os países em desenvolvimento,
representados pelo G77+China, dependendo de como a economia verde for definida
no documento final da Rio+20 pode levar a um comprometimento de adesão a
padrões tecnológicos e de condicionantes ao financiamento que eles temem não
conseguir cumprir. E além, acreditam que os países desenvolvidos podem usar
destas regras para criar barreiras a produtos exportados por eles. O que o G77
defende é um desenvolvimento sustentável que leve à erradicação da pobreza e
preservação do meio ambiente, mas sem a obrigação de ser por tecnologias verdes
(que podem ser caras e produzidas apenas pelos países ricos).
Já a crítica mais pesada vem de ONGs, acadêmicos, cientistas e é
compartilhada pelo governo brasileiro: a economia verde se vale do modo de
produção e consumo capitalista, apenas tingindo de verde o que realmente é mais
danoso ao ambiente. Assim, não adianta consumir produtos que gerem menos
prejuízo ao ambiente, mas no ritmo desenfreado de hoje. O fim será o mesmo, só
um pouco adiado.
Por outro lado a questão é: com o empoderamento da população mundial é
normal que a busca por conforto e bens aumente. É certo impedir que um chinês
tenha carro enquanto o americano tem quase mais de um carro por habitante? A
solução seria estimular a mudança do consumo e não só adaptá-lo.
Além disso, outra forte crítica é a mercantilização dos bens naturais.
Uma das ideias da economia verde é precificar o meio ambiente, como por
exemplo, o Brasil receber para manter a Amazônia em pé e com isso garantir a
captura de CO2 e a biodiversidade local. E o mais difícil, descobrir quanto
isso valeria. Para alguns ecologistas, não é entrando no mercado que o ambiente
será preservado.
Os defensores do mercado defendem que a economia verde tem que ser mais
barata do que a marrom para que ela realmente "pegue", já os
ambientalistas defendem a vontade política dos Estados para impor sua adoção. E
a discussão vai longe...
Fora PIB
O PIB (Produto Interno Bruto) é hoje o principal indicador de
desenvolvimento de um país. Quanto maior o PIB, mais desenvolvido ele é,
teoricamente. Para alguns, o PIB for per capita é um indicador ainda melhor.
Mas ideia que ganha fôlego na Rio+20 é a de que o PIB não é suficiente para
medir o desenvolvimento de um país. É necessário envolver também indicadores
sociais e ambientais.
O PIB per capita é um indicador melhor, pois divide a riqueza do país
pelo número de habitantes, mas não mostra desigualdades sociais. Para medir o
desenvolvimento social, o indicador mais utilizado hoje em dia é o IDH (Índice
de Desenvolvimento Humano), mas para o ambiente não há um correspondente.
Um dos objetivos da Rio+20 é trazer um caminho para a criação deste
índice que una as três vertentes e tem sido popularmente conhecido como índice
de felicidade.
Sem protocolos
O objetivo da Rio+20 não é produzir um protocolo ou um documento final
com metas que devem ser aprovadas nos países. Ela terá uma carta de intenções
para os próximos anos, não muito diferente do que foi a ECO92. Lá foram
lançadas Conferências como a do Clima e de Biodiversidade que conseguiram
atingir protocolos, como o de Kyoto (para as emissões de gases do efeito
estufa) e o de Nagoia (para a biodiversidade).
Com o fortalecimento de programa da ONU para o meio ambiente, a
Conferência deve mostrar o caminho para se chegar ao desenvolvimento
sustentável sem metas com números.
ODS
Assim como temos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, com metas
para acabar com a extrema pobreza e a fome, promover a igualdade entre os
sexos, erradicar doenças até 2015, discute-se adotar na Rio+20 os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável. Ele seria baseado em 26 temas e o prazo seria
2030.
Se todos os temas como energia, segurança alimentar, erradicação da
pobreza, água etc. serão abordados e como serão ainda é tema para discussão
durante a Conferência. Espera-se que não se fechem as metas propriamente ditas,
mas que se abra caminho para defini-las.
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